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PREVIDÊNCIA
Representantes de entidades de classe não concordam com sistema único de aposentadoria apresentado por Berzoini
Reforma desagrada a militares e juízes
LILIAN CHRISTOFOLETTI
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O esboço da reforma da Previdência Social apresentado pelo
ministro Ricardo Berzoini (PT)
desagradou a militares e juízes,
que não concordam com um sistema único de aposentadoria.
Para o secretário-geral da Ajufe
(Associação dos Juízes Federais)
do Brasil, Jorge Maurique, a mudança proposta irá favorecer a
corrupção no Judiciário.
"Se eu sou juiz e hoje ganho R$
8.000, amanhã me aposento e passo a ganhar R$ 1.200, por exemplo. Qual é a garantia que o Judiciário tem de que serei imparcial?
Ou de que não vou eventualmente me envolver com corrupção e
beneficiar quem tem poder econômico, para levar alguma vantagem porque amanhã eu estarei na
vala comum?", disse.
O plano do ministro é criar um
regime único de Previdência, com
regras iguais para trabalhadores
da iniciativa privada (pelo INSS) e
funcionários públicos, incluindo
militares e juízes. Hoje, só o INSS
tem teto. Os servidores aposentam-se com o último salário integral. Com teto único, o juiz que
hoje poderia se aposentar com
cerca de R$ 7.000 teria R$ 1.561.
A Ajufe, segundo o juiz federal,
concorda em discutir a questão da
Previdência, mas entende ser necessário manter as prerrogativas
de alguns setores, como as de juízes, militares e procuradores.
Hugo Melo, presidente da Anamatra (Associação Nacional dos
Magistrados da Justiça do Trabalho), disse que as novas regras deveriam valer só aos que estivessem ingressando na carreira. Para
ele, Berzoini aderiu às teses neoliberais que norteavam o governo
FHC. "Juízes e servidores não pretendem defender privilégios. Mas
não podemos aceitar a equiparação de situações distintas."
Os juízes contribuem com 11%
por mês sobre o salário, enquanto
o trabalhador do setor privado
paga de 7,5% a 11% de acordo
com sua faixa salarial. No caso
dos militares, a contribuição
mensal é de 7,5%.
O presidente da Associação dos
Magistrados Brasileiros, Cláudio
Maciel, crê que, antes de discutir
um teto único de aposentadoria, o
governo deveria promover uma
rigorosa auditoria nas contas da
Previdência. "A crise aparentemente não é de modelo, mas de
gestão. A receita é mal administrada porque há devedores que
não pagam, entre eles o Estado",
disse, em nota à imprensa.
Os presidentes do TST (Tribunal Superior do Trabalho), Francisco Fausto, e do STJ (Superior
Tribunal de Justiça), Nilson Naves, também criticaram o esboço
da Previdência. Para Fausto, a reforma é "necessária", mas as mudanças teriam de ser feitas com
moderação para que os direitos
dos atingidos sejam preservados.
Naves disse que, "em homenagem ao Estado de direito e para
assegurar os direitos dos cidadãos, a magistratura precisa ter
um sistema diferenciado".
Entre os militares, o descontentamento com as sugestões do ministro da Previdência é tratado
como assunto do alto comando.
O Centro de Comunicação Social
do Exército informou que, como
o assunto ainda está no "terreno
das hipóteses", não é "conveniente" opinar sobre o tema.
O deputado federal Jair Bolsonaro (PTB), que trabalhou durante 15 anos no Exército e defendeu
no Congresso as causas militares,
afirmou que a proposta de Berzoini é "inaceitável".
Ontem, Berzoini divulgou nota
esclarecendo que não considera
um "privilégio" o benefício integral dos militares.
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