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CRIME ORGANIZADO
Ex-governador alagoano afirma que legista recebeu R$ 400 mil por trabalho no caso PC
Badan vendeu laudo falso, diz Bulhões
ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió
MÁRIO MAGALHÃES
enviado especial a Maceió
O ex-governador
de Alagoas (1991-94) Geraldo Bulhões disse ontem
em Maceió à CPI do
Narcotráfico que o
legista Fortunato Badan Palhares
recebeu R$ 400 mil para produzir
um laudo falso em 1996 sobre as
mortes de Paulo César Farias e
Suzana Marcolino. O advogado
de Palhares nega a acusação.
Sem apresentar prova, Bulhões
fez a declaração depois de o legista George Sanguinetti ter afirmado que ouviu do ex-tenente-coronel da Polícia Militar Manoel
Francisco Cavalcante que este foi
contratado pelo deputado Augusto Farias (PPB-AL) para matá-lo.
De acordo com deputados do
grupo da CPI que investiga o crime organizado em Alagoas, os
depoimentos fortalecem a possibilidade de a comissão pedir à Câmara a cassação de Augusto Farias, sob acusação de quebra de
decoro parlamentar.
"Encomendar crime é pior do
que praticá-lo", disse Éber Silva
(PDT-RJ). "Vamos investigar a
fundo para, confirmando os fatos,
pedirmos a cassação", afirmou
Róbson Tuma (PFL-SP).
Manoel Francisco Cavalcante,
hoje preso por condenações em
processos da "gangue fardada",
grupo criminoso integrado por
policiais militares, negou que tenha dito a Sanguinetti que Augusto Farias o contratara.
"De um lado, tenho um homem
respeitado em todo o país, como
Sanguinetti", disse o deputado Lino Rossi (PSDB-MT). "Do outro,
um ex-oficial envolvido em crimes", afirmou.
Rossi, Tuma e Silva disseram
que os depoimentos mostram, na
opinião deles, que o coronel Cavalcante está mentindo.
George Sanguinetti fez duas
afirmações principais ao depor:
1) Conforme a Folha antecipou
anteontem, disse que o coronel
Cavalcante lhe contou ter sido
contratado por Augusto Farias
para matá-lo.
2) Numa conversa com Geraldo
Bulhões, ouviu do ex-governador
que Badan Palhares recebeu R$
400 mil de Augusto Farias para
"cometer uma fraude pericial":
sustentar que, em 1996, Suzana
Marcolino matou PC Farias e se
suicidou em seguida. Na exposição à CPI, Sanguinetti mostrou
gráficos publicados pela Folha.
Desde 1996 Augusto Farias, irmão de PC, ataca George Sanguinetti porque o legista foi o primeiro perito a discordar da versão de
crime passional.
No mês passado, a polícia alagoana indiciou Augusto e oito ex-funcionários de PC por co-autoria nas mortes de Suzana e do ex-tesoureiro de campanha de Fernando Collor.
Os nove indiciados negam participação nas mortes de 1996. Na
segunda-feira, Augusto Farias
respondeu com risos ao relato sobre a contratação de Manoel Cavalcante para matar Sanguinetti.
A CPI passou a investigar o caso
PC por acreditar que Augusto Farias e possíveis "sócios" seus no
crime organizado tenham planejado a morte de PC.
Depois de Sanguinetti, o advogado Elias Barros disse que Manoel Cavalcante contou-lhe a
mesma versão sobre a suposta
"encomenda" de Augusto Farias.
Durante um intervalo, o deputado Lino Rossi afirmou ter ouvido de Cavalcante a confirmação
do relato de Sanguinetti e do advogado Barros. "Mas ele está com
medo", disse. "Tem tanto medo
que não confia em ninguém."
Cavalcante é réu em dois processos em que é acusado de comandar um grupo de pistoleiros,
o que ele nega.
Se confirmasse a proposta de
Augusto Farias, segundo um advogado do ex-oficial, seria prejudicado nos julgamentos.
Em sessão secreta, numa acareação com George Sanguinetti e
Elias Barros, o coronel Cavalcante
disse que o legista o procurou para um acordo político.
Se conseguisse a assinatura do
ex-oficial num documento sobre
a "encomenda", o ex-governador
Divaldo Suruagy faria de Sanguinetti o seu candidato a prefeito de
Maceió -disse Cavalcante.
Caso Augusto Farias seja cassado, será substituído na Câmara
por Suruagy. Sanguinetti e Barros
afirmaram que o ex-oficial da PM
inventou a história. "O coronel
mente", disse Lino Rossi.
Depois, numa acareação com
Sanguinetti, Geraldo Bulhões
confirmou ter contado ao legista
que Badan recebeu R$ 400 mil pelo laudo do caso PC. Disse quem é
a sua fonte, mas os deputados não
revelaram a identidade.
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