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OPERAÇÃO ABAFA
Caso não consiga derrubar comissão, governo quer parar trabalhos por 60 dias, até votar reformas nas comissões
Planalto articula fim da CPI do Banestado
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diante da dificuldade para enterrar a CPI do Banestado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
a cúpula do governo estão articulando uma tentativa de, pelo menos, paralisar a comissão parlamentar de inquérito por 60 dias.
Motivo: avaliam que ela atrapalharia a votação das reformas tributária e da Previdência.
A idéia é tentar convencer os líderes partidários e o presidente
da Câmara, João Paulo Cunha
(PT-SP), a desistir da investigação
congressual porque a Polícia Federal e o Ministério Público teriam avançado bastante no tema
da CPI: cerca de US$ 30 bilhões
que teriam saído do país na segunda metade dos anos 90.
Em reunião ontem no Palácio
da Alvorada, Lula definiu a seguinte estratégia com seus ministros mais influentes: fará uma última tentativa nos bastidores para
que a CPI não seja instalada.
Como até ontem a avaliação era
de que essa saída era praticamente impossível, devido ao avanço
regimental na Câmara, a opção
será pedir a paralisação da CPI
por 60 dias, até que a fase mais importante das reformas (a tramitação nas comissões especiais) esteja concluída. Lula fará um apelo
para que a Câmara priorize as reformas.
Para isso, enviará o ministro
Márcio Thomaz Bastos (Justiça)
para conversar com os líderes e
com integrantes da CPI. O ministro dará um relato minucioso das
investigações, dirá que darão fruto em 60 dias e pedirá tempo para
conclusão dos trabalhos da PF e
do Ministério Público.
O governo acredita que, diante
dessa argumentação, a Câmara
suspenderá a CPI. Ao mesmo
tempo, o ministro da Casa Civil,
José Dirceu, terá reuniões com os
líderes aliados para pedir que ajudem o governo a deixar a CPI em
segundo plano.
Lula crê que o argumento colará
porque seria do interesse de todas
as legendas evitar uma investigação agora. Há possibilidade de
políticos e grandes empresários
serem atingidos. Bastos argumentará que a PF e o Ministério Público estão tomando medidas para
evitar acusações infundadas.
Não seria hora de fazer "marola", teria dito Lula. Um auxiliar
presidencial diz que, se parlamentares forem pegos numa CPI, haveria pressão por cassação, o que
poderia gerar divisão na base do
governo ou acirramento dos ânimos dos oposicionistas.
Apesar da enorme contrariedade de Lula com João Paulo Cunha,
o governo decidiu optar pelo pedido de suspensão da CPI a fim de
dar a ele uma saída honrosa. Ele
estará no centro da articulação
para suspender a CPI "em nome
do bem do Brasil".
Nas conversas reservadas, Lula
diz que foi um erro ter colocado
João Paulo na presidência da Câmara. O presidente avalia que ele
busca uma atitude de independência incompatível com seu cacife político, pois chegou ao posto
pelas mãos do governo.
A interlocutores, João Paulo diz
que não quer ficar conhecido como "engavetador de CPIs" e teleguiado pelo governo.
Outro petista que está na lista de
problemas de Lula é o líder do
partido na Câmara, Nelson Pellegrino (BA). Depois de João Paulo
ter pedido que os líderes indicassem membros, Pellegrino tomou
a dianteira, apontando os nomes
e constrangendo outros líderes a
fazer o mesmo.
A tentativa de enterrar ou paralisar a CPI deve contar com a simpatia de dirigentes da oposição
(PSDB e PFL) e do PMDB. "CPI é
como uma represa. Quando arrebenta, vem água para todo é lado.
Mas, se quiserem investigar, não
me oporei", disse o líder do
PMDB, Eunício Oliveira (CE).
Em conversas reservadas, Lula
demonstra contrariedade com o
clima de "ciúme" que haveria entre João Paulo e o líder do governo
no Senado, Aloizio Mercadante
(SP). Obedecendo ao governo,
Mercadante articulou o fim da
CPI no Senado, mas João Paulo a
ressuscitou na Câmara.
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