São Paulo, Sexta-feira, 10 de Dezembro de 1999


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CRIME ORGANIZADO
Ex-governador alagoano afirma que legista recebeu R$ 400 mil por trabalho no caso PC
Badan vendeu laudo falso, diz Bulhões

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió


O ex-governador de Alagoas (1991-94) Geraldo Bulhões disse ontem em Maceió à CPI do Narcotráfico que o legista Fortunato Badan Palhares recebeu R$ 400 mil para produzir um laudo falso em 1996 sobre as mortes de Paulo César Farias e Suzana Marcolino. O advogado de Palhares nega a acusação.
Sem apresentar prova, Bulhões fez a declaração depois de o legista George Sanguinetti ter afirmado que ouviu do ex-tenente-coronel da Polícia Militar Manoel Francisco Cavalcante que este foi contratado pelo deputado Augusto Farias (PPB-AL) para matá-lo.
De acordo com deputados do grupo da CPI que investiga o crime organizado em Alagoas, os depoimentos fortalecem a possibilidade de a comissão pedir à Câmara a cassação de Augusto Farias, sob acusação de quebra de decoro parlamentar.
"Encomendar crime é pior do que praticá-lo", disse Éber Silva (PDT-RJ). "Vamos investigar a fundo para, confirmando os fatos, pedirmos a cassação", afirmou Róbson Tuma (PFL-SP).
Manoel Francisco Cavalcante, hoje preso por condenações em processos da "gangue fardada", grupo criminoso integrado por policiais militares, negou que tenha dito a Sanguinetti que Augusto Farias o contratara.
"De um lado, tenho um homem respeitado em todo o país, como Sanguinetti", disse o deputado Lino Rossi (PSDB-MT). "Do outro, um ex-oficial envolvido em crimes", afirmou.
Rossi, Tuma e Silva disseram que os depoimentos mostram, na opinião deles, que o coronel Cavalcante está mentindo.
George Sanguinetti fez duas afirmações principais ao depor:
1) Conforme a Folha antecipou anteontem, disse que o coronel Cavalcante lhe contou ter sido contratado por Augusto Farias para matá-lo.
2) Numa conversa com Geraldo Bulhões, ouviu do ex-governador que Badan Palhares recebeu R$ 400 mil de Augusto Farias para "cometer uma fraude pericial": sustentar que, em 1996, Suzana Marcolino matou PC Farias e se suicidou em seguida. Na exposição à CPI, Sanguinetti mostrou gráficos publicados pela Folha.
Desde 1996 Augusto Farias, irmão de PC, ataca George Sanguinetti porque o legista foi o primeiro perito a discordar da versão de crime passional.
No mês passado, a polícia alagoana indiciou Augusto e oito ex-funcionários de PC por co-autoria nas mortes de Suzana e do ex-tesoureiro de campanha de Fernando Collor.
Os nove indiciados negam participação nas mortes de 1996. Na segunda-feira, Augusto Farias respondeu com risos ao relato sobre a contratação de Manoel Cavalcante para matar Sanguinetti.
A CPI passou a investigar o caso PC por acreditar que Augusto Farias e possíveis "sócios" seus no crime organizado tenham planejado a morte de PC.
Depois de Sanguinetti, o advogado Elias Barros disse que Manoel Cavalcante contou-lhe a mesma versão sobre a suposta "encomenda" de Augusto Farias.
Durante um intervalo, o deputado Lino Rossi afirmou ter ouvido de Cavalcante a confirmação do relato de Sanguinetti e do advogado Barros. "Mas ele está com medo", disse. "Tem tanto medo que não confia em ninguém."
Cavalcante é réu em dois processos em que é acusado de comandar um grupo de pistoleiros, o que ele nega.
Se confirmasse a proposta de Augusto Farias, segundo um advogado do ex-oficial, seria prejudicado nos julgamentos.
Em sessão secreta, numa acareação com George Sanguinetti e Elias Barros, o coronel Cavalcante disse que o legista o procurou para um acordo político.
Se conseguisse a assinatura do ex-oficial num documento sobre a "encomenda", o ex-governador Divaldo Suruagy faria de Sanguinetti o seu candidato a prefeito de Maceió -disse Cavalcante.
Caso Augusto Farias seja cassado, será substituído na Câmara por Suruagy. Sanguinetti e Barros afirmaram que o ex-oficial da PM inventou a história. "O coronel mente", disse Lino Rossi.
Depois, numa acareação com Sanguinetti, Geraldo Bulhões confirmou ter contado ao legista que Badan recebeu R$ 400 mil pelo laudo do caso PC. Disse quem é a sua fonte, mas os deputados não revelaram a identidade.


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