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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/A VISÃO DA IGREJA
Para d. Geraldo, presidente "exagera" ao demonstrar otimismo; petista critica antecessores
"É difícil acreditar que Lula não soubesse", afirma CNBB
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Três dias depois de o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva ter negado, mais uma vez, conhecimento
prévio dos esquemas de caixa dois
do PT e do "mensalão", o presidente nacional da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil), dom Geraldo Majella Agnelo, disse que "é difícil aceitar"
esse tipo de declaração. Para ele,
Lula "exagera" ao tentar demonstrar otimismo no governo.
Em entrevista ontem na sede da
CNBB, dom Geraldo afirmou
existir uma "grande tentação" para se criar um clima de impunidade diante das denúncias.
O presidente da CNBB disse que
assistiu a "parte" da entrevista de
Lula ao programa "Roda Viva",
da TV Cultura, na segunda-feira.
Questionado se aceita a explicação de Lula, que disse que não tinha conhecimento das irregularidades, o presidente da CNBB afirmou: "É difícil a gente aceitar".
"Pela posição dele, como presidente, ele deve conhecer quem está ao seu lado, quem são essas
pessoas. Portanto, se cometem alguma coisa, ele deve querer saber
até o fim", disse d. Geraldo. E
completou: "Penso que ele deve
saber, porque é da sua competência. Ele não pode estar alheio ao
que acontece perto de si".
Nesta semana, a crise política foi
tema de discussões em reunião do
conselho permanente da conferência, do qual fazem parte cerca
de 30 bispos. Os religiosos também avaliaram a "crise financeira", a "reação dos movimentos
sociais" por conta da exclusão e o
projeto de transposição das águas
do rio São Francisco.
O tema da corrupção, porém, é
o que mais preocupa a entidade
máxima da Igreja Católica. "Essas
questões precisam ser tratadas
com muita seriedade e também
não podem ser proteladas. É claro
que não se pode condenar nenhum inocente, mas aquilo que é
constatado não pode deixar de ter
o seu julgamento."
Questionado, a seguir, se a
CNBB enxerga um clima de impunidade no país, dom Geraldo
afirmou: "A tentação é grande.
Quando são tantos os que estão
envolvidos, pode parecer que se
crie um clima em que ninguém é
condenado e aí se fazem novos
conchavos para novas uniões para salvar o próprio mandato".
Ainda sobre a entrevista de Lula, dom Geraldo elogiou a capacidade de comunicação do presidente, mas colocou em xeque o
conteúdo de suas respostas. O
presidente da CNBB também criticou aquilo que chamou de "otimismo exagerado" de Lula ao falar de seu governo.
"Eu acho que, de um lado, ele fala muito bem, se comunica muito
bem. Ele também é muito otimista em relação ao próprio governo
dele. É claro que ele [governo federal] tem muitos méritos, mas
eu acredito que exista um otimismo exagerado."
Lula em Minas
Falando de improviso, o presidente Lula criticou ontem seus
antecessores na Presidência. O
discurso foi em frente à prefeitura
petista de Teófilo Otoni, em Minas Gerais. Mesmo sem citar nomes, Lula disse que Fernando
Henrique Cardoso não tem "liga"
com os mais pobres.
Depois de dizer às cerca de 5.000
pessoas presentes que elas elegeram "não um presidente, mas um
companheiro", Lula se voltou
contra o PSDB. "Eu fico olhando
o que fizemos de política social.
Fico olhando o que vamos fazer
na educação neste país na hora
em que o Congresso aprovar o
Fundeb. Aí o pessoal vai dizer:
"Puxa vida, mas passou tanto professor pela Presidência [e] era necessário um metalúrgico para fazer o que nós deveríamos fazer"."
"Possivelmente, todos eles eram
muito mais cultos do que eu, leram muito mais livros do que eu,
eram até mais inteligentes. O que
não tinham era uma ligação sentimental e de coração com os problemas do povo. É uma coisa chamada liga, é uma coisa chamada
sangue", acrescentou Lula.
Colaborou PAULO PEIXOTO, da Agência Folha, em Teófilo Otoni (MG)
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