São Paulo, quinta, 10 de dezembro de 1998

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Temendo grampo, delegado usa orelhão

FERNANDA DA ESCÓSSIA
RONI LIMA
da Sucursal do Rio

Com medo de ser alvo do crime que investiga -o grampo telefônico-, o delegado da Polícia Federal Rubens Grandini só faz ligações de orelhões e não usa os telefones do prédio da Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro, no centro da cidade.
O delegado, que é de Mato Grosso do Sul, foi enviado ao Rio pela direção da PF, em Brasília, para investigar a autoria do grampo telefônico colocado no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Meses antes da chegada de Grandini, os telefones da PF tinham sido grampeados tantas vezes que chegou a haver até um "congestionamento" de grampos. A mesa telefônica teve que ser trocada.
Desde então, houve uma ordem da direção da PF para que o prédio da superintendência do Rio passasse por "varreduras" constantes na busca de grampos.
Segundo a Folha apurou, além do temor de ser "grampeado", Grandini enfrenta dificuldades operacionais na investigação: está no Rio sem dinheiro e sem hotel.
As diárias às quais teria direito, por estar fora de seu Estado, foram cortadas por economia. Grandini está hospedado nas acomodações para visitantes do prédio da PF, na praça Mauá, uma das piores regiões do centro do Rio.
Fitas
A PF encontrou um novo viés para tentar saber quem pôs o grampo no BNDES: 2.000 fitas cassete apreendidas na segunda-feira com o comerciante Eudo Santos Costa Filho. O pai do comerciante, o coronel da reserva da Aeronáutica Eudo Santos Costa, é dono da Air Phoenix, uma empresa especializada em segurança eletrônica.
As fitas estão sendo periciadas por policiais federais e serão analisadas também pelo Ministério Público Federal. Nas fitas, há diálogos telefônicos captados por meio de escuta clandestina.
Em depoimento na PF, o coronel negou ter feito escuta clandestina no BNDES. Ele afirmou que trabalha para universidades para tentar captar, nas provas de vestibular, a existência de "cola" eletrônica.
A empresa do coronel foi contratada pela Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) para detectar "cola" na primeira prova do vestibular, realizada no último domingo, a R$ 2.000 por dia.
Segundo relatório reservado da Air Phoenix para a Uerj, ao qual a Folha teve acesso, o coronel informa que, no domingo, "não houve captação de sinais de radiofrequência relacionados com a prova em andamento".
No relatório, o coronel afirma que sua empresa possui um "departamento especial para a área de contra-informações e proteção específica dos assuntos sigilosos de seus clientes".



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