|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Economista fez autocrítica sobre 1964
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma das maiores críticas ao
economista Roberto Campos é
que ele participou algum tempo
de um governo muito poderoso, o
regime militar (1964-1985), e durante esse período não implantou
o liberalismo que sempre defendeu -até mais ardorosamente
depois que passou a ter apenas vida política, fora do Executivo.
Campos concordava em parte
com essa avaliação. Fazia uma autocrítica sobre o fato de não ter
conseguido convencer os militares a acabar com o monopólio estatal do petróleo e a implantar um
sistema de controle da natalidade
para impedir a explosão populacional nos anos 70 e 80.
Em uma de suas diversas entrevistas à Folha, num trecho nunca
publicado, Campos fez uma autocrítica aberta. Ele dividiu sua culpa com os militares, que não teriam -apesar da supressão da
oposição no país- condições políticas internas, dentro da própria
corporação militar, para adotar
todas as propostas liberais que o
economista defendia.
Esta entrevista, cuja fita gravada
está até hoje íntegra, foi realizada
no início de junho de 1993. Ontem, a Folha transcreveu a parte
em que Roberto Campos fala sobre o que poderia ter feito quando
fez parte do primeiro escalão do
governo federal, mas acabou não
realizando.
Folha - Na época do regime mais
forte e autoritário, na época do regime militar, o senhor não poderia
ter sido mais arrojado?
Roberto Campos - Olhando em
retrospecto, havia duas coisas que
presumivelmente poderiam ter
sido feitas e não foram.
Uma é a abolição do monopólio
do petróleo...
Folha - O senhor acha que teria tido poder na época, ou condições
para fazer isso?
Campos - Essa é que é a história.
Eu propus isso para o Castello
Branco [presidente da República
de 1964 a 1967" e ele achava que
não tinha condições históricas.
Ele concordava com a tese, mas
não tinha condições históricas.
Folha - E qual é a outra política
que o sr. acha que poderia ter implantado?
Campos - A outra é o controle
demográfico, o controle populacional. Esses dois foram os grandes erros daquela época. Mas não
havia condições políticas porque,
no caso do petróleo, grande parte
da campanha "O Petróleo é Nosso" [campanha nacionalista da
década de 50" era profundamente
militar. Então, conflitaria com um
regime em que a base era militar.
Era preciso, dizia Castello, de
dois a três anos de mudança de
currículo nas escolas militares para destruir essa mentalidade de
que o monopólio do petróleo dava segurança ao Brasil. Na verdade, trouxe insegurança. Na medida em que o petróleo é produzido
no exterior e importado por nós,
nós ficamos inseguros.
Folha - E como foi o caso do planejamento familiar?
Campos - Havia três inimigos. Os
próprios militares, que acreditavam que o Brasil com uma massa
demográfica teria em si uma defesa grande contra a Argentina. O
simples "efeito massa" tornaria o
Brasil a potência dominante do
continente.
Além disso, achavam que a ocupação da Amazônia se seguiria
naturalmente à expansão demográfica. Na verdade a expansão
demográfica se realizou nas cidades inchadas da costa, não na
Amazônia [risos".
Segundo, eram os próprios empresários que achavam que população crescente era mercado crescente. Mas o mercado depende da
produtividade da população.
Terceiro, a Igreja Católica.
Texto Anterior: Sala na Câmara terá nome de economista Próximo Texto: Biografia: Campos moldou economia pós-64 Índice
|