São Paulo, terça-feira, 11 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE

Presidente diz que opositores torcem para "as coisas não darem certo" e que não tomará "atitudes populistas" por conta das eleições de 2006

Lula reclama de "urucubaca" contra o governo

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem opositores que, segundo ele, torcem contra seu governo: "Vocês não sabem o que é urucubaca! É gente torcendo para que as coisas não dêem certo". Lula disse que não tomará "atitudes populistas" e "irresponsáveis" em 2006, influenciado pelo processo eleitoral.
Durante lançamento de licitação para a construção de 42 petroleiros da Transpetro (subsidiária da Petrobras) em Niterói (13 km do Rio), Lula afirmou que o "país está vivendo um de seus melhores momentos" ao ingressar num "círculo virtuoso" que, segundo ele, perdurará por até 15 anos, com crescimento econômico, de emprego e de renda.
A despeito do prognóstico positivo, o presidente chamou de "urucubaca" a "torcida" que, segundo ele, opositores fazem contra seu governo.
"Vocês não pensem que a coisa é fácil. Está cheio de gente torcendo para as coisas não darem certo. Vocês já viram um torcedor do Flamengo querer que o Vasco ganhe? Vocês já viram um torcedor do Vasco querer que o Flamengo ganhe? Na política, é a mesma coisa. Vocês não sabem o que é urucubaca! É gente torcendo para que as coisa não dêem certo."
Segundo o dicionário "Aurélio", urucubaca significa "má sorte ou infelicidade constante em acontecimentos fortuitos ou em tudo que se intenta".
Lula negou a possibilidade de ceder ao populismo: "As coisas estão mais ou menos arrumadas. Agora, é a gente não permitir que o processo eleitoral do ano que vem venha exigir que o governante tome medidas irresponsáveis, populistas, tentando fazer apenas algumas coisa para a torcida, sem levar em conta o momento que o Brasil está vivendo".
Em discurso a uma platéia prioritariamente de operários e marinheiros que gritavam seu nome, Lula disse que as ações do governo serão pautadas pela responsabilidade. "As coisas serão feitas da forma mais responsável possível. Serão feitas porque, se depender de mim, o Brasil não jogará fora essa oportunidade."
De acordo com Lula, o país está entrando num momento "crucial" de seu processo de desenvolvimento, no qual não se pode errar. "Se agirmos corretamente, o Brasil poderá ter conquistado definitivamente um novo ciclo de desenvolvimento sustentado e duradouro, que pode demorar de dez a 15 anos."
Lula disse não estar disposto a jogar por terra o esforço para colocar o país nessa rota: "Eu, que nunca tive nada de graça na vida, não vou jogar fora esse oportunidade. O Brasil está num ciclo virtuoso. As exportações estão crescendo, a poupança interna está crescendo, a massa salarial está crescendo, o emprego está crescendo. O que está caindo nesse momento? O custo de vida e a inflação", afirmou. Citou números: disse que a média mensal de geração de empregos com carteira é de 105 mil em seu governo, contra 8.000 no de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.

Pró-Lula
Os sindicalistas Carlos Alberto Grana, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (Central Única dos Trabalhadores), e José Mascarenhas, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói, discursaram e exortaram o presidente a concorrer à reeleição.
Em resposta, a platéia, em sua maioria de petroleiros, metalúrgicos e marinheiros, gritava: "Lula, Lula, Lula". Alguns arriscavam ainda mais: "Lula, eu te amo".
Ao final de seu discurso, Lula arrancou gritos de "Olê, Olê, Olá, Lula, Lula". "Eu quero dizer que há muitos séculos grande navegadores diziam: "Navegar é preciso, viver não é preciso". Eu agora quero mudar um pouco a letra e vou dizer: Navegar é preciso e viver melhor é muito mais preciso", disse Lula, depois de um pequeno tropeço, no qual trocou a palavra "viver" por "morrer".
"Navegar é preciso, viver não é preciso" era o lema da Escola de Sagres, dedicada aos navegadores do século 15.
Do lado de fora, um grupo de 30 manifestantes da juventude peemedebista protestou durante o evento, com cartazes nos quais era possível ler "Lula ladrão, devolve o "mensalão'".


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