São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2000


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O QUE DEU CERTO
Nova York e Porto Alegre podem ajudar São Paulo

GILBERTO DIMENSTEIN
DO CONSELHO EDITORIAL

A cidade de São Paulo sentiu ontem, mais uma vez, o gosto do caos, ao registrar, às 10h da manhã, congestionamento de 110 km - só perde para 27 de janeiro, com 151 km de ruas entupidas.
Urbanistas apostam que, mais cedo ou mais tarde, a cidade vai parar pelo simples e óbvio motivo de que o número de carros cresce várias vezes mais rapidamente do que a capacidade de se abrirem ou se alargarem ruas.
"Vai parar", afirma o urbanista Cândido Malta, ex-secretário do Planejamento do Município de São Paulo, ele próprio um exemplo de como se dribla o rodízio. "Comprei um segundo carro", afirma.
"Vai parar mais rápido do que se imagina", alardeia Ailson Brasiliense, da Associação Nacional dos Transportes Públicos.
O rodízio, segundo os urbanistas, vai perder, com o tempo, efeito, e as obras do metrô são caras de demoradas. A classe média, sustentam, jamais vai deixar o carro na garagem para enfrentar um ônibus lotado.
Apesar da perspectiva do caos, nenhum dos candidatos à Prefeitura de São Paulo teve ainda coragem de propor uma solução antipática, mas capaz de amenizar o inferno do trânsito: o pedágio eletrônico nas regiões mais movimentadas.
"É uma solução dolorosa, mas inexorável", afirma Roberto Scaringella, presidente do Instituto de Segurança no Trânsito.
A idéia é espalhar pedágios eletrônicos - o motorista colocaria em seu carro uma tarja magnética.
Com os recursos arrecadados, sugere Candido Malta, o poder público trataria de apressar as obras do metrô.
O pedágio já é usado, com sucesso, em Nova York - e, este semestre, vai ser aplicado em Londres. Na Ásia, a experiência mais conhecida está em Singapura, depois que o centro da área sofreu paralisia.
Nova York implantou o pedágio em túneis e avenidas de grande circulação, arrecadando recursos para obras dúvidas e, ao mesmo tempo, reduzir o fluxo. "Ajudou, e muito", afirma o mais badalado urbanista brasileiro, o governador do Paraná, Jaime Lerner, ex-prefeito de Curitiba.
Não dá, porém, para comparar Nova York, com suas linhas de metrô, com São Paulo - onde, no início do século, políticos e técnicos se uniram contra a idéia de instalar o metrô na cidade.
Quem aponta uma das saídas é Porto Alegre, uma das cidades brasileiras que implantaram microônibus de luxo, com capacidade de 21 passageiros, ar condicionado, telefone celular e até seguro saúde.
Em caso de mal-estar de algum passageiro, o motorista aciona sistema de resgate médico. Ninguém fica de pé.
São 403 veículos, que carregam, diariamente, 100 mil pessoas; segundo as pesquisas, 43 mil preferiam deixar o carro em casa. Eles pagam uma tarifa 56% mais cara do que a do ônibus regular.
"Se o indivíduo souber que vai ter conforto e pontualidade, ele deixa o carro em casa. E se souber que, além disso, não tem de pagar pedágio, terá ainda mais estímulo", afirma Ailson, da Associação Nacional de Transportes Públicos.
A solução, sugerem os urbanistas, é a formação de linhas regulares dos ônibus de luxo, entrando pelos bolsões onde moram as classes média e alta - e, quando possível, conectados ao metrô. Seriam feitos, assim, corredores de um transporte mais sofisticado.
"Mas se não houver pontualidade e conforto, podem esquecer", alerta Jaime Lerner que, em Curitiba, criou os corredores especiais para ônibus e sistemas de cobrança da passagem em corredores na calçada, facilitando o embarque.

PS: Montei especialmente para essa coluna um banco de soluções municipais e dossiês mais detalhados sobre os assuntos abordados em cada sexta-feira. Agradeço sugestões sobre bons exemplos.
O acesso pode ser feito pela minha página: www.dimenstein.com.br
E-mail: gdimen@uol.com.br


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