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VIAGEM PRESIDENCIAL
Presidente defende a eliminação dos "pesados subsídios" praticados pelos países desenvolvidos
Lula convoca Camarões a lutar contra ricos
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A IAUNDÊ (CAMARÕES)
Recebido ontem à tarde por milhares de pessoas nas ruas de
Iaundê (capital de Camarões), o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou o colega camaronês
Paul Biya, no cargo desde 1982, a
"lutar" contra os "pesados" subsídios e as medidas protecionistas
dos países ricos.
"Precisamos mudar as relações
de força no mundo. Não podemos ser observadores passivos de
decisões que afetam diretamente
o nosso destino. (...) Juntos, temos
de lutar pela eliminação dos pesados subsídios e de outras medidas
protecionistas praticadas pelos
países ricos", disse Lula, em jantar
oferecido à comitiva brasileira no
palácio presidencial.
Um dos principais focos da visita que iniciou ontem a cinco países africanos é ampliar o bloco de
articulações do G20 para que os
países em desenvolvimento tenham sustentação para romper as
barreiras impostas por EUA e
União Européia na OMC (Organização Mundial do Comércio).
"Só assim conseguiremos derrubar o muro que divide a humanidade entre ricos e pobres."
Apesar de o comércio entre Brasil e Camarões estar hoje em cerca
de US$ 30 milhões (contra US$ 4
bilhões da Nigéria, por exemplo),
a visita de Lula ao país ganhou um
destaque poucas vezes visto no
país, segundo a imprensa local.
A TV estatal camaronesa exibiu
ao vivo o jantar oferecido pelo
presidente local à comitiva brasileira. Uma hora antes, já havia
imagens dos convidados chegando ao palácio presidencial. A chegada de Lula ao país, por volta das
17h30 (13h30 no Brasil), também
atraiu a atenção da população.
O trajeto de cerca de 20 km entre o aeroporto e o centro da cidade foi tomado por curiosos. Vestidos com trajes típicos e munidos
de instrumentos musicais, os populares aplaudiam a passagem do
comboio presidencial.
O cenário entre o aeroporto e o
hotel em que a comitiva brasileira
está hospedada lembra a capital
haitiana, Porto Príncipe, com entulhos jogados às margens das
ruas, esgoto a céu aberto, iluminação pública quase inexistente e
inúmeras feiras livres.
Com 16 milhões de habitantes,
Camarões tem 48% de sua população abaixo da linha da pobreza,
segundo a CIA (serviço de inteligência dos EUA). No Brasil, segundo o IBGE, há cerca de 11 milhões de famílias nessa situação.
Há 23 anos no cargo, o presidente camaronês declarou ontem
apoio à principal obsessão da política externa brasileira -uma cadeira definitiva no Conselho de
Segurança da ONU. "A reforma
da ONU deve dar o lugar que o
Brasil merece, em razão de seu peso e de seu papel no cenário internacional", disse durante discurso.
A figura de Biya, reeleito no ano
passado com 70% dos votos, é vista com adoração na cidade. Em
cada esquina, há uma foto do presidente, aplaudido pela população até em discursos na TV.
Hoje, Lula vai para a Nigéria. A
viagem inclui passagens por Gana, Guiné-Bissau e Senegal.
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