São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 2000


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ELEIÇÃO
Marta diz que aliança ""pode transformar o governo dela num saco de gatos"
Erundina admite governar com PSDB; PT critica idéia

KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL

A pré-candidata do PSB à Prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina, disse à Folha que não vê "problema na participação de tucanos no governo, se vier a vencer a eleição". Lembrou que "pessoas do PSDB" compuseram sua equipe no último ano em que foi prefeita. Erundina governou São Paulo, pelo PT, de 1989 a 1992.
Marta Suplicy, pré-candidata do PT à prefeitura paulistana, criticou a eventual participação de tucanos em uma administração Erundina: ""Pode transformar o governo dela num saco de gatos".
Para Erundina, "haverá necessidade do apoio de mais de um partido para governar São Paulo depois da gestão de Celso Pitta". ""Um acordo com o PSDB é só um exemplo disso", emendou.
Marta declarou que Erundina corre o risco de "ampliar demais a candidatura" com iniciativas como o lançamento, amanhã, do movimento suprapartidário "São Paulo Somos Nós", embrião de possíveis acordos para governar, como o aventado com o PSDB.
O "São Paulo Somos Nós" sinaliza que o PSB quer fazer alianças eleitorais e acordos para o governo com forças que vão além do tradicional campo de esquerda.
O movimento, portanto, é uma tentativa de atrair setores do empresariado e da sociedade civil, além de eleitores de siglas que vão do PT ao PFL de Romeu Tuma e ao PPB de Paulo Maluf.
Cuidadosa, Erundina não dá como certa sua vitória nem descarta a candidatura do tucano Geraldo Alckmin -que obteve 3% na última pesquisa Datafolha-, mas se mostra aberta a negociar com o governador de São Paulo, o tucano Mário Covas.
No PSDB, tucanos dizem que, se Alckmin não decolar, o caminho natural do eleitorado do partido será optar por Erundina.
Marta disse que "não faria aliança com o PSDB", porque o PT faz ""oposição ao governo federal". Mas falou que teria ""relação respeitosa e produtiva com o governador, que é tucano".
A petista considera que a admissão de Erundina de que um partido como o PSDB possa participar de seu governo "descaracteriza" a candidatura do PSB e, "para o eleitor, vai ser como catar graveto no Ibirapuera".
Essa cena foi usada na campanha de 1996 e mostrava Erundina passeando pelo parque, numa tentativa de suavizar a imagem da então petista (o slogan da campanha era "o PT que diz sim"). Erundina respondeu indiretamente à lembrança da cena, que enfureceu setores da esquerda do PT na eleição: "Espero que Marta me respeite como eu a respeito".
A crítica de Marta a Erundina não se resume a uma rusga de campanha. É a primeira reação da petista para não ter a candidatura confinada ao eleitorado mais de esquerda. Marta sabe que não pode ficar com a pecha de radical, sob pena de deixar eleitores de centro e de centro-esquerda escolherem Erundina.
Os estrategistas de Erundina crêem que ela é a "segunda candidata" de eleitores de diferentes setores do espectro político. Daí, estarem abertos ao que chamam de votos do "eleitorado honesto de centro e de centro-direita".
Ou seja, perante o eleitorado petista, é acentuada a trajetória de esquerda de Erundina e sua antiga ligação como o PT.
Perante o eleitorado do PSDB e de partidos mais conservadores, é acentuada sua diferença dos petistas, mostrando-se uma alternativa que seria mais livre para fechar alianças eleitorais e acordos para composição do governo.
O PSB, que já tem apoio do PPS, trabalha também para tentar até amanhã uma aliança com o PDT. Até ontem, a tendência era o acordo ser selado, apesar de o PT ainda alimentar a esperança de obter o apoio dos pedetistas.
Marta e Erundina trocam farpas num momento em que estão tecnicamente empatadas, segundo a última pesquisa Datafolha. Marta lidera a corrida, com 27%. Erundina tem 23%. Como a margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, configura-se o empate técnico.
A petista também criticou o fato de o PSB vender Erundina como mais apta a lidar com o empresariado: "A boa relação dela com os empresários começou há três ou quatro anos. Por toda a minha vida, convivi com eles sem preconceito, mas com um atitude crítica também. Estou preparada para ter uma boa interlocução".
"Tive problemas com empresários no governo, mas devido a um preconceito injusto, típico da cultura do PT, de achar que eles são exploradores", disse Erundina, dividindo a responsabilidade por aquelas crises com seu antigo partido. Ela afirmou que, no seu governo, "a relação amadureceu e se tornou transparente".


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