São Paulo, domingo, 11 de junho de 2000


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500 ANOS
Empresa suspeita que os gastos com eventos comemorativos do Descobrimento do Brasil foram superfaturados
Embratur suspende contratos de R$ 4,5 mi

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Embratur decidiu suspender o pagamento de R$ 4,47 milhões, relativos a gastos com eventos comemorativos dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, por suspeitar que os valores são superfaturados.
Os contratos foram assinados à época em que o ministro do Esporte e Turismo era Rafael Greca, demitido no final de abril e que reassumiu a função de deputado federal pelo PFL.
Todos os contratos estão sendo auditados, mas em pelo menos um já há veredicto -a Embratur diz que não pagará R$ 364.135,20 para os organizadores do evento "Com Jesus São Outros 500", realizado na Esplanada dos Ministérios em Brasília no dia 29 de abril. O encontro foi organizado por evangélicos.
"Não é justo dar dinheiro para evangélicos e não dar para espíritas, budistas ou adeptos do candomblé", afirma Wilson Teixeira Soares, assessor da presidência da Embratur.
Segundo uma avaliação da Embratur realizada a partir de fotos, cerca de 2.000 pessoas participaram do evento "Com Jesus São Outros 500".

Show
Não havia nada no encontro que justificasse o pagamento de R$ 364.135,20 -e por isso o pagamento foi cancelado.
Um show realizado no estádio do Maracanã, chamado "Canta Brasil 500", reuniu cerca de 100 mil pessoas e custou menos do que a metade do "Com Jesus São Outros 500" -R$ 156 mil.
Mesmo assim, os gastos no Maracanã estão sendo auditados.
Vilarindo Lima, presidente do Conselho de Igreja e Pastores de Brasília e pastor da igreja Batista, diz que a Defesa Civil do Distrito Federal estimou que havia 82 mil pessoas no encontro.
"Só fizemos o evento porque a Embratur disse que iria pagá-lo. Se não houvesse o patrocínio, não faríamos o encontro", declarou o pastor Lima.
Segundo ele, o patrocínio foi acertado com o então ministro Rafael Greca.
"Para a Igreja Católica deram tudo e para nós não querem dar nada", critica.
A Igreja Católica, porém, não recebeu recursos da Embratur para os festejos dos 500 anos, segundo a assessoria da empresa.

Livro
Outro contrato que foi cancelado refere-se à edição do livro "Guarakessaba", sobre a área de preservação ambiental Guaraqueçaba, que fica no norte do Paraná, Estado do ex-ministro Greca. Os 5.000 exemplares do livro de 144 páginas custariam R$ 150.371,10. O deputado federal Rafael Greca (PFL-PR) diz que não foi ele quem sugeriu a reimpressão do livro, mas a comissão encarregada de organizar a festa dos 500 anos.
"Lamento que haja o corte. O mundo perderá um belo livro", afirmou Greca, por meio de sua assessoria.
A lista de contratos sob suspeita inclui 100 mil CDs com músicas de Villa-Lobos e poemas de Jorge de Lima e de Mário de Andrade, declamados pela atriz Fernanda Montenegro. Eles foram orçados em R$ 592.920,00.
Os CDs, produzidos pela empresa Dell'Arte, deveriam ser distribuídos em Portugal, encartados no jornal "Diário de Notícias", segundo a Embratur.
Mas os CDs não deram entrada no almoxarifado da empresa em Brasília nem foram distribuídos em Portugal, diz a empresa.
O documentário sobre a festa dos 500 anos em Porto Seguro, feito pela produtora de Luiz Carlos Barreto, também está na lista de suspeitos, como foi revelado pela colunista Mônica Bergamo, da Folha, no último mês.
O documentário (de 20 minutos) e mais sete horas de imagens do Brasil custaram R$ 472.140,00.
O evento mais caro do pacote, uma série de concertos e espetáculos de dança e teatro que percorreria dez pólos culturais da Europa e da América Latina, está cancelado. O evento custaria R$ 2,32 milhões.
Na avaliação da Embratur, os concertos deveriam ser pagos pelo Ministério da Cultura, já que são eventos culturais.
E o ministro Francisco Weffort nem sabia que eles estavam programados.


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