São Paulo, Sábado, 11 de Setembro de 1999
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ELEIÇÕES
Ex-prefeita busca alianças em São Paulo
Erundina enfrenta falta de estrutura

Cleo Velleda/Folha Imagem
Luiza Erundina (PSB), exprefeita de SP, visita crianças carentes em creche de Americanópolis, na zona sul da cidade


PATRÍCIA ANDRADE
da Reportagem Local

A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) parte para sua terceira campanha pela prefeitura paulistana tendo que enfrentar um obstáculo: a falta de estrutura de seu partido em São Paulo.
O PSB tem dois deputados federais, dois estaduais, 115 vereadores -apenas dois na capital- e oito prefeitos. Atualmente, é menor do que o PPS de Ciro Gomes, que possui três deputados federais, sete estaduais, 52 prefeitos, 150 vereadores -mas nenhum em São Paulo.
Nos últimos dias, Erundina se dedicou à tarefa de ajudar a organizar o PSB, que não tinha diretórios em muitas regiões da cidade de São Paulo. No mês de agosto, foram constituídos 41 núcleos na capital para preparar o partido para a campanha de 2000.
Ela compareceu a inúmeras dessas reuniões de formação dos diretórios. Em um dos encontros, chegou a ficar desanimada.
Isso ocorreu há cerca de 20 dias, quando Erundina participou de uma reunião no Butantã. Mas, quando chegou ao local, viu que não era um encontro tradicional partidário e sim uma festinha regada a churrasco e cerveja.
A deputada ficou não mais do que 30 minutos. Saiu explicando que não daria para discutir os rumos do partido em um cenário de encontro social.
"Não adianta disputar uma eleição sem ter um partido organizado, estruturado", diz ela, que terá de enfrentar na campanha a militância de seu antigo partido, o PT, trabalhando por Marta Suplicy, sua principal concorrente na disputa pela prefeitura.
Erundina também não quer partir para o embate sem ter apoios de outras legendas. A deputada afirma que tem conversado com vários partidos, entre eles o PMDB, o PPS e o PDT, alvos também da petista Marta.
Companheiros de partido da deputada apostam mais alto numa aliança com o PMDB, que até agora não definiu se terá ou não candidato à prefeitura, embora o ex-governador Orestes Quércia defenda que o partido saia com uma candidatura própria.
"Nosso principal problema é o tempo de televisão, que é muito curto (cerca de 2 min). Estamos conversando com vários partidos. Falamos com os dois setores do PMDB: o do Quércia e o do Michel Temer. Acho viável uma composição, eles não fecharam as portas", diz Jacó Bittar, vice-presidente do PSB paulista.
Outros integrantes do PSB paulista acreditam que a entrada de Erundina na disputa pela prefeitura é uma questão de sobrevivência para o partido.
Na opinião de César Callegari, deputado estadual, com a perspectiva da reforma política, que pode atingir as pequenas legendas com as chamadas cláusulas de barreira, candidaturas majoritárias se tornam fundamentais para esses partidos.
"Precisamos ter condições de eleger uma boa bancada de vereadores. Uma candidatura majoritária puxa votos. No caso de Erundina, tem uma imensa vantagem porque seu nome é muito competitivo", argumenta o deputado estadual.

Polarização
Aos 64 anos, a ex-prefeita paulistana (89 a 92) sabe que a campanha do próximo ano tem grandes chances de ficar polarizada entre ela e Marta Suplicy. Quando o assunto é sua ex-companheira, Erundina procura evitar choques diretos, mas, se provocada, parte para o ataque.
"Eu tenho um perfil mais popular, quem tem cara de povo sou eu e não ela. A Marta tem méritos sim, teve uma boa atuação na Câmara, mas entrou na política outro dia", diz. "Eu já governei, ela não."
A deputada federal ainda se considera vítima dos preconceitos do paulistano. "A Marta é da elite paulistana, é bem aceita nesses meios, uma mulher da mídia. O preconceito vai ser mesmo para cima de mim que, além de ser mulher, sou nordestina."
Apesar das críticas indiretas à pré-candidata do PT, Erundina afirma que quer fazer um pacto de não-agressão com Marta durante a campanha. E defende que as duas fiquem unidas no segundo turno, no caso de uma ou outra chegar até lá.
Quando analisa sua administração na Prefeitura de São Paulo, a deputada admite alguns erros, mas coloca a culpa da maioria deles em cima do PT. Para Erundina, um dos equívocos de sua administração foi não ter ampliado o arco de alianças.
Sua relação com o PT quando era prefeita foi conflituosa. Erundina enfrentou greves comandadas por sindicalistas ligados ao partido, sobretudo de motoristas e cobradores de ônibus.
Uma das principais crises entre ela e o PT foi a demissão do vice-prefeito Luiz Eduardo Greenhalgh da Secretaria de Negócios Extraordinários, que se envolveu no caso Lubeca -suposta troca de favores por ajuda financeira à campanha presidencial de 89 do petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao responder uma crítica feita por Marta, a de que não procurou o apoio do empresariado quando era prefeita, a deputada subiu o tom: "Acho bom ela maneirar, senão vai acabar sobrando para o partido dela. Foi o PT que me impediu de ampliar as alianças".


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