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JANIO DE FREITAS
Mudanças à vista
O IPCA de 0,61% comprova
que a inflação, como diz o
ministro Palocci, está sendo "esquartejada", mas o desemprego
sobe, o consumo cai, a soma dos
salários fica menor, a atividade
industrial despenca, a prévia do
IGP-M indica deflação.
Depois de tanto reproduzir
Fernando Henrique Cardoso,
Luiz Inácio Lula da Silva já pode
parafrasear também o general
Médici: "A inflação vai bem,
mas o povo vai mal".
Ao menos nisso, governo e povo podem se sentir identificados.
As estatísticas que estão aparecendo cobrem o período socioeconômico coincidente com a intensificação da maratona de Lula, em que eventos e discursos
passaram a quase emendar-se
uns nos outros. O resultado pessoal, considerada a única pesquisa feita no período, foi positivo para Lula, que manteve o que
as pesquisas chamam de popularidade e não se sabe o quanto
nisso é prestígio (popularidade o
Fernando Beira-Mar também
tem muita).
O resultado político, porém, foi
duvidoso, para dizer o menos.
Medida por aprovação ou expectativa, o governo caiu, em clara
indicação de que Lula e seu esforço propagandístico não geraram efeitos significativos na
imagem da administração. E o
que mostram agora as estatísticas ainda se armava, apenas, e
não poderia ser percebido e refletido pelos pesquisados.
Ao agravamento do quadro
socioeconômico, que tende a
acentuar a opinião negativa sobre o governo, sobrepõe-se a fase
mais ostensiva das divergências
em torno das "reformas" previdenciária e tributária, dois eficazes combustíveis de opinião pública hostil.
A entrada também de José Dirceu em maratona propagandística, em seguida à concessão de
Lula de dirigir a palavra a repórteres brasileiros, é um sinal suplementar de que o governo já se
inquieta com a perda progressiva do seu capital de opinião pública. A partir daí, e com a sobreposição de piores condições socioeconômica e "reformas" antipopulares, é a ocasião de estar
atento para prováveis manobras
de mudança de curso, por tênues
que sejam, em que o empenho
maior do governo será ou já está
sendo, na expressão comum, o
de salvar a face.
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