ANDRÉA MICHAEL
EM SÃO PAULO

Maleável no trato, Luiz Inácio Lula da Silva endurece quando a agenda da campanha ameaça roubar seu domingo familiar. É dia sagrado, reservado para a mulher, Marisa, filhos e netos.
São quatro homens -começando pelo mais velho: Marcos Cláudio, Fábio Luís, Sandro Luís e Luís Cláudio- e uma mulher -Lurian. A segunda geração tem três integrantes: Maria Beatriz (filha de Lurian), Thiago (de Marcos) e Ashtar (de Sandro).
Num acordo em família, os filhos decidiram não falar à Folha. Fotos? Só de álbum. Por privacidade e segurança, argumentaram. "Se eles não querem, não sou eu quem vai forçar", disse Lula.
Amigos do casal Marisa e Lula resumiram o presidenciável ao que chamaram de "um pai normal". Entenda-se: Marisa endurece, ele afaga; dá bronca brincando; não pede emprego; conversa sobre sexo e drogas; ama futebol e cozinha; e rouba no baralho.
"Quando fica demais [o roubo no baralho", eu digo: "Lula, você rouba assim com nove dedos. Imagina se tivesse dez'", brinca o amigo Frei Betto.
Política não passa de arroz e feijão na casa de Lula. O momento em que mais se fala do assunto é no campo de futebol da chácara da família, às margens da represa Billings. O biólogo Fábio Luís, 27, o mais brincalhão da família, comanda as piadas. Se Lula está no gol e a bola passa, Fábio solta: "Com um frango desses, como você quer ser presidente?".
Fábio, Sandro e Luís Cláudio moram com os pais, num apartamento em São Bernardo. Lá não tem empregada. Cada um lava suas cuecas, todo mundo limpa cozinha, e Marisa administra a casa, com a ajuda da irmã Joana.
Marcos, o mais velho, tem 31 anos. Filho de Marisa, foi criado por Lula desde a primeira infância. Casado, estuda psicologia e trabalha como designer gráfico.
Lurian, 28 anos, filha de Lula, buscou trabalho em Blumenau. A amigos, costuma dizer que não vê o dia de conseguir caminhar com as próprias pernas. Topa até ser "VJ da MTV".
Emprego não é coisa fácil para quem tem o sobrenome Lula da Silva. Por isso o presidenciável insiste muito nos estudos. Os filhos de Lula passaram da escola pública para a privada graças a uma bolsa oferecida por um empresário amigo. Os mais velhos iam para a aula de ônibus. Luís Cláudio, o caçula, agora tem motorista.
Questionado sobre o que sonha para os filhos, Lula disse: "Garantir a formação de todos e que todos procurem achar seu caminho. Eles foram educados para que a imagem do pai não pesasse nas costas deles. Quero que tenham uma vida o mais independente possível da minha imagem".


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