São Paulo, quinta, 10 de dezembro de 1998

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DOSSIÊ CARIBE
Advogado de reverendo diz que seu cliente não pretende dizer quem foi o confessor que lhe falou sobre papéis
Peça-chave, Caio Fábio depõe hoje na PF

LUCAS FIGUEIREDO
da Sucursal de Brasília

MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio

O reverendo presbiteriano Caio Fábio d'Araújo Filho promete se recusar hoje a fornecer à PF (Polícia Federal) a informação que os policiais consideram uma das mais importantes em poder do religioso: quem foi a pessoa que lhe falou pela primeira vez sobre o dossiê Caribe.
Caio Fábio vai depor a partir das 9h30 na sede da Polícia Federal, em Brasília, no inquérito que investiga o dossiê.
O advogado do reverendo Caio Fábio, Nilo Batista, afirmou que seu cliente não pretende dizer quem foi o amigo evangélico que o procurou para conversar, com a condição de sigilo, sobre os papéis do dossiê.
"Será uma grande discussão sobre sigilo do aconselhamento pastoral, da confissão religiosa", afirmou Batista.
O dossiê Caribe é um conjunto de fotocópias de autenticidade não-comprovada que indica a associação, em uma empresa e duas contas bancárias em paraísos fiscais, entre o presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Mário Covas (São Paulo) e os ministros José Serra (Saúde) e Sérgio Motta (Comunicações, morto em abril).
A Polícia Federal acredita que o reverendo poderá indicar quem são os responsáveis pela montagem do dossiê -as investigações concluíram que os papéis são adulterados, a partir de documentos verdadeiros.
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Lei de Segurança
Caso se recuse a informar a sua fonte, o reverendo Caio Fábio poderá ser indiciado na Lei de Segurança Nacional, por "caluniar ou difamar o presidente da República", com pena prevista de um a quatro anos de prisão em caso de condenação.
O delegado Paulo de Tarso Teixeira, que preside o inquérito, avisou ao Ministério Público que pedirá a prorrogação do prazo para terminar as investigações.
O inquérito tem 30 dias para ser concluído, mas o prazo, que termina amanhã, será estendido por mais um ou dois meses.
A Folha apurou que Caio Fábio está sendo pressionado por pelo menos um parceiro comercial para não revelar quem está na origem do dossiê Caribe.
O reverendo é a única pessoa que reconhece ter procurado políticos para falar sobre o dossiê. Na campanha presidencial, ele conversou com os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PPS).
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Contradições
No último mês, o reverendo apresentou diversos relatos contraditórios sobre a sua participação na história. Três exemplos:
1) Disse que o homem com quem conversou na Flórida (EUA) e pediu US$ 1,5 milhão pelos papéis era o doleiro curitibano naturalizado norte-americano Jamil Degan. Depois, negou.
2) O reverendo Caio Fábio disse que o homem com os papéis falou por telefone com Leonel Brizola (PDT), candidato a vice na chapa de Lula. Depois, o reverendo voltou atrás.
3) Caio Fábio dizia que soube pela primeira vez que o dossiê custaria dinheiro quando o "falso" Jamil Degan pediu US$ 1,5 milhão por ele.
Depois, contou que já havia referência a US$ 4 milhões, para os "donos" da papelada.



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