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QUESTÃO AGRÁRIA
Reunido com PT, movimento diz que luta no campo continuará
Relação com governo Lula será tensa, prevê MST
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
No lugar da tranquilidade prometida pelo presidente eleito Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) com o
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o grupo,
um dos mais ativos e polêmicos
do país, prevê um relacionamento "tenso" e descarta a possibilidade de a reforma agrária ser
aprovada no "canetaço".
As declarações foram feitas ontem após uma reunião de dirigentes do MST com o deputado federal e virtual ministro de Lula, José
Dirceu, e com o atual presidente
do PT, José Genoino.
"Espero encontrar em Lula um
aliado. Mas acho que irá haver um
tensionamento, disso não temos
dúvidas. Não acreditamos que a
reforma agrária venha por canetaço. É preciso a participação popular, com luta e com organização. É o que o MST vai continuar
fazendo", afirmou ontem o líder
nacional do movimento, Gilmar
Mauro. Durante a campanha presidencial, Lula disse que seria o
"único capaz de fazer uma reforma agrária tranquila".
No encontro, José Dirceu recebeu uma pauta com as reivindicações do grupo. As três principais,
segundo o MST, são: assentamento de cerca de 85 mil famílias, investimento nas áreas (com renegociação das dívidas dos trabalhadores rurais) e a contratação
de técnicos agrícolas.
"A pressão, a luta e a organização dos trabalhadores vão continuar no governo de Lula. Temos
de manter nossa autonomia. Essa
é uma forma de garantir que a reforma seja colocada em pauta."
Após cerca de duas horas de
reunião, Dirceu e Genoino saíram
sem falar em prazos. "Só podemos discutir prazos a partir da
formação do ministério e da posse de Lula. A nossa função aqui é
dialogar. Vamos estabelecer com
os movimentos sociais uma relação permanente para evitar que a
corda se quebre", disse Genoino.
"Foi uma reunião boa, chegamos a uma agenda comum e vamos levar isso ao presidente Lula", disse Dirceu. Ele defendeu novamente o fim do latifúndio improdutivo. "A reforma agrária é
uma agenda social tão importante
quanto o combate à fome."
Corrupção
Na reunião, o MST pediu ainda
a desburocratização do Incra
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e uma auditoria completa para investigar
eventuais desvios financeiros no
órgão, com a punição dos envolvidos. "Nisso o partido sinalizou
positivamente para nós", afirmou
Gilmar Mauro.
Ele defendeu um Incra politicamente independente, "capaz de
fazer as desapropriações e promover os assentamentos de terra". Gilmar Mauro afirmou não
ficar preocupado com a atual falta
de definição de prazos no PT.
Reformas
Dirceu evitou falar ontem em
composição de governo, mas afirmou que seu partido terá apoio
suficiente no Congresso Nacional
para aprovar as principais reformas previstas no programa de governo da sigla.
"Teremos uma maioria [no
Congresso] que dará condições
para aprovarmos as principais
medidas do governo em 2003. No
ritmo em que estamos poderemos ter a maioria para aprovar a
reforma constitucional", afirmou.
Para a aprovar uma reforma
constitucional, por meio de um
projeto de emenda constitucional, é preciso dois terços de votos
na Câmara e no Senado, com votação em dois turnos.
O deputado afirmou ainda que,
entre hoje e amanhã, ele e o atual
presidente do PT, José Genoino,
irão conversar com "praticamente" todos os partidos para discutir
a formação do novo governo.
Questionado sobre a composição do Ministério da Agricultura
e sobre a possível influência do
MST na escolha do nome, Dirceu
foi enfático: afirmou que nenhum
movimento irá participar de indicações de ministros e que somente Lula irá falar sobre a composição do governo.
"Não discutimos ministério
[com o MST], até porque não é
nossa intenção envolver os movimentos em discussão de nomes.
Essa é uma forma de manter a autonomia dos movimentos sociais", afirmou Dirceu.
Gilmar Mauro disse que o movimento não pretende indicar nenhum ministro para o futuro governo Lula. Afirmou apenas que
espera que o futuro ocupante da
pasta seja politicamente engajado
e que defenda a reforma agrária.
"Queremos apenas que o futuro
ministro defenda a reforma agrária. Não importa de que área ele
seja", disse.
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