São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 2000

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CASO TRT
Suíte foi reservada por homem que pediu discrição sobre o ocupante do quarto, alegando que ele teria encontro extraconjugal
Ex-juiz passa 2 horas em motel de Bagé

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BAGÉ

Os últimos momentos de liberdade do ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, depois de permanecer foragido por 227 dias, foram passados no motel Fliper, localizado à beira da BR-293, em Bagé, no sudoeste gaúcho, perto da fronteira com o Uruguai.
Nicolau chegou ao motel -localizado a 5 km do centro de Bagé- por volta das 14h20 de anteontem e saiu às 16h40, segundo relato da recepcionista e de Airton Jardim Fontes, 47, dono do táxi Palio vermelho que conduziu o ex-juiz ao local. A versão difere da do advogado do ex-juiz, para quem a estada foi de quatro horas.
Sem falar com ninguém, o ex-juiz consumiu, durante o período que permaneceu no motel, uma bebida energética Red Bull e uma água mineral que estavam no frigobar da suíte número 1.
A bebida Red Bull contém uma advertência em seu rótulo, que diz que pessoas idosas e com problemas cardíacos devem consultar um médico antes de ingeri-la.
A suíte havia sido reservada às 11h30 por um homem que se dirigiu ao hotel no mesmo táxi que depois traria o ex-juiz.
Segundo a funcionária Carmem Lúcia Jacinto Dantas, 25, responsável pela portaria e que deu as informações da passagem de Nicolau pelo local, o homem que fez a reserva não se identificou, disse que uma outra pessoa ocuparia a suíte e passaria sem parar pela portaria, pois era casado e exigia anonimato no encontro.
O homem que fez a reserva pagou R$ 47. O motel cobra R$ 35 por duas horas de permanência e R$ 50 pelo pernoite na suíte -que, por ter hidromassagem, é o quarto mais caro do local.
Além da hidromassagem, o quarto ocupado por Nicolau possui uma cama redonda com coberta azul, uma banheira de hidromassagem, TV e uma mesa com cadeiras. O slogan do motel é "qualidade para quem merece".
"Eu jamais suspeitei que fosse o juiz Lalau. É normal que algumas pessoas prefiram fazer reservas antecipadas. Como também é normal as pessoas entrarem diretamente, sem parar na portaria. Aqui em Bagé quase todo mundo se conhece, e ninguém gosta de se expor", afirmou Carmem. Apenas ontem pela manhã, com o assédio da imprensa, ela descobriu que era o ex-juiz procurado.
Durante o tempo em que esteve no motel de Bagé (380 km de Porto Alegre), o juiz não usou telefone. Por volta das 15h45, o homem que havia feito a reserva retornou em um carro preto com placa de Montevidéu. Junto com ele estavam mais dois homens e uma mulher, que não desceram.
O homem foi até a suíte, conversou rapidamente com Nicolau, pediu o telefone emprestado e tentou, sem sucesso, fazer uma ligação. Retornou ao carro e foi embora enquanto o juiz permanecia na suíte.
Logo depois, o homem ligou ao motel e pediu que informasse Nicolau que "um médico estaria lá para examiná-lo". Por volta das 16h40, um táxi de cor branca, com dois homens, chegou ao local e levou o ex-juiz para o aeroporto.
Francisco Pizarro, dono do motel, disse que essa foi a situação mais insólita que viveu nos 20 anos de funcionamento de seu estabelecimento. "Já vimos de tudo por aqui, brigas, traições, fim de longos casamentos, mas esperar que o Nicolau dos Santos Neto fosse nosso hóspede estava fora de qualquer imaginação."

Motoboy
O juiz Nicolau do Santos Neto é o segundo foragido da Justiça que ganhou projeção nacional preso no Estado do Rio Grande do Sul desde 1998.
Naquele ano, o motoboy Francisco de Assis Pereira, conhecido como o maníaco do parque, responsável pelas mortes de várias mulheres em São Paulo, foi preso em Itaqui, fronteira do Estado com a Argentina.
O maníaco foi trazido de avião de Porto Alegre para São Paulo. Assis Pereira passou um tempo na Argentina antes de voltar, pela fronteira, ao Brasil.


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