São Paulo, sábado, 11 de janeiro de 2003

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Urubus, garçons e choro de fãs dão tom de visita

DOS ENVIADOS ESPECIAIS A TERESINA

Urubus sobrevoavam a praça, garçons de gravata borboleta serviam água gelada aos ministros e mulheres gritavam e choravam pedindo beijos a Luiz Inácio Lula da Silva, na estréia da caravana da miséria, na Vila Irmã Dulce, em Teresina (PI).
Ao pisar no palanque, Lula foi bombardeado com cartas, mensagens, presentes e faixas que as pessoas jogavam a seus pés. Com ajuda de ministros e assessores, recolheu todos os papéis.
Rindo, o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) apontou para Lula uma faixa que dizia: "Querido presidente, te amo. Posso ter dar um beijo?". Lula acenou que sim para a dona do cartaz, Daiane Campos Moita, 15.
Diante da insistência da moça, que furou o cerco para chegar mais perto, Lula interrompeu o discurso. "Pera aí, meu amor, que dou já [um beijo]! Não se aperreie não que daqui a pouco eu vou lhe dar um cheiro aí", disse, forçando o sotaque nordestino e provocando muitas risadas.
Outras, com pedidos semelhantes, choravam. Quando uma mulher passou mal e desmaiou, sob calor de 35C, Lula interrompeu o discurso e mandou um médico da comitiva atendê-la.
A segurança cercou todo o bairro e limitava o acesso de carros. Apenas uma rua de acesso à praça ficou aberta. Todos foram passaram por quatro detectores de metal. A rua visitada pela comitiva foi isolada, e só foi permitida a presença dos moradores.
Em todas as seis casas, o presidente Lula perguntava "Você vive de quê?". Muitas vezes ouvia dos moradores: "De nada".
Antes da chegada da comitiva, uma das atrações foram os seis banheiros portáteis instalados pela manhã. As crianças entravam e saiam. Uma mulher examinou o interior da cabine pela fresta da porta antes de entrar.
A Vila Irmã Dulce não tem esgoto. Os "banheiros" são cercadinhos de lona plástica nos fundos das casas, que escoam para valas e buracos abertos. Lula mostrou isso a seus ministros.
(LEILA SUWWAN E FERNANDO RODRIGUES)


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