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ELEIÇÃO
Marta diz que aliança ""pode transformar o governo dela num saco de gatos"
Erundina admite governar com PSDB; PT critica idéia
KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL
A pré-candidata do PSB à Prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina, disse à Folha que não vê
"problema na participação de tucanos no governo, se vier a vencer
a eleição". Lembrou que "pessoas
do PSDB" compuseram sua equipe no último ano em que foi prefeita. Erundina governou São
Paulo, pelo PT, de 1989 a 1992.
Marta Suplicy, pré-candidata
do PT à prefeitura paulistana, criticou a eventual participação de
tucanos em uma administração
Erundina: ""Pode transformar o
governo dela num saco de gatos".
Para Erundina, "haverá necessidade do apoio de mais de um partido para governar São Paulo depois da gestão de Celso Pitta".
""Um acordo com o PSDB é só um
exemplo disso", emendou.
Marta declarou que Erundina
corre o risco de "ampliar demais a
candidatura" com iniciativas como o lançamento, amanhã, do
movimento suprapartidário "São
Paulo Somos Nós", embrião de
possíveis acordos para governar,
como o aventado com o PSDB.
O "São Paulo Somos Nós" sinaliza que o PSB quer fazer alianças
eleitorais e acordos para o governo com forças que vão além do
tradicional campo de esquerda.
O movimento, portanto, é uma
tentativa de atrair setores do empresariado e da sociedade civil,
além de eleitores de siglas que vão
do PT ao PFL de Romeu Tuma e
ao PPB de Paulo Maluf.
Cuidadosa, Erundina não dá
como certa sua vitória nem descarta a candidatura do tucano Geraldo Alckmin -que obteve 3%
na última pesquisa Datafolha-,
mas se mostra aberta a negociar
com o governador de São Paulo, o
tucano Mário Covas.
No PSDB, tucanos dizem que, se
Alckmin não decolar, o caminho
natural do eleitorado do partido
será optar por Erundina.
Marta disse que "não faria aliança com o PSDB", porque o PT faz
""oposição ao governo federal".
Mas falou que teria ""relação respeitosa e produtiva com o governador, que é tucano".
A petista considera que a admissão de Erundina de que um
partido como o PSDB possa participar de seu governo "descaracteriza" a candidatura do PSB e, "para o eleitor, vai ser como catar graveto no Ibirapuera".
Essa cena foi usada na campanha de 1996 e mostrava Erundina
passeando pelo parque, numa
tentativa de suavizar a imagem da
então petista (o slogan da campanha era "o PT que diz sim").
Erundina respondeu indiretamente à lembrança da cena, que
enfureceu setores da esquerda do
PT na eleição: "Espero que Marta
me respeite como eu a respeito".
A crítica de Marta a Erundina
não se resume a uma rusga de
campanha. É a primeira reação da
petista para não ter a candidatura
confinada ao eleitorado mais de
esquerda. Marta sabe que não pode ficar com a pecha de radical,
sob pena de deixar eleitores de
centro e de centro-esquerda escolherem Erundina.
Os estrategistas de Erundina
crêem que ela é a "segunda candidata" de eleitores de diferentes setores do espectro político. Daí, estarem abertos ao que chamam de
votos do "eleitorado honesto de
centro e de centro-direita".
Ou seja, perante o eleitorado petista, é acentuada a trajetória de
esquerda de Erundina e sua antiga ligação como o PT.
Perante o eleitorado do PSDB e
de partidos mais conservadores, é
acentuada sua diferença dos petistas, mostrando-se uma alternativa que seria mais livre para fechar alianças eleitorais e acordos
para composição do governo.
O PSB, que já tem apoio do PPS,
trabalha também para tentar até
amanhã uma aliança com o PDT.
Até ontem, a tendência era o acordo ser selado, apesar de o PT ainda alimentar a esperança de obter
o apoio dos pedetistas.
Marta e Erundina trocam farpas
num momento em que estão tecnicamente empatadas, segundo a
última pesquisa Datafolha. Marta
lidera a corrida, com 27%. Erundina tem 23%. Como a margem
de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos,
configura-se o empate técnico.
A petista também criticou o fato
de o PSB vender Erundina como
mais apta a lidar com o empresariado: "A boa relação dela com os
empresários começou há três ou
quatro anos. Por toda a minha vida, convivi com eles sem preconceito, mas com um atitude crítica
também. Estou preparada para
ter uma boa interlocução".
"Tive problemas com empresários no governo, mas devido a um
preconceito injusto, típico da cultura do PT, de achar que eles são
exploradores", disse Erundina,
dividindo a responsabilidade por
aquelas crises com seu antigo partido. Ela afirmou que, no seu governo, "a relação amadureceu e se
tornou transparente".
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