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JUDICIÁRIO
Thomaz Bastos acredita que, sem essa função, órgão ficaria "descaracterizado'
Para ministro, conselho deve ter poder para exonerar juiz
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, defendeu a possibilidade de o Conselho Nacional
de Justiça punir juízes corruptos
com a perda do cargo, ao falar ontem sobre a reforma do Poder Judiciário na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
A proposta de emenda constitucional em tramitação prevê a criação do conselho para fiscalizar a
Justiça e o autoriza a decretar a
perda do cargo em casos extremos, mas há forte resistência entre juízes a essa atuação do órgão.
"Retirar a possibilidade de decretação da perda do cargo das
atribuições do Conselho Nacional
de Justiça significaria desestruturá-lo", disse o ministro.
Ele contestou o argumento jurídico usado pelos magistrados, de
que o conselho não poderá ter essa atribuição porque será um órgão administrativo, não judicial.
Por esse raciocínio, apenas uma
sentença judicial definitiva poderia impor essa medida por causa
do princípio constitucional pelo
qual o cargo de juiz é vitalício.
"A perda do cargo será decretada por um órgão do Judiciário
composto majoritariamente por
juízes, que é o conselho", disse.
O ministro da Justiça deixou
claro que fez a exposição em nome do governo. "Estamos trabalhando para tornar essa questão
[a reforma do Judiciário] uma
prioridade nacional. O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, muitas
vezes mal compreendido, sempre
colocou isso em primeiro lugar."
Ele defendeu o modelo de conselho previsto no projeto, que
prevê a participação de outras
pessoas, além de juízes -dos 15
membros, nove são juízes, dois
são advogados, dois são do Ministério Público e dois são cidadãos
eleitos pelo Congresso. "O controle interno é a consciência. O
controle efetivo tem de ser externo, exterior a quem é controlado.
[...] Não podemos pensar nos juízes como anjos nem como demônios. Eles são seres humanos."
A maioria dos 11 ministros do
STF (Supremo Tribunal Federal)
é contrária ao controle externo.
Dizem que há risco de interferência política. Em votação na semana passada, houve seis votos contra e um a favor da participação de
advogados e procuradores.
A votação foi feita a pedido do
presidente do STF, Maurício Corrêa, que critica o controle externo,
um dia após o seu vice, Nelson Jobim, defender essa medida.
Thomaz Bastos, por outro lado,
atacou duramente a adoção do
efeito vinculante para súmulas do
STF, dizendo que ela representará
a ditadura desse tribunal.
A súmula representa o resumo
de uma decisão consolidada pelo
tribunal depois de sucessivos julgamentos sobre o mesmo tema.
Se o efeito vinculante for adotado,
os juízes das instâncias inferiores
serão, em tese, obrigados a seguir
as orientações firmadas por pelo
menos 8 dos 11 ministros em determinadas matérias.
"Ela criará a ditadura do Supremo, porque a súmula baixada por
ele teria mais força que uma lei
[...] Ela só poderá ser modificada
por emenda constitucional ou por
outra súmula."
Na próxima quarta-feira, a CCJ
deverá encerrar as audiências públicas sobre a reforma do Judiciário ouvindo Corrêa.
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