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Para procurador, "investigação engatinha"
DA REDAÇÃO
O procurador da República no
DF Luiz Francisco de Souza afirmou que a investigação sobre o
caso Eduardo Jorge ainda está
muito no começo e, por isso, ainda não há muito a acrescentar.
Em depoimento na subcomissão do Senado que investiga denúncias contra o ex-secretário-geral da Presidência da República
Eduardo Jorge Caldas, o procurador disse: "Esse caso é feito um
bebê que nasceu ontem. Numa
investigação que engatinha ainda,
que está nascendo, de fato a gente
não tem muito, assim, a trazer".
Os integrantes do Ministério
Público vem sendo criticados por
líderes governistas por causa de
sua participação no caso. Para o
governo, os procuradores têm feito críticas a Eduardo Jorge sem
haver provas e divulgado suas
suspeitas para a imprensa antes
de fazer uma apuração aprofundada.
Luiz Francisco concordou, em
parte, com as reclamações dirigidas aos procuradores pelos governistas. "Falta estrutura ao Ministério Público. Se volta e meia os
procuradores fazem trabalhos
açodados (precipitados), se volta
e meia, até mesmo, falam demais,
com certeza a gente reconhece,
honestamente, que às vezes a gente fala demais. E eu mesmo faço a
autocrítica", afirmou.
Uma reunião, no Senado, entre
os procuradores Luiz Francisco
de Souza e Guilherme Schelb, na
véspera do depoimento de Eduardo Jorge, com senadores da oposição -e com peemedebistas
com atuação independente- foi
outro ponto muito criticado por
governistas.
Para pefelistas e tucanos, os procuradores ""politizaram" a investigação e deixaram claro que estão
do lado da oposição.
""É uma questão de preferência
(política). Os procuradores mostram que estão nessa linha (da
oposição)", afirmou o presidente
do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), no dia em que EJ
depôs na subcomissão.
Anteontem, o advogado-geral
da União, Gilmar Mendes, acusou
os procuradores de atuarem como "advogados dos partidos" de
oposição e disse que alguns membros do Ministério Público têm
uma "conduta patológica".
Luiz Francisco rebateu as críticas nesse assunto e negou que o
Ministério Público tenha politizado a questão. "O papel do Ministério Público não é ficar com a
oposição nem com o governo. O
papel nosso é ficar com o ordenamento jurídico e com os interesses coletivos difusos", disse.
Investigação isenta
"Tentaremos fazer uma investigação a mais isenta possível",
completou o procurador.
Luiz Francisco aproveitou seu
depoimento na subcomissão para
reafirmar as críticas que vinham
sendo feitas ao Banco Central pelos procuradores.
Segundo eles, até hoje a instituição não entregou o rastreamento
das ordens bancárias dos pagamentos feitos pela União para a
obra superfaturada do fórum trabalhista do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) de São Paulo.
Ele pediu à "subcomissão que
acompanhe o trabalho do Banco
Central no rastreamento das ordens bancárias. Esse ponto é decisivo. Volta e meia o Banco Central
envia: "ilegível". Não acredito que
algo seja ilegível porque é só mandar para uma perícia que vai aparecer quem foi o beneficiário final
desse dinheiro".
O procurador também solicitou
que os senadores investiguem o
caso do empréstimo do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ao frigorífico Chapecó, de Santa Catarina. Ele pediu que os senadores façam "um pedido ao Banco Central de uma auditoria sobre o empréstimo ao frigorífico Chapecó.
Eu praticamente colocaria a mão
no fogo de que aquele empréstimo é viciado. Possivelmente
constitui ato de improbidade".
O aporte financeiro, de US$ 51
milhões, foi realizado após uma
consulta de Eduardo Jorge ao então presidente do BNDES André
Lara Resende sobre como estava a
situação do empréstimo.
"Dupla militância"
O procurador negou que tenha
feito "dupla militância" no PT e
no Ministério Público. "Sobre alguns pontos que foram publicados nos últimos dias, em relação à
minha filiação partidária (PT), isso existiu até 91 na prática. Em 92,
eu estava na pós-graduação. Em
93, já era promotor de Justiça, que
não pode ter nenhuma militância
partidária. Em 95, assumi a Procuradoria da República e pedi
desfiliação, em junho de 95."
"O problema todo é que, naquele momento, pensava que tinha
feito a desfiliação. O PT, infelizmente, que deveria se organizar
nesse ponto, não enviou a desfiliação à Justiça Eleitoral. Antes de
pisar no Ministério Público, me
desfiliei, porque entendo que é totalmente incompatível", disse.
Depuseram ontem no Senado,
além de Luiz Francisco, as procuradoras Janice Ascari, Isabel Groba e Maria Luísa Duarte, de São
Paulo, e o procurador Guilherme
Schelb, de Brasília.
Guilherme Schelb
No seu depoimento, Schelb fez
uma enumeração detalhada de
vários casos em que há suspeitas
ou indícios de irregularidade que
estão sendo investigados pelo Ministério Público.
Entre eles, citou o caso da Encol,
em que Eduardo Jorge é acusado
pelo dono da construtora, Pedro
Paulo de Souza, de tentar tomar o
controle da empresa.
O ex-assessor de FHC trabalhou
pessoalmente na operação de tentativa de salvamento da empresa,
que faliu em março de 99.
Schelb também destacou o caso
da Montreal, empresa de informática que presta serviços para o
Ministério da Justiça. Segundo o
procurador, a Serpro, empresa
responsável pelos serviços de informática de vários órgãos públicos, começou a deixar os serviços,
abrindo espaço para contratações
sem licitação.
Os técnicos responsáveis pelo
sistema teriam, segundo Schelb,
se inscrito em programas de demissão voluntária e passado a trabalhar para novas empresas.
No primeiro caso que está sendo investigado, do sistema Renavan/Renach, a Montreal teria se
beneficiado desse esquema, de
acordo com Schelb.
O procurador cobrou também
uma investigação sobre os fundos
de pensão e disse que há notícias
de ingerência de Eduardo Jorge
na indicação de diretores.
"Existem centenas de fundos de
pensão no Brasil, que movimentam mais de R$ 100 bilhões, e a fiscalização do poder público é deficiente, o que, por si só, justificaria
uma investigação profunda do
Ministério Público Federal."
Schelb disse também que o fato
de Eduardo Jorge não ter informado ao Ministério Público sua
participação na DTC-Direct To
Company é um indício que deve
ser investigado.
As procuradoras Isabel Groba e
Maria Luísa Duarte, de São Paulo,
apresentaram um relato detalhado sobre as mais de dez ações e
procedimentos investigativos
desde que o Ministério Público
começou a investigar a obra.
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