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Analfabetismo cai; NE é problema
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar de avanços registrados
nos últimos dez anos, dados da
Pnad de 2002 do IBGE mostram
que a torneira do analfabetismo
continua aberta no Nordeste e no
Norte. Isso indica que mesmo que
o analfabetismo adulto seja erradicado no Brasil em quatro anos,
como propõe o governo Lula, será
preciso um esforço nas duas regiões para garantir que novos
analfabetos não sejam fabricados.
Segundo a Pnad, 3,8% das
crianças brasileiras com idade entre 10 e 14 anos não sabiam ler ou
escrever um bilhete simples. A
comparação entre as regiões mostra, no entanto, que o problema é
praticamente residual no Sul (1%
das crianças analfabetas nessa faixa etária), Sudeste (1,2%) e Centro-Oeste (1,5%). A maior taxa é
encontrada no Nordeste (8,6%).
Na área urbana do Norte (a Pnad
não pesquisa a área rural dessa região), a taxa é de 4,7%.
No caso nordestino, o cruzamento de dados de escolarização
na faixa etária de 10 a 14 anos com
os de analfabetismo para essa
mesma faixa mostra que há crianças que, mesmo matriculadas em
escolas, ainda não aprenderam a
ler e escrever. Essa constatação
pode ser feita porque apenas 4,3%
das crianças nordestinas de 10 a 14
anos não estudam. O total das que
não sabem ler e escrever, no entanto, é maior: 8,6%.
Para Célio da Cunha, assessor
especial da Unesco no Brasil, esses dados mostram que o esforço
de alfabetização de adultos não
pode ser dissociado do combate
ao problema na infância.
"É inquestionável que essa torneira do analfabetismo infantil
precisa ser fechada, mas não concordo com a tese de que o esforço
para combater esse problema na
infância seja colocado em oposição à luta para erradicar o analfabetismo adulto", disse Cunha.
Para a pesquisadora Dolores
Kappel, um dos fatores que explicam a maior quantidade de crianças analfabetas no Nordeste é a
menor carga horária dos estudantes da região em comparação com
o Sul e Sudeste.
"Os dados mostram que estamos colocando mais crianças na
escola, mas isso não basta. É preciso garantir que elas estejam de
fato aprendendo", disse Kappel.
A análise dos dados de educação da Pnad fica mais positiva,
tanto para o Nordeste quanto para todo o Brasil, quando se compara a situação de hoje com a encontrada no início da década de
90. Apesar de ainda aparecer na
pesquisa com os piores resultados
na educação, o Nordeste é também a região onde foram verificados os mais expressivos avanços.
Se, em 2002, 8,6% das crianças de
10 a 14 anos eram analfabetas, em
1992, essa situação era muito mais
trágica: 29%.
De 1992 a 2002, a taxa de analfabetismo do Brasil na população
com mais de 10 anos de idade caiu
de 16,4% para 10,9%. A proporção
de crianças de 7 a 14 anos fora da
escola teve uma redução ainda
mais significativa no período: de
13,4% para 3,1%.
Em 1992, a porcentagem de brasileiros com menos de um ano de
instrução (18,4%) era maior do
que a de pessoas com mais de 11
anos completos de estudo
(14,1%), o que significa ter completado ao menos o ensino médio.
Em 2002, a situação se inverteu: os
com menos de um ano de estudo
são 11,8% e os com mais de 11
anos de estudo representam
23,4%. Como consequência, a
porcentagem de analfabetos funcionais (pessoas que não completaram a 4ª série do ensino fundamental) com mais de 10 anos de
idade diminuiu de 40,5% em 1992
para 27,6% em 2002. A escolaridade média do brasileiro aumentou 1,9 ano no mesmo período: de
4,3 anos para 6,2 anos.
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