|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CASO SANTO ANDRÉ
Versão de que objetivo era sequestrar empresário, e não Celso Daniel, teria sido inventada após assassinato
Preso afirma que grupo mentiu à polícia
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos homens presos pelo assassinato do prefeito Celso Daniel
(PT) afirmou, em depoimento a
promotores e a policiais, que a
versão inicial contada à Polícia Civil sobre a motivação do sequestro do prefeito de Santo André foi
"inventada" pelo grupo.
Itamar Messias Silva dos Santos
confessou ter participado do sequestro de Daniel, que estava em
uma Pajero na noite de 18 de janeiro do ano passado com o empresário Sérgio Gomes da Silva. O
prefeito foi encontrado morto a
tiros dois dias depois, numa estrada de terra.
No começo do ano passado,
Santos e o grupo afirmaram à polícia que, antes de perseguir a Pajero blindada em que estava Daniel, haviam tentando sequestrar
um empresário que estaria numa
Dakota vermelha. Nesse contexto,
o crime contra o petista teria sido
um acaso.
Essa versão embasou o inquérito da Polícia Civil, que, em 2 de
abril, concluiu por crime urbano.
Em dezembro do ano passado,
após a investigação sobre a morte
de Daniel ter sido reaberta a pedido da família dele, Santos modificou sua versão. O preso afirmou
que, uma semana após a morte de
Daniel, o grupo encontrou-se em
uma chácara em Salvador. Lá teria nascido o acordo de sustentar
a história do empresário da Dakota. A ordem, segundo ele, partiu
de outro acusado pelo assassinato, José Édison da Silva.
"O grupo todo combinou que,
para a polícia e para os promotores, iria sustentar que houve a perseguição à Dakota, passando pela
Bandeirantes. Foi José Édison
quem orientou a todos sobre a
versão que deveria ser sustentada
sobre a tal perseguição da Dakota", disse Santos.
Antes de depor, o preso foi informado pelas autoridades sobre
os benefícios de uma eventual colaboração com o caso -como redução de pena, se for condenado.
Durante seu depoimento, o preso repetiu pelo menos três vezes
que não existiu a perseguição à
Dakota. "É fato concreto que ninguém viu a Dakota em nenhum
momento", afirmou.
Disse que, na noite do crime, o
grupo estava em dois carros (uma
Blazer e um Santana), posicionados perto da rua Ricardo Jafet, à
espera de um terceiro veículo
(Monza) com Édison da Silva. A
rua é próxima ao local onde o prefeito foi sequestrado.
O preso apontou Édison da Silva como o responsável também
pela escolha da Pajero em que estava Daniel. Santos afirmou que,
apesar de ter concordado em sustentar a versão da Dakota, não sabia o motivo da mentira.
Disse ainda ter estranhado a
morte de Daniel. "Todos já haviam participado de outras fitas
[crimes] em que, ao constatar a
falta de dinheiro, as vítimas haviam sido dispensadas."
O preso afirmou ter perguntado
ao próprio Édison da Silva o motivo da morte de Daniel. "Aconteceu, já era", foi a resposta do colega, segundo Santos.
Para o Ministério Público, a versão da polícia, de crime comum,
não existe. Na última sexta, a Promotoria criminal de Santo André
denunciou (acusação formal na
Justiça) o empresário Sérgio Gomes da Silva como um dos mandantes do assassinato. A denúncia
ainda não foi aceita pela Justiça.
Para o empresário, as acusações
contra ele são mentirosas, "uma
colcha de retalhos". Gomes da Silva disse que as pessoas que o acusam são todos presos. "Quando
uma pessoa é presa e jura aos promotores que é inocente, ninguém
acredita. Agora eles acreditam em
tudo", disse. "Essas acusações são
absurdas, não existem."
(LILIAN CHRISTOFOLETTI)
Texto Anterior: Advogado diz ter recebido ameaça Próximo Texto: Família pede fim de sigilo de Justiça Índice
|