São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002

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Henrique Alves será vice de tucano, diz clã

RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM NATAL

Os líderes do grupo familiar que comanda a política no Rio Grande do Norte, os Alves, dizem que não "há possibilidade" de a cúpula nacional do PMDB voltar atrás na indicação do deputado federal Henrique Eduardo Alves, 53, como vice do pré-candidato tucano à Presidência, José Serra.
O deputado é cotado como o mais provável para compor a chapa de Serra, ação que praticamente selaria a aliança nacional entre tucanos e peemedebistas.
A confirmação do vice, porém, sofre sucessivos atrasos devido à resistência de Serra em acatar a indicação, já que demonstra ter preferência por nomes do PMDB com mais relevância eleitoral -o senador Pedro Simon (RS) e a deputada federal Rita Camata (ES).
A reação contra uma possível exclusão de Henrique Alves parte do pai, Aluísio Alves (PMDB), 80, patriarca do clã, e do primo e ex-governador Garibaldi Alves Filho (PMDB), a maior liderança popular dos Alves no momento.
"A cúpula do PMDB, depois de ter definido a indicação do Henrique, não pode voltar atrás e aceitar outro nome, ficaria muito feio. O PSDB que tome sua decisão, mas o PMDB tem que se manter firme", disse Garibaldi.
"Consultaram [Henrique" em um primeiro momento e ele não quis, mas, depois de muita insistência, aceitou. Era candidato a governador, deixou de ser. Agora teria que aparecer de novo candidato a governador? Ficaria muito enfraquecido", completa Aluísio, presidente estadual do PMDB.
Como já dão como certo que Henrique será o vice de Serra, os Alves trabalham para outro candidato ao governo potiguar, o governador Fernando Freire (PPB). Caso seja preterida na aliança com Serra, a família pode engrossar a ala peemedebista que pretende votar contra a coligação com o PSDB na convenção partidária do mês que vem.

Indicação problemática
A escolha de quem será o vice na chapa tucana se arrasta há algum tempo. O preferido era o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), que não aceitou devido a problemas regionais.
Após isso, a cúpula nacional do PMDB procurou um nome que tivesse três características: ser do Nordeste, o que ajudaria a quebrar uma suposta resistência da região a Serra, não sofrer acusações de irregularidades e ser da confiança da direção nacional.
Henrique, que é membro da Executiva Nacional e está em seu oitavo mandato como deputado federal, foi o escolhido e teria sido aprovado por Serra na semana passada. Mas o anúncio ainda não saiu. A explicação oficial é a de que faltam ser resolvidos problemas regionais entre os partidos.
Alguns pontos pesam na reticência de Serra -motivo pelo qual alguns tucanos começaram a falar que mais importante que um vice do Nordeste é ter um projeto específico para a região.
Em primeiro lugar, o deputado representa uma oligarquia nordestina, classe atacada pelos tucanos na derrocada da pré-candidatura de Roseana Sarney (PFL-MA). O líder do governo no Senado, Artur da Távola (PSDB-RJ), disse na ocasião: "O que se vê é o fim do ciclo das oligarquias estaduais, que gradualmente tombam perante a opinião pública."
O clã dos Alves começou a ser montado na década de 40 por Aluísio Alves, que foi deputado federal, governador do Rio Grande do Norte e ministro nos governos de José Sarney (1985-1990) e Itamar Franco (1992-1994).
A exemplo de outros grupos políticos do Nordeste, os Alves estão espalhados pelo Executivo e Legislativo e têm uma forte rede de comunicação em seu reduto, que inclui a repetidora da "TV Globo" e um dos principais jornais do Estado, a "Tribuna do Norte".
Desde a década de 60, a família e seus correligionários disputam o poder no Estado com os Maia, do ex-governador e atual senador José Agripino Maia (PFL).
Outros pontos que pesam contra o deputado são o de ser de um Estado pequeno, não ser um nome de penetração nacional e ter a fama de não ter carisma popular.


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