São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 2002

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CAMPO MINADO

Em uma semana, duas áreas foram invadidas pelo MST no norte mineiro; locais são alvo de disputa judicial

Invasões ameaçam MG com "novo Pontal"

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) realizou a segunda invasão em uma semana na região norte de Minas Gerais. A disputa por 1,015 milhão de hectares já coloca a região como candidata a "novo Pontal" para o governo petista de Lula.
A referência à área conflituosa em São Paulo, o Pontal do Paranapanema, se dá tanto pelas alegações de posse de terra entre fazendeiros e militantes do MST como pelo risco de conflitos e a retórica beligerante de lado a lado.
A nova invasão ocorreu anteontem, quando os sem-terra entraram numa área de 9.000 hectares, em Barreirinho, distrito de Unaí.
A área, desapropriada há 15 anos para fins de reforma agrária, é objeto de uma disputa judicial entre o Iter (Instituto de Terras de Minas Gerais) e cinco fazendeiros ligados ao Sinapro (Sindicato Nacional dos Produtores Rurais, uma dissidência da Confederação Nacional da Agricultura).
No município de São Francisco, a fazenda Catinga, reivindicada pelo grupo Pontal Empreendimentos, já estava invadida desde segunda-feira da semana passada por 170 famílias sem terra.
O diretor-geral do Iter, Marcelo Resende, 33, disse que a fazenda Catinga é uma das 36 que o governo mineiro reivindica na Justiça por falta de documentação.
Os sem-terra são acusados pelo presidente do Sinapro, Narciso Rocha Clara, 47, de colocarem fogo em três casas e em outros dois galpões da propriedade. Rocha Clara afirma ainda que animais estão sendo mortos, indiscriminadamente, pelos sem-terrra.
"É um vandalismo guerrilheiro, que mostra uma violência nunca antes praticada pelo movimento. Já incendiaram na Bahia, na fazenda Jacarandá, e agora trazem sua guerrilha para a Catinga", afirmou o presidente do Sinapro.
O sindicalista está desde o final de semana na região, recrutando fazendeiros para cercar a propriedade. "Só iremos sair da fazenda depois que a decisão de reintegração de posse for cumprida", disse.
Clédson Mendes, 30, coordenador do MST em Buritis, nega que o movimento tenha incendiado casas e matado animais. "Nós colocamos abaixo duas guaritas de segurança e expulsamos 12 homens que faziam o trabalho de jagunço na área. Foi uma reação à ameaça de queimarem 100 hectares em lavouras dos sem-terra."
Mendes, que foi um dos coordenadores da invasão da fazenda dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso, em abril em Buritis, disse que o MST irá enfrentar qualquer tentativa de desocupação por parte dos fazendeiros. "Estaremos preparado para eles", disse Mendes.
Além do conflito entre fazendeiros e o MST, a fazenda Catinga é também motivo para um conflito de competência judicial. O juiz de São Francisco, Richardson Xavier Brant, determinou reintegração de posse e notificou o juiz Cássio Salomé, da Vara de Conflitos Agrários, de sua decisão.
A PM de Minas Gerais, por determinação do governador Itamar Franco (sem partido), só cumpre mandados de reintegração determinados por Salomé, que centraliza as ações sobre conflitos agrários em Minas.
Resende, do Iter, disse que uma solução negociada para o caso vai depender da presença do juiz Salomé em São Francisco. "No governo Itamar aconteceram 182 ocupações. Nenhuma precisou a PM cumprir reintegração. O juiz da vara de Conflitos Agrários tem resolvido com soluções negociadas, no próprio local dos conflitos e essa não vai ser diferente.". O juiz estava incomunicável ontem.


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