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CASO TRT
Ex-assessor da Presidência reafirma não ter envolvimento com o ex-juiz e diz que prisão pode beneficiar ex-senador Estevão
Justiça deve beneficiar Nicolau, afirma EJ
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S/A
O ex-secretário-geral da Presidência da República Eduardo Jorge Caldas Pereira acredita que o
ex-juiz Nicolau dos Santos Neto
deverá se beneficiar na Justiça pelo fato de ter se entregado à Polícia
Federal. EJ acha que, nesses casos,
a Justiça costuma ser condescendente, favorecendo a quem se entrega. Segundo ele, geralmente, a
Justiça concede liberdade provisória ou prisão domiciliar a quem
deixa de ser fugitivo.
Nesta entrevista, concedida por
telefone, no sábado de manhã, EJ
disse que está absolutamente
tranquilo. "Não tenho nada a temer. Não perdi nem um minuto
do meu sono", afirmou. "Nem
vou ficar nenhuma noite sem dormir". Ele afirmou que não tem nenhum envolvimento no caso do
desvio de recursos da obra do Fórum Trabalhista de São Paulo e
disse que toda sua relação com o
ex-juiz Nicolau já foi esclarecida
nos vários depoimento que concedeu à Justiça e ao Congresso.
EJ acha também que o ex-senador Luiz Estevão também poderá
se beneficiar com a prisão do ex-juiz Nicolau. De acordo com
Eduardo Jorge, dos US$ 8 milhões
encontrados na conta bancária do
ex-juiz, apenas US$ 1 milhão foi
transferido de uma conta identificada como sendo de Luiz Estevão.
"Faltam US$ 7 milhões. Uma parte do dinheiro, portanto, não foi
do Luiz Estevão", diz EJ. "Ele terá
que esclarecer suas fontes de renda."
A ligação de EJ ao caso do desvio de recursos da obra do Fórum
Trabalhista de São Paulo foi levantada na CPI do Judiciário, ao
serem encontradas mais de cem
ligações telefônicas feitas por ele
ao ex-juiz Nicolau dos Santos Neto. Em todos os depoimentos
concedidos até agora, EJ negou
qualquer participação nesse caso.
A seguir, os principais trechos da
entrevista:
Folha - Como o senhor recebeu a
prisão do ex-juiz Nicolau?
Eduardo Jorge - Não tenho nada
a temer. Não tenho nenhuma
preocupação com a prisão do ex-juiz Nicolau. Não perdi nem um
minuto do meu sono com isso. E
nem vou perder noite sem dormir
por causa disso.
Folha - Há possibilidade de ele falar alguma coisa que envolva o senhor?
EJ - Tudo sobre a minha relação
com o juiz Nicolau eu já esclareci
nos meus depoimentos. Não há
nada mais a ser dito. Estou muito
tranquilo.
Folha - O que o senhor acha que
pode ter levado o ex-juiz Nicolau a
se entregar?
EJ - Não faço a menor idéia.
Folha - O senhor acredita que o fato de ele ter se entregado o beneficia?
EJ - A Justiça tem sido condescendente a quem toma atitudes
como essas. Normalmente, em
pouco tempo, os juízes costumam
conceder liberdade provisória ou
prisão domiciliar a quem se entrega. Portanto é bem provável que
ele se beneficie por ter se entregado.
Folha - A situação dele, portanto,
melhora perante a lei?
EJ - Provavelmente, melhora
muito. Ele deixa de ser fugitivo, o
que é uma situação muito melhor.
Folha - O que o senhor acha que o
ex-juiz Nicolau vai fazer?
EJ - Não sei qual será a estratégia
dos advogados dele, mas o ex-juiz
Nicolau agora terá a chance de se
defender, de esclarecer sua participação nos episódios em que ele
é acusado.
Folha - O senhor acha que o fato
de ele não ter sido algemado é um
sinal de que o governo teria negociado sua apresentação?
EJ - Em primeiro lugar, não tenho nenhuma informação sobre
qualquer negociação do governo
com o ex-juiz Nicolau. Agora, não
acho que uma pessoa que se entrega a 48 policiais e entra num
camburão precise ser algemado.
Num caso desses, acho que não há
a menor necessidade de se algemar uma pessoa.
Folha - A prisão do ex-juiz Nicolau
pode complicar ainda mais a vida
do ex-senador Luiz Estevão ?
EJ - Ou não. Acho até que pode
beneficiar a vida dele. Veja bem, a
comissão formada para rastrear
as contas do ex-juiz Nicolau
achou a quantia de US$ 8 milhões
numa conta dele nos Estados Unidos. Desse total, a comissão descobriu que US$ 1 milhão veio de
uma conta do Luiz Estevão. De
onde vieram os outros US$ 7 milhões? Não foi só dinheiro do Luiz
Estevão. O ex-juiz Nicolau deveria
ter outras fontes de renda.
Folha - Quais seriam essas outras
fontes de renda?
EJ - Não sei, ele vai precisar esclarecer essas coisas. O que se
conclui, pelo menos do que foi
noticiado, é que uma parte do dinheiro do ex-juiz Nicolau não
veio do Luiz Estevão. O dinheiro
pode ser de herança ou de qualquer outra fonte, além da obra do
Fórum Trabalhista. Mas, repare,
ninguém prestou muita atenção a
um depoimento de um advogado
dizendo que o ex-juiz Nicolau cobrava para dar algumas sentenças. O depoimento é público e está na Justiça. Quem sabe, podem
estar aí indícios das outras fontes
de renda do ex-juiz Nicolau. É
preciso pesquisar.
Folha - O senhor não teme novos
fatos que possam envolver o ex-senador Luiz Estevão e acabar ligando o senhor ao caso?
EJ - Estou absolutamente tranquilo. Não há nada que me envolva ao ex-juiz Nicolau e ao ex-senador Luiz Estevão. Estou reunindo
todos os documentos que comprovam isso. Portanto não tenho
nada a temer. Vou continuar dormindo tranquilo.
Folha - O senhor já se mudou para
o apartamento do condomínio
Praia Guinle, em São Conrado?
EJ - Já há quase três meses. Mudei-me no dia 1º de outubro. Não
entendo porque só agora esse assunto veio à tona. Todas as minhas assinaturas de jornais e revistas e minhas contas já estão no
novo endereço. Desde setembro,
eu tratei de fazer a troca de endereço das correspondências.
Folha - Quando o senhor comprou
o apartamento?
EJ - Comprei em 1º de janeiro o
apartamento por US$ 600 mil,
com tudo declarado e as fontes de
renda usadas para pagar (na época, o apartamento naquele local
era avaliado em US$ 1 milhão).
Repare, nas declarações de bens
apresentadas pelo prefeito eleito
Cesar Maia, consta que ele comprou um apartamento aqui por
US$ 300 mil. Não faz sentido me
acusarem de subfaturamento ou
de qualquer outra coisa. Eu comprei o apartamento de uma pessoa que adquiriu o imóvel num
leilão judicial. O primeiro comprador tinha obtido um empréstimo do Banco do Brasil para comprar o apartamento e não pagou o
banco. O Banco do Brasil, então,
leiloou o apartamento.
Folha - Por que o senhor demorou
tanto a se mudar?
EJ - O apartamento precisava de
umas reformas. O primeiro dono
tinha destruído o apartamento.
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