UOL

São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POLÍTICA EXTERNA

Ministro descarta integração militar da América do Sul, mas reforça base de São Gabriel da Cachoeira

Viegas envia mais soldados à Amazônia

GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro José Viegas (Defesa) descartou ontem a possibilidade de o Brasil propor aos seus vizinhos a integração militar dos países da América do Sul. A idéia foi defendida anteontem pelo ministro José Dirceu (Casa Civil) durante o 4º Foro Iberoamérica, que se realizou na cidade de Campos de Jordão, interior de São Paulo.
Viegas afirmou, porém, que governo vai fortalecer a base militar de São Gabriel da Cachoeira (AM), perto da fronteira com a Colômbia, enviando um reforço de 3.000 homens. Reiterou, no entanto, que isso não significa que o Brasil vá mandar tropas para a Amazônia colombiana. "Não estamos falando de utilização conjunta das Forças Armadas na América do Sul. Estamos falando em estabilidade para evitar necessidade do envio de forças estrangeiras à região", declarou.
Viegas afirmou que é importante que os países da América do Sul sejam autônomos no que diz respeito à defesa "para prescindirmos de qualquer apoio externo".

Polêmica
No Foro Iberoamérica, que reuniu empresários, intelectuais, acadêmicos e representantes de países ibéricos e latino-americanos, Dirceu declarou que "não é possível imaginar-se o futuro da América Latina sem os Estados Unidos, mas também não é possível os Estados Unidos permanecerem nessa postura hegemônica".
Apesar de dizer que a idéia ainda é uma "heresia" na região, Dirceu defendeu a integração militar da América do Sul. Segundo relato do jornal "O Globo", o chefe da Casa Civil disse que, se os países da América Latina não se unirem para ajudar a Colômbia, que há 40 anos enfrenta a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), "os Estados Unidos ocuparão a Colômbia. E, se ocuparem, não sairão de lá jamais. Isso quer dizer que estarão ocupando a Amazônia", afirmou.
Os Estados Unidos são os principais aliados do governo da Colômbia no combate às Farc. São eles que financiam o Plano Colômbia, que é o principal programa militar e econômico de combate à guerrilha e ao narcotráfico.
Viegas afirmou desconhecer que os Estados Unidos tenham a intenção de invadir a Amazônia colombiana: "Não conheço nenhum propósito das Farc de invadir o território brasileiro".
Para tentar amenizar o impacto das declarações do ministro-chefe da Casa Civil, Viegas afirmou que o Brasil está conversando com os vizinhos sobre a formação de uma espécie de "pool de compradores" para baratear os custos de aquisição de equipamentos militares, como aviões e carros de combate. Mas disse que as conversas estão em estágio inicial.

Sem recursos
Na verdade, o Ministério da Defesa tem poucos recursos para comprar novos equipamentos. A maior parte de seu orçamento está comprometido com o pagamento de salários.
Segundo Viegas, cerca de 50% dos equipamentos do Exército, da Aeronáutica e da Marinha não estão em condições de serem utilizados. "Cinquenta por cento [dos equipamentos] estão impossibilitados de voar [no caso da Aeronáutica] e de navegar [no caso da Marinha]". O ministro disse que amanhã vai se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar, entre outras coisas, do Orçamento de sua pasta para 2004.
"Precisamos de mais dinheiro, mas não é para jogar bomba em ninguém", afirmou Viegas. Segundo ele, "Forças Armadas bem preparadas e o incentivo à indústria de defesa não são perdas de recursos, e sim ganhos para qualquer país", declarou.


Texto Anterior: Escândalo do TRT-SP: Obra de fórum tarda, mas acaba neste ano
Próximo Texto: América Latina: Encontro na Bolívia deve unir Lula e FHC
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.