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A visita do papa
Bento 16 solicita a Lula que conceda vantagens à igreja
Presidente ressalta caráter laico do Estado brasileiro ao ouvir pedido do papa
Proposta do Vaticano rejeita vínculo empregatício de padres, torna obrigatório
o ensino religioso e dá a missionários acesso a índios
DA REPORTAGEM LOCAL
Frustrado o desejo de celebração do tratado ainda durante a visita ao Brasil, o papa Bento 16 pressionou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
para assinatura de uma concordata -um acordo diplomático
de "interesses comuns" entre a
Santa Sé e o Estado brasileiro-
até o fim de seu pontificado.
Pela proposta apresentada
pelo Vaticano em outubro passado, o governo reconheceria,
por exemplo, que não há vínculo empregatício entre padre e
igreja. Outra reivindicação é a
obrigatoriedade do ensino religioso na rede pública de educação. A proposta incluiria ainda
vantagens na concessão de passaporte para os missionários no
país, além da permissão para
atuação em áreas indígenas.
A oficialização do seminário
como um curso também estaria
em pauta. Autoridades brasileiras negam, porém, que a proibição do aborto esteja expressa
no documento. O aborto não foi
tema da audiência.
"O papa manifestou expectativa que houvesse assinatura do
acordo durante seu pontificado
e durante o mandato do presidente Lula", relatou a embaixadora do Brasil no Vaticano,
Vera Machado.
Recorrendo a suas anotações, a embaixadora -que se
diz favorável ao acordo- ditou
uma frase em que Lula teria
acentuado o caráter laico do
Estado brasileiro. Como antecipou a Folha, foi o jeito polido
de recusar a proposta da igreja.
O Itamaraty julgou que o acordo contrariava o princípio de
separação entre igreja e Estado. "Conhecedor das qualidades religiosas do Brasil, quero
dizer que nosso empenho é
preservar e consolidar o Estado
laico e ter a religião como instrumento para tratar da espiritualidade e dos problemas sociais", teria dito o presidente.
Segundo relato feito por Lula
a seu chefe-de-gabinete, Gilberto Carvalho, o próprio papa
teria manifestado "profundo
respeito pelo Estado laico brasileiro", antes de dizer que espera a conclusão do acordo ainda durante seu pontificado.
"Não, Sua Santidade, espero
concluir no meu mandato", teria respondido Lula.
O texto foi trazido pelo representante do papa no Brasil,
Lorenzo Baldisseri, em outubro, com a expectativa de que
fosse assinado durante a visita
de Bento 16. Mas, consultados
os ministérios, o governo apresentou uma contraproposta ao
Vaticano no dia 20 de março.
Seu teor só pode ser divulgado
em caso de consenso.
"A bola agora está com o Vaticano", disse Carvalho, explicando que a preocupação do
governo é produzir acordo
aplicável a outras denominações cristãs e religiões.
Quanto à obrigatoriedade do
ensino religioso, Carvalho
adianta que a intenção é manter o respeito à opção do aluno.
"O presidente tem boa vontade
em relação ao acordo. O que
não quer dizer que não haja diferença de opinião. O acordo
deve sair. Mas não no tempo do
Vaticano", afirmou Carvalho.
No vôo de volta a Brasília,
Lula se disse impressionado
com a cordialidade de Bento 16.
Na audiência, Lula apelou para
que o papa fosse mais atuante
para derrubada das barreiras
comerciais aos países mais pobres. Ele apontou o biodiesel
como instrumento de crescimento econômico inclusive para países africanos.
Lula revelou sua origem, de
família numerosa, para endossar a importância da família no
país.
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