São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2001

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NO AR

Mocinhos e bandidos

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

A televisão brasileira, como o próprio país, não sabe bem o que fazer, o que pensar da polícia.
De um lado, policiais sofrem atentados em seu aparentemente corajoso e persistente combate ao crime organizado. No anúncio de um telejornal na Bandeirantes:
- A polícia sofre dois atentados com bombas.
Num deles, ainda no final de semana, foi uma "mochila bomba". Mas no outro foi um carro-bomba. Outro telejornal da mesma emissora acrescentou depois:
- PCC assume autoria de atentado.
Os policiais surgem então, nesse cenário, como guerreiros, como defensores da sociedade contra os bárbaros que estão batendo à porta.
Mas não é só de Bandeirantes, quase sempre simpática à polícia, que vive a televisão. E assim se vê na Globo, no mesmo dia, que um menino de apenas 12 anos foi morto em blitz policial em Pernambuco.
Segundo a família, o carro em que estava o menino passou pela blitz sem que fosse notada a ordem da polícia para parar. Os policiais saíram em perseguição e atiraram.
Em outro telejornal da Globo, outra reportagem do gênero, agora em São Paulo:
- Desaparecimento de dois jovens lança suspeitas sobre a polícia...
Isso tudo sem falar do policial que trocou tiros com o sequestrador, num dia, e viu sua arma ser usada contra Silvio Santos, no dia seguinte. Uma história mal contada, na expressão dos telejornais.
Sem falar também da recusa pela Justiça Militar, sempre ontem, do pedido de prisão do policial que matou um tenista, semana passada.
Nada bom para a polícia, isso tudo. Mas é ela que sofre o atentado do PCC.
E a televisão brasileira, cuja dramaturgia raramente vai além de mocinhos e bandidos, sem saber o que fazer com seus policiais.

Paulo Maluf já tem tropa de choque em atividade, na Câmara Municipal.
Ontem, na transmissão e na cobertura dos telejornais para um novo depoimento, dessa vez na CPI da dívida pública, quem parecia estar sob questionamento era menos o ex-prefeito de São Paulo e mais a presidente da comissão.
Para começar a sessão, antes precisou ouvir berros de vereadores sentados ao seu lado. A cena é conhecida.

E-mail: nelsonsa@uol.com.br


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