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São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2003

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OPERAÇÃO ANACONDA

Advogados dizem que apenas agora vão poder traçar estratégia para defender seus clientes; juíza-relatora não se manifesta

Após 28 dias, defesa tem acesso a processo

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Demorou 28 dias para que os advogados dos acusados de integrar uma suposta quadrilha de venda de sentenças judiciais tivessem acesso ao teor das denúncias. O processo estava "sob sigilo" até para as nove pessoas presas na Polícia Federal em São Paulo.
Ontem, com o procedimento de 662 páginas em mãos, os advogados afirmaram que somente agora poderão definir uma estratégia de defesa de seus clientes.
"Esse processo ainda está em fase embrionária. Somente hoje [ontem] consegui conversar com o meu cliente sobre os documentos", disse o criminalista Alberto Zacharias Toron, advogado contratado pelo juiz federal João Carlos da Rocha Mattos, preso pela Polícia Federal na última sexta.
Rocha Mattos é acusado de ser o "mentor da quadrilha". No dia 13 de outubro, o magistrado foi denunciado pelo Ministério Público Federal pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção passiva, falsidade ideológica, peculato e prevaricação. "Posso apresentar um pedido de reconsideração de prisão ou um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça, mas ainda não há nada definido", afirmou o criminalista.
Além de Rocha Mattos, outras 11 pessoas também foram denunciadas (acusadas formalmente) pela Procuradoria. Apenas três respondem às investigações em liberdade -os irmãos e juízes Casem e Ali Mazloum e o ex-corregedor da PF Dirceu Bertin.
A demora no acesso aos documentos também prejudicou a defesa de Norma Regina Emílio Cunha, ex-mulher do juiz Rocha Mattos. Somente agora seus advogados dizem conhecer as denúncias contra ela. "Precisamos ler, analisar e definir um caminho na Justiça. Depois, queremos que ela mesma [Cunha] conte sua versão", disse o advogado Paulo Sérgio Santo André.
Alexandre Crepaldi, que ontem leu trechos da denúncia na cela, ao lado de seu cliente, o também advogado Carlos Alberto da Costa Silva, afirmou que as acusações são "frágeis" e "precipitadas". "No caso do meu cliente, a denúncia é extremamente frágil, não há descrição de condutas individuais. Estou desconfiado de que houve uma precipitação por parte dos denunciantes", disse.
Na denúncia, Costa Silva é citado como o procurador de uma offshore uruguaia, dona do apartamento em que mora Rocha Mattos. Ele teria ainda uma "participação direta ou indireta" no uso de documento falso.
A Procuradoria, que ofereceu a denúncia, avaliou ser ruim o fato de a defesa não ter acesso às investigações. A desembargadora federal Therezinha Cazerta foi procurada ontem pela Folha. Um funcionário de seu gabinete, que se identificou como Fábio, disse que a juíza não daria entrevista. Sobre a demora, afirmou que o processo está sob segredo de Justiça.


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