São Paulo, sábado, 11 de janeiro de 2003

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CARAVANA SOCIAL

Presidente discursa como candidato no Piauí, reafirma compromisso de mudanças, mas diz que elas demoram

Em "campanha", Lula pede tempo a pobres

Lula Marques/Folha Imagem
Lula discursa em palanque montado na Vila Irmã Dulce


FERNANDO RODRIGUES
LEILA SUWWAN
ENVIADOS ESPECIAIS A TERESINA (PI)

Na primeira etapa da caravana do governo para ver a pobreza de perto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou-se com um discurso moderado. Reafirmou seu compromisso de mudanças, mas pediu tempo para executar planos. Não especificou quando apresentará resultados.
Para pedir tempo, Lula fez uma analogia com uma mulher grávida. "Quando a gente gera um filho, ele demora nove meses para nascer. Depois demora mais quase 9, 10 ou 11 meses para andar. O governo também é assim: eu não posso prometer para vocês que amanhã estará tudo resolvido", declarou num discurso na Vila Irmã Dulce, um bairro pobre da capital piauiense, Teresina.
Lula falou de improviso por 36 minutos. No final, fez nova menção a respeito de precisar de tempo para cumprir as promessas de campanha: "Não esperem que eu mude com varinha de condão".
Sobre quando faria melhorias no bairro pobre piauiense, foi vago: "Eu posso prometer para vocês que vou voltar à Vila Irmã Dulce para provar que nós vamos fazer muita coisa aqui".
A viagem de ontem havia sido anunciada no ano passado, quando Lula ainda era candidato a presidente. Ele pretendia levar todos os seus ministros para visitar regiões miseráveis do país. O plano foi cumprido parcialmente.
A idéia era ir a Guaribas, uma das cidades mais pobres do Piauí. Problemas operacionais impediram a viagem. Lula disse que seria caro deslocar vários aviões pequenos e helicópteros. "Se tem que gastar tanto dinheiro assim em avião para ir a Guaribas, vamos guardar esse dinheiro e gastar para combater a fome nesse país que a gente ganha muito mais."
Também não esteve ontem em Teresina o ministério completo. Dos 30 ministros anunciados para a viagem, dois faltaram: Anderson Adauto (Transportes) e Tarso Genro (secretário do Conselho de Desenvolvimento Econômico).
Outro ministro, Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia), estava presente, mas Lula se esqueceu de anunciá-lo no discurso. A primeira-dama, Marisa Letícia, também não fazia parte da comitiva, embora seu nome tivesse sido anunciado pelo Palácio do Planalto.
O avião presidencial que trouxe Lula e seus ministros chegou a Teresina às 9h (10h no horário de Brasília). Todos foram transportados em três microônibus até a Vila Irmã Dulce. No local, a imprensa ficou afastada da comitiva presidencial por uma corda.
O bairro foi preparado pelo governo do Estado, do PT, para que Lula e seus ministros não fossem incomodados por fotógrafos e repórteres quando entrassem nas casas dos habitantes do local.
Depois de andar por cerca de 400 m por ruas sem calçamento, Lula e ministros subiram num palanque. Primeiro, falou o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), que exaltou as riquezas naturais do Estado, entre os quais a pedra opala. Lula fez uma brincadeira ao final do evento, dizendo que no Piauí tem muito "Opala, Chevette, Fusca, tem de tudo".
Lula usou 24 dos 36 minutos de seu discurso para fazer uma apresentação individual de 27 de seus ministros presentes. Tentou ser didático e reservou um elogio para cada um. Todos eram convidados a aparecer na frente do palanque, levantar os braços e acenar para os presentes -estimados em cerca de 7.000 pessoas pela equipe de segurança que operou os quatro detetores de metal instalados na praça central do bairro.
Relaxado, Lula errou nomes de pastas e de ministros e falou várias vezes como se ainda fosse presidente eleito ou candidato. Humberto Costa "vai ser ministro da Saúde", disse o presidente. Depois, corrigiu-se: "Não vai ser, não. Já é. Porque nós ganhamos a eleição e já tomamos posse".
O equívoco cometido com Humberto Costa repetiu-se com Marina Silva (Meio Ambiente), Benedita da Silva (Assistência Social) e Emília Fernandes (Direitos da Mulher). Waldir Pires foi anunciado por Lula como titular da Corregedoria Geral da União, mas o próprio presidente editou uma medida provisória trocando o nome do órgão para Controladoria Geral da União.
No discurso de Lula, o ministro das Comunicações, Miro Teixeira, foi apresentado como chefe da Secretaria de Comunicação. Walfrido Mares Guia virou "Walfrido Mares Guias".
Além de prometer melhorias estruturais para a Vila Irmã Dulce, Lula sinalizou que pretende elevar o valor pago pelo programa Bolsa-Escola federal -atualmente, R$ 15 por criança matriculada.
Disse que seu ministro da Educação, Cristovam Buarque, manteria o Bolsa-Escola. "Mas não é essa vergonhosa, essa de apenas R$ 15, precisa aumentar um pouco. Nós vamos melhorar isso", afirmou, sem citar percentuais.
Sensibilizado pelo número de mães solteiras que encontrou na vila, o presidente também mandou um duro recado aos homens. "Precisamos melhorar os compromissos morais e éticos de alguns homens nesse país, para que na hora de fazer um filho, saiba cuidar desse filho que ele ajudou a colocar no mundo", disse, arrancando aplausos das mulheres.
Em seguida, disse: "Veja, eu não vou aqui fazer nenhuma promessa porque a campanha acabou e agora sou presidente da República. Não tenho que prometer. Tenho é que fazer". Foi aplaudido.


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