São Paulo, domingo, 11 de junho de 2000


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Informes citam até rotina sexual

DA SUCURSAL DO RIO

Dois documentos anteriores ao álbum de 107 páginas distribuído pelo 1º Exército em novembro de 1972, embora menos detalhados, indicam como informações sobre treinamento guerilheiro eram obtidas pelas Forças Armadas.
Um relato da 2ª Seção do CIE (Centro de Informações do Exército), de 13 de novembro de 1970, relaciona os 25 participantes (15 com nome completo e 10 só com codinome) de um curso. Descreve-os, diz onde devem estar escondidos e como eram as aulas.
É também o 1º Exército que produz, em 3 de abril de 1972, um informe secreto sobre o "Grupo da Ilha". A origem dos dados é um "informante". Há cópias dos papéis no Arquivo Público do Rio. Esse documento é conhecido pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
O relatório sobre o "Grupo da Ilha" conta o que fizeram depois de deixar o Brasil os 40 presos políticos banidos após o sequestro do embaixador da Alemanha Ocidental pela VPR e a ALN em 1970.
Uma das obsessões é o relacionamento amoroso de brasileiros em Cuba. A lista de "namorados" e "amantes" poderia gerar um organograma. "Trepar era com a turma do MR-8", diz o relatório.
O conteúdo fundamental do informe, contudo, não é engraçado para as organizações da luta armada. Até local, dia e hora marcados para encontro de militantes que voltavam de Cuba é citado.
É possível que o autor -ou um dos autores- do documento de abril de 1972 tenha sido o ex-marinheiro José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, da VPR.
No ano passado, ele disse em depoimento ao jornalista Percival de Souza ter passado a colaborar com o regime militar em 1971. Em janeiro de 1973, entregaria seis militantes, inclusive a mulher com quem vivia, talvez grávida.
Há suspeitas de que a "conversão" de Anselmo tenha ocorrido antes de 71. Nesse caso, quando passou três anos em Cuba, a partir de 67, já seria agente duplo.
A ação de infiltrados foi responsável por muitas defecções da guerrilha. A partir de novembro de 1971, por exemplo, o Molipo (Movimento de Libertação Popular) teve 17 membros mortos ou desaparecidos ao voltar ao Brasil.
"Até hoje não se sabe quem eram os infiltrados", diz o deputado Nilmário Miranda (PT-MG), ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Segundo ele, apenas dez agentes duplos têm o nome conhecido.
Ex-guerrilheiro treinado em Cuba, o historiador Daniel Aarão Reis, da Universidade Federal Fluminense, diz que a ação de agentes infiltrados não seria difícil em Cuba: "Os cuidados eram pouco rigorosos. Acabava todo mundo sabendo quem estava treinando lá". (MM)


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