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NO AR
Mocinhos e bandidos
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
A televisão brasileira, como o próprio país, não sabe bem o que fazer, o que pensar
da polícia.
De um lado, policiais sofrem
atentados em seu aparentemente corajoso e persistente combate ao crime organizado. No
anúncio de um telejornal na
Bandeirantes:
- A polícia sofre dois atentados com bombas.
Num deles, ainda no final de
semana, foi uma "mochila bomba". Mas no outro foi um carro-bomba. Outro telejornal da
mesma emissora acrescentou
depois:
- PCC assume autoria de
atentado.
Os policiais surgem então,
nesse cenário, como guerreiros,
como defensores da sociedade
contra os bárbaros que estão batendo à porta.
Mas não é só de Bandeirantes,
quase sempre simpática à polícia, que vive a televisão. E assim
se vê na Globo, no mesmo dia,
que um menino de apenas 12
anos foi morto em blitz policial
em Pernambuco.
Segundo a família, o carro em
que estava o menino passou pela blitz sem que fosse notada a
ordem da polícia para parar. Os
policiais saíram em perseguição
e atiraram.
Em outro telejornal da Globo,
outra reportagem do gênero,
agora em São Paulo:
- Desaparecimento de dois
jovens lança suspeitas sobre a
polícia...
Isso tudo sem falar do policial
que trocou tiros com o sequestrador, num dia, e viu sua arma
ser usada contra Silvio Santos,
no dia seguinte. Uma história
mal contada, na expressão dos
telejornais.
Sem falar também da recusa
pela Justiça Militar, sempre ontem, do pedido de prisão do policial que matou um tenista, semana passada.
Nada bom para a polícia, isso
tudo. Mas é ela que sofre o atentado do PCC.
E a televisão brasileira, cuja
dramaturgia raramente vai
além de mocinhos e bandidos,
sem saber o que fazer com seus
policiais.
Paulo Maluf já tem tropa de
choque em atividade, na Câmara Municipal.
Ontem, na transmissão e na
cobertura dos telejornais para
um novo depoimento, dessa vez
na CPI da dívida pública, quem
parecia estar sob questionamento era menos o ex-prefeito
de São Paulo e mais a presidente
da comissão.
Para começar a sessão, antes
precisou ouvir berros de vereadores sentados ao seu lado. A cena é conhecida.
E-mail: nelsonsa@uol.com.br
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