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Ex-ministro admirava
ópera e música erudita
DIOGO PACHECO
Especial para a Folha
Um dos grandes problemas da
cultura musical brasileira é a precaríssima cultura dos nossos homens de poder. E vejam que,
quando falo de poder, não me refiro apenas a políticos, mas a todos
que detêm, de certa forma, o poder
financeiro: empresários, banqueiros etc. O etc. é bom porque deveria ser empregado exclusivamente
nestas ocasiões.
Já cheguei a afirmar que o grande
problema da cultura brasileira era
que nenhum homem de poder
neste país tinha lido um livro. Arroubos de juventude.
Hoje, aos 70 anos, acho que não é
tanto assim. E como não há regras
sem exceção, também há algum
tempo houve exceções. E o melhor
exemplo disso foi o ex-ministro
(barítono nas horas vagas) Mário
Henrique Simonsen.
Tinha grande admiração por ele.
Amante de ópera e de música de
concerto, podia conversar sobre
esses assuntos às vezes até melhor
que pretensiosos ``entendidos'' e
com a competência -acho- com
que falava de economia.
Dono de grande discografia,
quando viajava não deixava nunca
de frequentar os melhores teatros
dos EUA e da Europa para assistir
a concertos e encenações líricas. E
reparem que isso já é raro, mesmo
em se tratando de admiradores de
música clássica. Ainda há aqueles
que gostam de óperas e não vão a
concertos sinfônicos e vice-versa.
Mário Henrique, além de tudo,
gostava de música de câmara e conhecia o assunto como ninguém.
Duvido que algum daqueles fanáticos de ópera conheça todos os
quartetos de Mozart ou de Beethoven como ele. E, no gênero operístico, ele dominava não só as óperas
italianas como as alemãs ou francesas. Haja vista para seus artigos
sobre música publicados periodicamente na revista ``Veja''.
Além de escrever muito bem,
discorria com extrema naturalidade tanto sobre pianistas, violinistas, violoncelistas, compositores
ou cantores, área que lhe era muito familiar. Podia-se, às vezes, discordar de suas opiniões. Por
exemplo: ele preferia Plácido Domingo a Pavarotti. Tem gente que
não admite isso, como também
muitas pessoas não admitem nenhuma restrição à melhor cantora
de todos os tempos: Maria Callas.
Mário Henrique, como já disse,
era cantor. Tinha voz de barítono
e, embora não cantasse em público, deliciava-se comprando óperas só com a parte da orquestra para ser o cantor solista nas árias de
seu registro.
O primeiro parágrafo dessas
anotações pode parecer estranho,
mas se justifica pelo seguinte.
Além de presidente de uma das
melhores orquestras sinfônicas
brasileiras, a OSB, Mário Henrique incentivou sempre que pôde
atividades culturais. Se mais detentores de poder financeiro tivessem sua cultura, talvez o Brasil não
estivesse tão atrasado nesse setor.
Diogo Pacheco é maestro-assistente da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
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