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São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2003

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RETRATO DO PAÍS

Celular é o único telefone em 8,8% dos domicílios; acesso à internet atinge 10,3%, mas proporção de casas com freezer diminui

Crise desacelera "boom" de telefonia em 2002

DA SUCURSAL DO RIO

O crescimento do número de telefones nos domicílios -que chamou a atenção nas últimas pesquisas dos IBGE- pode ter chegado perto de seu limite por causa da queda no rendimento da população. Essa constatação pode ser feita a partir da Pnad de 2002, que mostra que a porcentagem de residências em que havia ao menos um telefone, fixo ou celular, cresceu 4,6% de 2001 para 2002, passando de 58,9% para 61,6%.
Esse crescimento contrasta com o verificado desde 1998, quando o governo federal privatizou o sistema Telebrás. Em 1998, a Pnad indicava a existência de telefone em apenas 32% dos lares. Hoje, a presença de telefone nas residências (61,6%) já é mais comum do que a existência de ligação com a rede geral de esgoto (46,4%), fato já apontado pela Pnad de 2001.
A linha telefônica, que há pouco tempo era um sonho de consumo quase impossível para a maioria, passou a ser um bem universalizado entre as famílias mais ricas, mas ainda distante das mais pobres. No ano passado, nos domicílios cujo rendimento era superior a dez salários mínimos, o telefone era encontrado em 98% dos lares. No caso dos domicílios cuja renda não ultrapassava dois salários mínimos, a porcentagem era de apenas 28,6%. A Pnad mostra que em 8,8% das residências o único telefone era o celular.
"A expansão esbarrou na questão da distribuição da renda. Hoje, há 48 milhões de telefones instalados e menos de 40 milhões em serviço. Há uma disponibilidade de linhas esperando pessoas que possam pagar pelo serviço", disse o consultor Renato Guerreiro, ex-presidente da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
Ele disse, no entanto, que a população de menor renda também foi beneficiada: "O objetivo da expansão sempre foi disponibilizar os telefones fixos para todos que pudessem pagar e garantir aos que não pudessem a existência de um telefone público próximo de casa. Esse objetivo foi atingido. Hoje, ninguém precisa se deslocar mais do que 300 metros para encontrar um telefone público".
Para Virgílio Freire, ex-presidente da Vésper e hoje consultor da Accenture, o crescimento foi possível porque o Brasil estava muito defasado em relação ao potencial de compra da população.
"Outros países com uma renda per capita menor do que a nossa tinham uma rede telefônica maior. Com a privatização e com a necessidade das operadoras de cumprir as metas estipuladas pelo governo para poder atuar em outras áreas, houve um aumento muito grande na oferta", explicou Freire. Segundo ele, o crescimento dos telefones fixos parece ter chegado ao limite, mas ainda há espaço para os celulares. "Existe uma faixa de renda que não conseguirá comprar telefones fixos, mesmo com o aumento da oferta." Freire disse que há famílias que optam em ter apenas o telefone móvel e outras que já possuem uma linha fixa e, em vez de comprar uma segunda linha, preferem dar um celular para o filho.

Computadores
A pesquisa apontou ainda um aumento de 12,7% na proporção de famílias com microcomputadores em casa de 2001 para 2002. Apesar do aumento, a Pnad mostra que só 14,2% dos domicílios possuem esse bem. O acesso à internet também cresceu, mas continua restrito a 10,3% dos lares.
Os eletrodomésticos mais comuns nos domicílios são o fogão (97,7% dos domicílios), a televisão (89,9%), o rádio (87,9%) e a geladeira (86,7%). A porcentagem de residências com freezer caiu pela quarta vez consecutiva, um reflexo da queda da renda e do racionamento de energia.
Dos serviços básicos, o esgotamento sanitário adequado é o que tem menor abrangência: 68,1% dos domicílios são ligados à rede de esgoto ou usam fossas sépticas. A rede geral de água abrange 82% dos lares, o lixo é coletado em 84,8%, e 96,7% têm luz elétrica.


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