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CONTAS PÚBLICAS
AGU manobra para excluir dois ministros do STF favoráveis à suspensão de artigo da Lei de Responsabilidade Fiscal
Governo articula para tentar manter lei
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo montou uma manobra processual para tentar excluir
2 dos 11 ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) da decisão
sobre a suspensão da norma da
Lei de Responsabilidade Fiscal
que trata do limite de gastos de cada Poder e, assim, reverter a perspectiva de derrota.
Já há 5 votos favoráveis à suspensão e 4 contrários. Se os dois
ministros forem excluídos, o placar ficaria 4 a 3, favorável ao governo. Ainda faltam os votos de
dois ministros.
O plenário do STF apreciará hoje um pedido da AGU (Advocacia
Geral da União) que, se for acolhido, impedirá que dois ministros
que já votaram favoravelmente à
concessão de liminar suspendendo parte da lei permaneçam julgando a causa: o presidente do tribunal, Carlos Velloso, e o ministro Octávio Gallotti.
A manobra desagradou a alguns ministros e corre o risco de
ser rejeitada. Tecnicamente, o
procedimento proposto pelo advogado-geral da União, Gilmar
Mendes, teria aceitação mais provável se o julgamento não tivesse
iniciado, o que não é o caso.
Formalmente, a AGU pediu que
todas as seis ações contra a Lei de
Responsabilidade Fiscal sejam
juntadas em um único processo e
que o julgamento do pedido de liminar seja suspenso para que o
tribunal aprecie diretamente o
mérito, depois de vários atos burocráticos que atrasariam o exame da causa por vários meses.
Um dos efeitos práticos dessa
medida é que o presidente do Supremo não julgaria a causa. O filho de Velloso, Carlos Mário da
Silva Velloso Filho, representa
uma das associações que lutam
pela suspensão de normas da Lei
de Responsabilidade Fiscal.
Ele é advogado da Associação
dos Membros dos Tribunais de
Contas do Brasil, uma das entidades que movem ações diretas de
inconstitucionalidade contra a lei.
Velloso disse que não estaria
obrigatoriamente excluído do julgamento em razão do parentesco,
porque o tipo de ação não envolve
interesses pessoais, mas afirmou
que irá se declarar impedido por
motivos de ordem ética.
"Nunca votei em ação na qual
meu filho esteja atuando. Por
uma consideração de natureza
ética, eu saio da sala (quando começa o julgamento). Já fiz isso
mais de uma vez."
Já o ministro Octávio Gallotti
poderá não participar do desfecho desse caso em razão de estar
se aposentando compulsoriamente no próximo dia 27, quando
completará 70 anos de idade.
O Palácio do Planalto e pelo menos quatro governadores pressionam o STF para que seja mantido
o artigo 20 da lei, que criou limites
de gastos com pessoal para os Poderes Judiciário e Legislativo.
O governador do Rio Grande do
Sul, Olívio Dutra (PT), mandou
petição ao STF defendendo a validade da lei. Outros governadores
que estão acompanhando a questão são Dante de Oliveira (Mato
Grosso), Ronaldo Lessa (Alagoas)
e José Ignácio (Espírito Santo).
Representantes de tribunais de
contas, tribunais de justiça e Ministério Público de Estados fazem
lobby para que a liminar seja concedida por temerem corte de despesas em seus setores.
Há duas semanas, o STF começou a apreciar o pedido de liminar
e suspendeu a decisão no momento em que havia 5 votos contra o governo e 4 favoráveis.
Faltam votar apenas os ministros Maurício Corrêa e Néri da Silveira. Basta que um dos dois se
manifeste pela concessão da liminar para que ela seja concedida.
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