São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Críticas ao "terrorismo financeiro" dominam discurso em evento que ratificou candidatura e coligação

Ciro convoca união contra "inimigo exterior"

PATRICIA ZORZAN
ENVIADA ESPECIAL A PINDAMONHANGABA

No dia em que oficializou sua candidatura à Presidência da República, Ciro Gomes (PPS) fez ontem, em Pindamonhangaba (SP), um apelo pela coesão dos brasileiros contra o que chamou de ""o inimigo exterior", em uma referência ao sistema financeiro internacional.
"Quero dizer que vou lutar para ser o próximo presidente. Mas, se não for eu o escolhido, aquele a quem tocar essa honra tem de ter a coesão de todos os brasileiros contra o inimigo exterior", declarou Ciro, ao chegar à convenção da Frente Trabalhista.
As críticas ao que o presidenciável chamou de ""terrorismo financeiro" dominaram ainda o primeiro discurso feito por Ciro como candidato oficial da coligação formada por PPS, PTB e PDT.
"Nós não aceitaremos, com todas as inerências que esta afirmação vá nos exigir, a prepotência estrangeira, tocada de ambição desmedida, do lucro imediato, ainda que isso custe morte e fome, miséria e humilhação a 170 milhões de almas. Não aceitaremos essa intromissão", disse, sem explicar a que tipo de ""inerências" estaria se referindo. ""Escreva o que quiser", limitou-se a dizer.
As declarações de Ciro foram uma reação à recente instabilidade do mercado brasileiro, apontada por alguns analistas como resultado da liderança de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de opinião, e da defesa de investidores internacionais da candidatura de José Serra (PSDB).
Em entrevista à Folha, o megainvestidor George Soros chegou a afirmar que uma derrota do tucano representaria o "caos".

Exemplos
Citando exemplos da história brasileira de resistência à dominação estrangeira e trechos do hino nacional, o ex-ministro também se apresentou reiteradas vezes como a alternativa ""racional, segura, inteligente e experimentada" para comandar o crescimento do país com a manutenção da estabilidade da moeda.
"Aqueles que em Minas Gerais deixaram-se esquartejar, imolar, foram à forca para construir a independência do país. Aqueles que, em Pernambuco, quando puseram para fora os holandeses, afirmaram a condição de aceitarem a própria morte para a construção da nação. Os tempos modernos não nos pedem isso. Mas não se desculpará a acomodação e a omissão. Não se perdoará, e a história registrará como covardes que não merecem a honra de ser brasileiros os que tiverem medo do arreganho de um especulador financeiro."
O discurso, feito ao lado do presidente do PDT, Leonel Brizola, conhecido por suas posições nacionalistas, foi considerado radical por setores do PPS que temem o impacto das afirmações na candidatura do ex-ministro da Fazenda. A fala poderia reforçar ainda mais a impressão de radicalismo e de ""outsider" que tanto empresários quanto o mercado já sustentam em relação ao candidato da Frente Trabalhista.

Homologação
Em uma convenção conjunta, PTB, PDT e PPS ratificaram ontem, por aclamação, a coligação entre os três partidos e a chapa formada por Ciro e pelo presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PTB).
Embora as votações tenham sido oficialmente declaradas vitoriosas por unanimidade, houve uma abstenção no PDT. ""Isso não é democrático. A Frente e o Ciro não foram decisões discutidas dentro do partido", afirmou o professor de história Aurélio Fernandes, membro suplente do diretório nacional pedetista e autor da abstenção.
Segundo as siglas, no PTB votaram 358 dos 419 convencionais. No PDT, 214 dos 314 que poderiam votar, e no PPS, 280 dos 536.



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