São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 2000

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Taxista diz que levou calote de Nicolau

JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA

O taxista Airton Jardim Fontes, 47, fez, na manhã de anteontem, a corrida mais importante de sua vida. Ele transportou, no seu Palio vermelho, o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto de Aceguá -fronteira do Brasil com o Uruguai- a um motel em Bagé (RS).
Apesar da importância do passageiro, Fontes afirma que levou um calote de R$ 150 ao transportar Nicolau, acusado de participar do desvio R$ 169,5 milhões da obra superfaturada do TRT-SP.
Anteontem, por volta das 10h30, Fontes foi procurado em seu ponto na praça central de Bagé, por um senhor aparentando 40 anos que chegou em um Celta.
"Ele me abordou perguntando se eu sabia qual era o motel mais afastado da cidade. Eu disse que conhecia o motel Fliper. Então, ele entrou no meu carro e nos dirigimos para lá." No motel, o senhor que acompanhava o taxista fez a reserva da melhor suíte.
Depois, pediu para que o taxista seguisse para Aceguá (60 km de Bagé). "Abasteci o carro, ele me deu R$ 50 e seguimos viagem."
Em Aceguá, o taxista e o contratante da viagem ficaram em um posto de gasolina por cerca de 40 minutos. "Ele não parava de telefonar. Disse que não conseguia completar a ligação. Me pagou um lanche e ficamos por ali, rodando entre postos de gasolina."
De acordo com Fontes, por volta das 12h, um automóvel Mondeo chegou onde eles estavam. "De dentro do carro saiu um senhor usando boné, óculos e roupas escuras. Eles ficaram um bom tempo conversando."
Nicolau sentou-se no banco de trás do Palio, e o contratante do táxi seguiu no Mondeo. "Ele (Nicolau) não disse muita coisa. Perguntou onde era o aeroporto, reclamou do calor e perguntou se o motel era afastado da cidade. Até então, eu não havia reconhecido o Nicolau", contou.
Fontes deixou o ex-juiz no motel por volta das 14h. "Deixei-o dentro da suíte e fui atrás do senhor que me contratou. Andei 170 km ao todo. Faltavam R$ 150 a receber já que pedi R$ 200."
Foi no momento que o ex-juiz deixou o taxi para entrar na suite que o motorista o reconheceu. "Eu fiquei muito nervoso. Não sabia o que fazer. Só pensava em receber minha corrida."
O taxista foi localizar o Mondeo no centro de Bagé. Do carro saiu um mulher bem vestida, segundo ele, com uma grande mala. "Fui até eles. O senhor que me contratou disse que não tinha dinheiro, que tinha gastado muito e que já havia me dado R$ 50."

Do motel ao aeroporto
O motorista de táxi Devaldo Ribeiro, 60, que trabalha em um ponto no centro de Bagé, levou o ex-juiz do motel Fliper até o aeroporto Comandante Kramer, de onde Nicolau partiu para São Paulo. Ele foi chamado por funcionários do aeroporto e não sabia quem seriam os passageiros.
Ribeiro informou que entraram no carro dois homens que pediram para ir à BR-293, onde encontrariam um cliente. Chegando à rodovia, os homens fizeram um telefonema. Ribeiro supõe que os homens foram informados de que teriam de ir ao motel Fliper.
Os dois homens ficaram por cerca de cinco minutos no local. Segundo o taxista, que não reconheceu o ex-juiz, um homem abatido e magro sentou-se no banco de trás. No trajeto, os homens teriam conversado amenidades. Nicolau aparentava tranquilidade.



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