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CARAVANA SOCIAL
Presidente discursa como candidato no Piauí, reafirma compromisso de mudanças, mas diz que elas demoram
Em "campanha", Lula pede tempo a pobres
Lula Marques/Folha Imagem
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Lula discursa em palanque montado na Vila Irmã Dulce |
FERNANDO RODRIGUES
LEILA SUWWAN
ENVIADOS ESPECIAIS A TERESINA (PI)
Na primeira etapa da caravana
do governo para ver a pobreza de
perto, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva apresentou-se com
um discurso moderado. Reafirmou seu compromisso de mudanças, mas pediu tempo para
executar planos. Não especificou
quando apresentará resultados.
Para pedir tempo, Lula fez uma
analogia com uma mulher grávida. "Quando a gente gera um filho, ele demora nove meses para
nascer. Depois demora mais quase 9, 10 ou 11 meses para andar. O
governo também é assim: eu não
posso prometer para vocês que
amanhã estará tudo resolvido",
declarou num discurso na Vila Irmã Dulce, um bairro pobre da capital piauiense, Teresina.
Lula falou de improviso por 36
minutos. No final, fez nova menção a respeito de precisar de tempo para cumprir as promessas de
campanha: "Não esperem que eu
mude com varinha de condão".
Sobre quando faria melhorias
no bairro pobre piauiense, foi vago: "Eu posso prometer para vocês que vou voltar à Vila Irmã
Dulce para provar que nós vamos
fazer muita coisa aqui".
A viagem de ontem havia sido
anunciada no ano passado, quando Lula ainda era candidato a presidente. Ele pretendia levar todos
os seus ministros para visitar regiões miseráveis do país. O plano
foi cumprido parcialmente.
A idéia era ir a Guaribas, uma
das cidades mais pobres do Piauí.
Problemas operacionais impediram a viagem. Lula disse que seria
caro deslocar vários aviões pequenos e helicópteros. "Se tem que
gastar tanto dinheiro assim em
avião para ir a Guaribas, vamos
guardar esse dinheiro e gastar para combater a fome nesse país que
a gente ganha muito mais."
Também não esteve ontem em
Teresina o ministério completo.
Dos 30 ministros anunciados para a viagem, dois faltaram: Anderson Adauto (Transportes) e Tarso
Genro (secretário do Conselho de
Desenvolvimento Econômico).
Outro ministro, Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia), estava
presente, mas Lula se esqueceu de
anunciá-lo no discurso. A primeira-dama, Marisa Letícia, também
não fazia parte da comitiva, embora seu nome tivesse sido anunciado pelo Palácio do Planalto.
O avião presidencial que trouxe
Lula e seus ministros chegou a Teresina às 9h (10h no horário de
Brasília). Todos foram transportados em três microônibus até a
Vila Irmã Dulce. No local, a imprensa ficou afastada da comitiva
presidencial por uma corda.
O bairro foi preparado pelo governo do Estado, do PT, para que
Lula e seus ministros não fossem
incomodados por fotógrafos e repórteres quando entrassem nas
casas dos habitantes do local.
Depois de andar por cerca de
400 m por ruas sem calçamento,
Lula e ministros subiram num palanque. Primeiro, falou o governador do Piauí, Wellington Dias
(PT), que exaltou as riquezas naturais do Estado, entre os quais a
pedra opala. Lula fez uma brincadeira ao final do evento, dizendo
que no Piauí tem muito "Opala,
Chevette, Fusca, tem de tudo".
Lula usou 24 dos 36 minutos de
seu discurso para fazer uma apresentação individual de 27 de seus
ministros presentes. Tentou ser
didático e reservou um elogio para cada um. Todos eram convidados a aparecer na frente do palanque, levantar os braços e acenar
para os presentes -estimados
em cerca de 7.000 pessoas pela
equipe de segurança que operou
os quatro detetores de metal instalados na praça central do bairro.
Relaxado, Lula errou nomes de
pastas e de ministros e falou várias vezes como se ainda fosse
presidente eleito ou candidato.
Humberto Costa "vai ser ministro
da Saúde", disse o presidente. Depois, corrigiu-se: "Não vai ser,
não. Já é. Porque nós ganhamos a
eleição e já tomamos posse".
O equívoco cometido com
Humberto Costa repetiu-se com
Marina Silva (Meio Ambiente),
Benedita da Silva (Assistência Social) e Emília Fernandes (Direitos
da Mulher). Waldir Pires foi
anunciado por Lula como titular
da Corregedoria Geral da União,
mas o próprio presidente editou
uma medida provisória trocando
o nome do órgão para Controladoria Geral da União.
No discurso de Lula, o ministro
das Comunicações, Miro Teixeira, foi apresentado como chefe da
Secretaria de Comunicação. Walfrido Mares Guia virou "Walfrido
Mares Guias".
Além de prometer melhorias estruturais para a Vila Irmã Dulce,
Lula sinalizou que pretende elevar
o valor pago pelo programa Bolsa-Escola federal -atualmente,
R$ 15 por criança matriculada.
Disse que seu ministro da Educação, Cristovam Buarque, manteria o Bolsa-Escola. "Mas não é
essa vergonhosa, essa de apenas
R$ 15, precisa aumentar um pouco. Nós vamos melhorar isso",
afirmou, sem citar percentuais.
Sensibilizado pelo número de
mães solteiras que encontrou na
vila, o presidente também mandou um duro recado aos homens.
"Precisamos melhorar os compromissos morais e éticos de alguns homens nesse país, para que
na hora de fazer um filho, saiba
cuidar desse filho que ele ajudou a
colocar no mundo", disse, arrancando aplausos das mulheres.
Em seguida, disse: "Veja, eu não
vou aqui fazer nenhuma promessa porque a campanha acabou e
agora sou presidente da República. Não tenho que prometer. Tenho é que fazer". Foi aplaudido.
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