UOL

São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Mudanças à vista

O IPCA de 0,61% comprova que a inflação, como diz o ministro Palocci, está sendo "esquartejada", mas o desemprego sobe, o consumo cai, a soma dos salários fica menor, a atividade industrial despenca, a prévia do IGP-M indica deflação.
Depois de tanto reproduzir Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva já pode parafrasear também o general Médici: "A inflação vai bem, mas o povo vai mal".
Ao menos nisso, governo e povo podem se sentir identificados.
As estatísticas que estão aparecendo cobrem o período socioeconômico coincidente com a intensificação da maratona de Lula, em que eventos e discursos passaram a quase emendar-se uns nos outros. O resultado pessoal, considerada a única pesquisa feita no período, foi positivo para Lula, que manteve o que as pesquisas chamam de popularidade e não se sabe o quanto nisso é prestígio (popularidade o Fernando Beira-Mar também tem muita).
O resultado político, porém, foi duvidoso, para dizer o menos. Medida por aprovação ou expectativa, o governo caiu, em clara indicação de que Lula e seu esforço propagandístico não geraram efeitos significativos na imagem da administração. E o que mostram agora as estatísticas ainda se armava, apenas, e não poderia ser percebido e refletido pelos pesquisados.
Ao agravamento do quadro socioeconômico, que tende a acentuar a opinião negativa sobre o governo, sobrepõe-se a fase mais ostensiva das divergências em torno das "reformas" previdenciária e tributária, dois eficazes combustíveis de opinião pública hostil.
A entrada também de José Dirceu em maratona propagandística, em seguida à concessão de Lula de dirigir a palavra a repórteres brasileiros, é um sinal suplementar de que o governo já se inquieta com a perda progressiva do seu capital de opinião pública. A partir daí, e com a sobreposição de piores condições socioeconômica e "reformas" antipopulares, é a ocasião de estar atento para prováveis manobras de mudança de curso, por tênues que sejam, em que o empenho maior do governo será ou já está sendo, na expressão comum, o de salvar a face.


Texto Anterior: Funcionalismo: Governo aprova 1% de reajuste para servidor
Próximo Texto: Operação abafa: PT aprova ida de deputados a protesto, mas Dirceu veta
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.