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São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2003

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Analfabetismo cai; NE é problema

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar de avanços registrados nos últimos dez anos, dados da Pnad de 2002 do IBGE mostram que a torneira do analfabetismo continua aberta no Nordeste e no Norte. Isso indica que mesmo que o analfabetismo adulto seja erradicado no Brasil em quatro anos, como propõe o governo Lula, será preciso um esforço nas duas regiões para garantir que novos analfabetos não sejam fabricados.
Segundo a Pnad, 3,8% das crianças brasileiras com idade entre 10 e 14 anos não sabiam ler ou escrever um bilhete simples. A comparação entre as regiões mostra, no entanto, que o problema é praticamente residual no Sul (1% das crianças analfabetas nessa faixa etária), Sudeste (1,2%) e Centro-Oeste (1,5%). A maior taxa é encontrada no Nordeste (8,6%). Na área urbana do Norte (a Pnad não pesquisa a área rural dessa região), a taxa é de 4,7%.
No caso nordestino, o cruzamento de dados de escolarização na faixa etária de 10 a 14 anos com os de analfabetismo para essa mesma faixa mostra que há crianças que, mesmo matriculadas em escolas, ainda não aprenderam a ler e escrever. Essa constatação pode ser feita porque apenas 4,3% das crianças nordestinas de 10 a 14 anos não estudam. O total das que não sabem ler e escrever, no entanto, é maior: 8,6%.
Para Célio da Cunha, assessor especial da Unesco no Brasil, esses dados mostram que o esforço de alfabetização de adultos não pode ser dissociado do combate ao problema na infância.
"É inquestionável que essa torneira do analfabetismo infantil precisa ser fechada, mas não concordo com a tese de que o esforço para combater esse problema na infância seja colocado em oposição à luta para erradicar o analfabetismo adulto", disse Cunha.
Para a pesquisadora Dolores Kappel, um dos fatores que explicam a maior quantidade de crianças analfabetas no Nordeste é a menor carga horária dos estudantes da região em comparação com o Sul e Sudeste.
"Os dados mostram que estamos colocando mais crianças na escola, mas isso não basta. É preciso garantir que elas estejam de fato aprendendo", disse Kappel.
A análise dos dados de educação da Pnad fica mais positiva, tanto para o Nordeste quanto para todo o Brasil, quando se compara a situação de hoje com a encontrada no início da década de 90. Apesar de ainda aparecer na pesquisa com os piores resultados na educação, o Nordeste é também a região onde foram verificados os mais expressivos avanços. Se, em 2002, 8,6% das crianças de 10 a 14 anos eram analfabetas, em 1992, essa situação era muito mais trágica: 29%.
De 1992 a 2002, a taxa de analfabetismo do Brasil na população com mais de 10 anos de idade caiu de 16,4% para 10,9%. A proporção de crianças de 7 a 14 anos fora da escola teve uma redução ainda mais significativa no período: de 13,4% para 3,1%.
Em 1992, a porcentagem de brasileiros com menos de um ano de instrução (18,4%) era maior do que a de pessoas com mais de 11 anos completos de estudo (14,1%), o que significa ter completado ao menos o ensino médio. Em 2002, a situação se inverteu: os com menos de um ano de estudo são 11,8% e os com mais de 11 anos de estudo representam 23,4%. Como consequência, a porcentagem de analfabetos funcionais (pessoas que não completaram a 4ª série do ensino fundamental) com mais de 10 anos de idade diminuiu de 40,5% em 1992 para 27,6% em 2002. A escolaridade média do brasileiro aumentou 1,9 ano no mesmo período: de 4,3 anos para 6,2 anos.


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