São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002

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Ciro tenta capitalizar insatisfação com Serra e flerta com FHC e PSDB

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O pré-candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, deseja virar uma espécie de "plano B" das alas do PSDB insatisfeitas com o pré-candidato do partido, o senador paulista José Serra. Para tanto, tem sinalizado que, eleito, governaria com o PSDB e acena até para o presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem já fez críticas duras.
Ciro fez chegar a FHC que não promoveria uma caça às bruxas, tentando rever decisões do atual governo. Um dos maiores temores do presidente é o chamado "efeito Menem" -em referência a Carlos Menem, ex-presidente da Argentina, que ficou temporariamente preso depois de ter deixado o cargo. FHC é réu em mais de uma centena de ações.
Para Ciro, Serra dificilmente será substituído por Tasso Jereissati, ex-governador do Ceará, ou Aécio Neves, presidente da Câmara. No entanto, o presidenciável acha que as acusações contra o arrecadador de fundos eleitorais dos tucanos Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-presidente do Banco do Brasil, poderão enfraquecer Serra e fazê-lo patinar nas pesquisas de intenção de voto.
Assim, crê Ciro, Serra poderá ser abandonado informalmente por parcelas do PSDB. Dois deputados tucanos confirmaram à Folha que Ciro faz incursões de boa vizinhança no PSDB.

No Planalto
Já FHC gostou da mensagem de Ciro de que não o perseguirá. O presidente teme o poder de estrago de Ciro, que foi do PSDB e até hoje tem relações com dirigentes tucanos, como seu amigo Tasso.
A Folha apurou que o presidente elogiou Ciro, achando "madura" sua atitude de ter pedido ao ministro Pedro Malan (Fazenda) números sobre contas externas para não destoar da posição brasileira em um debate em Nova York com investidores estrangeiros.
Apesar de pessoas próximas ao presidente avaliarem ser improvável um encontro entre Ciro e FHC, o líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson (RJ), crê que isso "está na hora de acontecer".
O petebista Jefferson, membro da aliança PPS-PTB-PDT em apoio a Ciro, tem boa interlocução com FHC. "Há muita diferença entre ser inimigo feroz e adversário", afirma.
Além do PTB, dirigentes do PPS têm simpatia pela inflexão na campanha de Ciro, estimulando-o a bater duro em Serra e a poupar FHC, fazendo críticas ao governo, não à pessoa do presidente.
Exemplo: enquanto tenta capitalizar méritos do Plano Real, por ter sido ministro da Fazenda na implantação do projeto, Ciro acusa Serra de ter boicotado o plano de estabilização.
Dirigentes do PPS recomendaram a Ciro tentar ocupar o espaço que o pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem tentando conquistar, o de uma alternativa segura. Lula tem dado sinais de que, se conquistar o Planalto, buscará governar em aliança com o PSDB. Ciro também.
O trabalho de aproximação com o PSDB e o presidente é feito de forma discreta, para não parecer incoerente, pois Ciro já afirmou que FHC é leniente com a corrupção, entre outras críticas, e para não desagradar ao PDT de Leonel Brizola, político que detesta o atual presidente. (KENNEDY ALENCAR)


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