São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

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QUESTÃO AGRÁRIA

Reunido com PT, movimento diz que luta no campo continuará

Relação com governo Lula será tensa, prevê MST

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

No lugar da tranquilidade prometida pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o grupo, um dos mais ativos e polêmicos do país, prevê um relacionamento "tenso" e descarta a possibilidade de a reforma agrária ser aprovada no "canetaço".
As declarações foram feitas ontem após uma reunião de dirigentes do MST com o deputado federal e virtual ministro de Lula, José Dirceu, e com o atual presidente do PT, José Genoino.
"Espero encontrar em Lula um aliado. Mas acho que irá haver um tensionamento, disso não temos dúvidas. Não acreditamos que a reforma agrária venha por canetaço. É preciso a participação popular, com luta e com organização. É o que o MST vai continuar fazendo", afirmou ontem o líder nacional do movimento, Gilmar Mauro. Durante a campanha presidencial, Lula disse que seria o "único capaz de fazer uma reforma agrária tranquila".
No encontro, José Dirceu recebeu uma pauta com as reivindicações do grupo. As três principais, segundo o MST, são: assentamento de cerca de 85 mil famílias, investimento nas áreas (com renegociação das dívidas dos trabalhadores rurais) e a contratação de técnicos agrícolas.
"A pressão, a luta e a organização dos trabalhadores vão continuar no governo de Lula. Temos de manter nossa autonomia. Essa é uma forma de garantir que a reforma seja colocada em pauta."
Após cerca de duas horas de reunião, Dirceu e Genoino saíram sem falar em prazos. "Só podemos discutir prazos a partir da formação do ministério e da posse de Lula. A nossa função aqui é dialogar. Vamos estabelecer com os movimentos sociais uma relação permanente para evitar que a corda se quebre", disse Genoino.
"Foi uma reunião boa, chegamos a uma agenda comum e vamos levar isso ao presidente Lula", disse Dirceu. Ele defendeu novamente o fim do latifúndio improdutivo. "A reforma agrária é uma agenda social tão importante quanto o combate à fome."

Corrupção
Na reunião, o MST pediu ainda a desburocratização do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e uma auditoria completa para investigar eventuais desvios financeiros no órgão, com a punição dos envolvidos. "Nisso o partido sinalizou positivamente para nós", afirmou Gilmar Mauro.
Ele defendeu um Incra politicamente independente, "capaz de fazer as desapropriações e promover os assentamentos de terra". Gilmar Mauro afirmou não ficar preocupado com a atual falta de definição de prazos no PT.

Reformas
Dirceu evitou falar ontem em composição de governo, mas afirmou que seu partido terá apoio suficiente no Congresso Nacional para aprovar as principais reformas previstas no programa de governo da sigla.
"Teremos uma maioria [no Congresso] que dará condições para aprovarmos as principais medidas do governo em 2003. No ritmo em que estamos poderemos ter a maioria para aprovar a reforma constitucional", afirmou.
Para a aprovar uma reforma constitucional, por meio de um projeto de emenda constitucional, é preciso dois terços de votos na Câmara e no Senado, com votação em dois turnos.
O deputado afirmou ainda que, entre hoje e amanhã, ele e o atual presidente do PT, José Genoino, irão conversar com "praticamente" todos os partidos para discutir a formação do novo governo.
Questionado sobre a composição do Ministério da Agricultura e sobre a possível influência do MST na escolha do nome, Dirceu foi enfático: afirmou que nenhum movimento irá participar de indicações de ministros e que somente Lula irá falar sobre a composição do governo.
"Não discutimos ministério [com o MST], até porque não é nossa intenção envolver os movimentos em discussão de nomes. Essa é uma forma de manter a autonomia dos movimentos sociais", afirmou Dirceu.
Gilmar Mauro disse que o movimento não pretende indicar nenhum ministro para o futuro governo Lula. Afirmou apenas que espera que o futuro ocupante da pasta seja politicamente engajado e que defenda a reforma agrária. "Queremos apenas que o futuro ministro defenda a reforma agrária. Não importa de que área ele seja", disse.


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