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GOVERNO
Bispo afirma que religião está sendo usada como "desculpa esfarrapada" para vetar sua indicação para o Consea
D. Mauro vê disputa de poder no Fome Zero
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
O bispo de Duque de Caxias
(RJ), d. Mauro Morelli, disse que a
religião está sendo usada como
"desculpa esfarrapada" para encobrir uma disputa de poder em
torno do Fome Zero, principal
programa social do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
D. Mauro afirmou ter sabido de
um veto a seu nome para o Consea (Conselho de Segurança Alimentar), instância consultiva do
Fome Zero, mas diz que os evangélicos estão sendo injustamente
responsabilizados por isso.
D. Mauro, 67, é um dos principais nomes da Igreja Católica na
área de segurança alimentar. Participou da criação da Campanha
contra a Fome e presidiu a primeira versão do Consea de 1993 a
1994, no governo Itamar Franco.
"Acho inadmissível que joguem
sobre os evangélicos uma manipulação dessas. Os evangélicos
têm todo o direito de pleitear os
espaços deles. Estão usando o nome de Deus em vão, colocando o
meu [nome] e o dos evangélicos
no meio de uma confusão que é
uma disputa de poder", declarou
d. Mauro, que afirmou ter ótima
relação com os evangélicos.
D. Mauro disse ter certeza de
que o veto não partiu de Lula. "Estou cansado de ver intermediários
dando recados em nome do Lula.
Está acontecendo. Tem gente tomando decisões e agindo na base
do leva-e-traz." No domingo, d.
Mauro recebeu, de integrantes do
Fórum Brasileiro de Segurança
Alimentar e Nutricional, de cuja
coordenação faz parte, a notícia
de que, em Brasília, havia um veto
a seu nome. O fórum deveria indicar outro representante.
Ontem, José Graziano, secretário da Segurança Alimentar, ligou, segundo d. Mauro, dando
outra versão: "Ele está negando,
disse que não houve veto nem recado. Não vou discutir mais, é um
disse-que-disse. Quando eu apertei, ele começou a colocar de novo
a questão dos evangélicos no
meio. É uma desculpa esfarrapada. O que está havendo, na minha
opinião, é jogo de poder", disse.
Questionado se ainda integrará
o Consea, d. Mauro disse que não
está pleiteando espaço.
Evangélicos
Líderes evangélicos ouvidos pela Folha, por sua vez, cobraram
mais espaço no governo e no Fome Zero. Antes mesmo de ser implantado, o programa gera insatisfação entre católicos e evangélicos. Os evangélicos, inclusive petistas, dizem que não foram chamados por Lula e ainda esperam a
prometida reunião com ele.
Para o deputado federal Walter
Pinheiro (PT-BA), batista, não é
tarefa das igrejas cobrar cargos,
mas é preciso iniciar parcerias:
"Senão fica só aquele negócio, a
gente só chama o setor [evangélico] em época de campanha. Precisamos definir isso para acalmar
a chiadeira", afirma Pinheiro.
O senador eleito Magno Malta
(PL-ES), batista, diz que a participação já poderia ter começado na
posse: "Por que não um palco
gospel? Viajamos o país inteiro
para dessatanizar Lula, agora nos
sentimos um pouco excluídos".
O deputado federal Bispo Rodrigues (PL-RJ), da Igreja Universal do Reino de Deus, diz que nenhum evangélico foi chamado.
Para ele, as ministras do Meio
Ambiente, Marina da Silva, e da
Assistência e Promoção Social,
Benedita da Silva, não foram indicadas por serem evangélicas.
O coordenador de mobilização
social do Fome Zero, Frei Betto,
disse que todas as denominações
religiosas serão chamadas a participar, e não só os católicos e evangélicos: "Budistas, espíritas, afro-brasileiros, muçulmanos e judeus, todos serão chamados".
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