São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO/REAÇÃO CATÓLICA

Documento que circulou na assembléia da CNBB diz que "pressão popular pode crescer na medida em que as apurações vierem à tona"

"Malas" podem gerar revolta social, diz Igreja

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM INDAIATUBA

Um documento de 13 páginas elaborado pela Comissão Brasileira de Justiça e Paz, órgão ligado à Igreja Católica, afirma que "é grande o risco de eclodir uma crescente desestabilização social e revolta popular diante das malas de dinheiro".
O documento é datado deste mês e teve redação de cinco padres -entre eles José Ernanne Pinheiro, da assessoria política da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil)- e de pensadores de conselhos e comunidades eclesiais de base.
O texto circulou ontem no segundo dia da 43ª Assembléia Geral da CNBB, em Indaiatuba (SP), mas não teve divulgação oficial por parte dos membros da entidade. O documento, intitulado "Crise política e urgente necessidade de reformas", avalia que "a voz das ruas pode e deve ganhar espaço depois de ver, nos espetáculo televisivo, a quantas anda a ética dos congressistas e daqueles que os financiam".
A seguir, diz que "a pressão popular pode crescer na medida em que as apurações da CPI dos Correios vierem à tona". Em outro trecho, que é "urgente repensar o país dos pés à cabeça".
Anteontem, um outro documento elaborado por uma comissão de religiosos ligados à CNBB diz que "o PT entrou no jogo do clientelismo e escorregou para a corrupção, aliás, cometendo erros infantis". Esse documento, lido no plenário da assembléia, servirá de base para que os bispos preparem uma declaração oficial sobre a conjuntura do país.
Essa declaração, que irá refletir a posição da entidade também com relação à situação social e econômica do Brasil deve ser anunciada na próxima semana.

Imprensa
O arcebispo de Mariana (MG), dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, 74, criticou ontem durante a cobertura da imprensa sobre a crise política.
Anteontem, a CNBB recebeu uma carta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na qual ele admite que a crise é "grave".
Para o arcebispo, há um "exagero" da imprensa ao expor pessoas supostamente envolvidas em acusações de corrupção.
"A corrupção precisa ser combatida. Mas os jornais não podem ocupar a maior parte de seu espaço somente com isso. Há muita coisa ano país que também precisa ser discutida, como saúde, reforma agrária e a situação dos idosos. Por que a imprensa não cobra a situação da reforma agrária?", disse o arcebispo, que também é presidente da Comissão do Mutirão para a Superação da Miséria e da Fome.
O arcebispo defendeu ainda a definição de uma "pauta de plano de emergência" para o país. Segundo ele, é preciso que haja uma mobilização, executada por grupos de autoridades municipais e estaduais, que mobilize a sociedade em torno de soluções de problemas estruturais da população em áreas como a saúde, os transportes em a educação.
"É preciso começar por baixo a participação do povo para ajudar o governo federal, pelo menos no prazo que resta a este governo. O povo precisa deixar de ser apenas espectador das ações governamentais e passar a ser ator."

Resposta a Lula
O presidente da CNBB, dom Geraldo Majella Agnelo, emitiu ontem uma nota oficial na qual afirma que irá responder a carta enviada pelo presidente Lula "nos próximos dias".


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