São Paulo, sábado, 11 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SOB SUSPEITA

Servidores que PF investiga teriam remetido R$ 110 mi a Suíça; Rosinha exonera suspeito

Fiscais do Rio são acusados de corrupção

MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

Menos de duas semanas depois de assumir, a governadora do Rio, Rosinha Matheus (PSB), herdou do marido, o ex-governador Anthony Garotinho (PSB), o primeiro escândalo de sua administração. Ontem, a PF (Polícia Federal) informou, em nota, que investiga quatro auditores federais e quatro fiscais de rendas do Estado por suposto crime de corrupção e concussão (extorsão cometida por funcionário público).
Os fiscais são acusados de ter enviado US$ 32 milhões -correspondentes hoje a R$ 105,6 milhões- para uma conta na Suíça. Segundo a nota, o valor é "incompatível com a renda e a ocupação profissional" dos servidores. A PF diz que "tal sistemática foi supostamente utilizada para promover lavagem de dinheiro e sonegação fiscal". O inquérito foi aberto a partir de uma investigação do Ministério Público da Suíça, conforme revelou a revista "IstoÉ".
Entre os fiscais estaduais investigados está Rodrigo Silveirinha Corrêa, acusado de ter depositado US$ 8,9 milhões em conta do banco suíço Discount Bank Trust Company. Silveirinha trabalha para a família Garotinho desde 98.
Na gestão do ex-governador, foi subsecretário de Administração Tributária da Secretaria de Fazenda. Rosinha o nomeou presidente do Codin (Conselho de Desenvolvimento Industrial do Estado). Na campanha eleitoral, Silveirinha trabalhou como assessor econômico de Rosinha. Por causa do escândalo divulgado ontem, foi exonerado pela governadora.
Sob o comando de Silveirinha estava a Inspetoria de Contribuintes de Grande Porte, criada na gestão Garotinho (1999-2002) e responsável pela fiscalização das 400 maiores empresas do Rio. Outros dois fiscais estaduais envolvidos -Carlos Eduardo Pereira Ramos e Rômulo Gonçalves- também trabalhavam na inspetoria. A suposta remessa ilegal foi feita justamente nesse período.
Na campanha, tanto Garotinho quanto Rosinha atacaram a então governadora Benedita da Silva (PT) por ter acabado com a inspetoria. O ex-governador voltou ao assunto em artigo publicado anteontem em "O Globo".
Segundo o secretário de Controle e Gestão, Fernando Lopes, secretário de Fazenda de setembro de 1999 a abril de 2002, o problema não está na inspetoria. "Com ela nós tivemos um aumento real de 25% da arrecadação do Estado", afirmou.
Lopes disse que Gonçalves e Ramos já foram acusados em um caso de corrupção na Light, em 99. O caso foi enviado ao Ministério Público estadual, que o arquivou sob a alegação de falta de provas.
O ex-secretário de Fazenda Carlos Antônio Sasse, que trabalhou no primeiro ano do governo Garotinho e organizou a inspetoria, disse que a investigação deve ser ampliada. "Quando eu estava lá, essas questões de corrupção foram muito atacadas, havia uma postura de combate frontal."
O quarto fiscal estadual acusado, Lúcio Manoel dos Santos Picanço, que teria enviado US$ 18 milhões à Suíça, foi chefe de gabinete durante os nove meses em que Sasse esteve no governo.
Lopes, seu sucessor, o afastou, mas manteve toda a estrutura da inspetoria, inclusive Silveirinha. Os auditores federais da Receita Federal citados no inquérito são Sérgio Jacome de Lucena, que teria mandado ao banco suíço US$ 320 mil; Axel Ripoll Hamer, US$ 680 mil; Hélio Ramos da Silva, US$ 450 mil; e Amaury Franklin Nogueira Filho, US$ 1,8 milhão.
O advogado dos quatro fiscais de renda do Estado, Clóvis Sahione, disse que até o próximo dia 20 seus clientes prestarão esclarecimentos à Justiça.

De volta
A governadora está trazendo de volta ao comando das principais unidades de arrecadação do Rio funcionários que no governo Garotinho trabalharam diretamente sob a orientação de Silveirinha.
O "Diário Oficial" de terça trouxe a nomeação do contador André Luiz de Almeida Miranda para o cargo de subsecretário-adjunto da Receita Estadual da Secretaria de Fazenda. O cargo corresponde ao de subsecretário que foi exercido por Silveirinha.
Miranda foi o principal assessor de Silveirinha na Receita Estadual. Na gestão de Garotinho, e sob a orientação direta de Silveirinha, exerceu a função de chefe da Inspetoria de Grandes Contribuintes, a mais importante unidade arrecadadora da Secretaria de Fazenda do Estado. A reportagem não conseguiu localizá-lo até o fechamento desta edição.


Colaborou SERGIO TORRES, da Sucursal do Rio


Texto Anterior: Cargos: PT confirma deputado na chefia do Dnocs
Próximo Texto: Outro lado: Governadora diz que denúncia a pegou de surpresa
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.