São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2004

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SÃO PAULO

Estratégia petista para tentar reverter diferença de 12 pontos é tomar periferia abastada com tropa de vereadores e "fatos novos"

Ex-redutos são 1ª trincheira rumo ao centro

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

Nem nas franjas da cidade nem no centro expandido. A mais acirrada batalha das eleições paulistanas se dará na chamada periferia abastada -um anel geograficamente prensado entre a borda carente e o centro bem-resolvido.
Ela inclui as 18 zonas eleitorais nas quais foram registradas as menores distâncias entre José Serra (PSDB) e Marta Suplicy (PT), a favor de um ou de outro, e abraça quase todos os redutos petistas onde a legenda foi derrotada.
Para tentar reverter a diferença de 12 pontos que separa Serra de Marta é sobre esse eleitorado que o PT tentará avançar. São 2,968 milhões de votos válidos igualmente distribuídos entre os dois -Marta teve só 27 mil a mais.
Pela lógica petista, a força dispersa do adversário facilitaria o avanço de Marta nessa área, de fora para dentro. O PSDB, porém, vê a mesma volatilidade do voto dessa região e seguirá do centro para as bordas (leia texto abaixo).
"A disputa não é mais entre esquerda e direita. É entre ricos e pobres. E estamos numa classe intermediária, no meio do fogo cruzado", diz o técnico de manutenção José Carneiro Laia, 52.
Filiado ao PT há 20 anos, Laia é um fiel eleitor da legenda, mas tem na ponta da língua por que Marta perdeu em Ermelino Matarazzo (zona leste), um antigo reduto petista onde vive há 23 anos. "Não tivemos tantos benefícios. E aqui só se olha para o umbigo."
Quem anda nas rua de Ermelino descobre logo do que ele está falando. A região ainda espera as obras de uma UBS incluída no Orçamento Participativo, tem duas escolas de lata e sofre com cheias do córrego Ponte Rasa, cuja canalização ficou no papel.
"Eles foram relaxados. Tem enchente em volta da minha casa", diz Antônia Serrano, 52, que votou no PSDB pela primeira vez.
Antônia teve um começo de derrame e diz estar há dois anos na fila para fazer um exame. "Marta fez coisas boas para os outros, mas o menino [Serra] inventou esse tal de genérico e falou na TV que vai ajudar com remédio."
O PT admite que o voto pragmático está em ascensão e partirá disso seu contra-ataque. Mas não concorda com as reclamações.
"Temos de repensar a estratégia de campanha. O resultado em algumas regiões é um contra-senso. Chegamos [a elas] de forma contundente. Não houve problema de governo, houve falha de campanha", diz Ítalo Cardoso, coordenador da campanha petista.

Do campo à cidade
Para os vereadores -eleitos ou não- a ordem foi manter os comitês abertos e revisitar os redutos em busca de votos.
Não foi o único reforço. Nos 89 dias de campanha do primeiro turno, Marta teve 49 eventos de contato com a população. Nos oito dias pós-votação já foram 14.
A presença da prefeita é parte da estratégia de alardear as ações do governo e "pulverizar fatos novos". Em Ermelino, por exemplo, "o primeiro centro odontológico será inaugurado neste mês", afirma o subprefeito Milton Nunes, 40. No Tremembé (zona norte), outro reduto perdido, a UBS Jardim das Pedras será entregue nesta semana, em prédio alugado.
"O eleitorado [ideologicamente] de centro é pragmático. Gosta que se mostre algum serviço local", diz Cláudio Couto, professor de ciência política da PUC-SP.
Na Freguesia, outro reduto que tucanou, o mais emblemático petista local, José Pereira, o "PT", diz que o problema "na parte rica do bairro foram as taxas e a saúde".
Na pequena lanchonete, Pereira, 59, distribui material da campanha da prefeita. No balcão: uma foto de Lula, uma de Marta e uma imagem de Santo Expedito. "O governo da Marta é dos pobres, da condução. Ela é melhor." A mulher dele, Maria Pereira, 51, se aproxima: "Põe aí que ela devia fazer um CEU aqui na Freguesia".
Do outro lado da cidade, Neusa responde: "Vai ter CEU aqui [em Ermelino] e em um bocado de lugar. Ela precisa de mais tempo, porque é muita coisa para fazer".
Ex-cobradora, Neusa de Jesus, 51, antecipa o último argumento do PT para sensibilizar esses eleitores: com mais tempo, Marta expandirá os benefícios de sua gestão. Nos mapas da campanha, os novos CEUs e o CEU-Saúde já se deslocam rumo ao centro.

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