São Paulo, sábado, 11 de novembro de 2006

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Maiores doadoras a eleitos no Congresso são empreiteiras

Empresas do setor destinaram R$ 24,1 milhões a 254 deputados e 15 senadores

Siderúrgicas e mineradoras vêm atrás; grupo Vale do Rio Doce contribuiu com R$ 6,8 milhões para campanhas vitoriosas ao Legislativo

SILVIO NAVARRO
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Empreiteiras de diversos Estados do país foram as principais doadoras das campanhas vitoriosas ao Congresso Nacional entre as empresas cujo ramo de atividade pode ser identificado nas prestações de contas dos eleitos entregues à Justiça Eleitoral. No total, 254 deputados e 15 senadores declararam terem recebido ao menos R$ 24,1 milhões desse setor.
O número de eleitos que recebeu alguma quantia de construtoras representa quase metade das vagas que estavam em disputa para a Câmara (513) e o Senado (27). Essas doações abrangem praticamente todos os partidos cujos eleitos entregaram a contabilidade à Justiça Eleitoral dentro do prazo.
Os números mostram preferência das empreiteiras por três siglas: PMDB, PT e PSDB, justamente as maiores bancadas da Casa a partir do ano que vem. Os eleitos por essas siglas receberam cerca de R$ 12 milhões das construtoras.
Encabeçam a lista das empreiteiras que mais desembolsaram a Camargo Corrêa (R$ 2,2 milhões), a Construtora OAS (R$ 1,9 milhão) e a Barbosa Melo (R$ 1 milhão). A maioria dos deputados que recebeu dinheiro da OAS é de São Paulo.
O levantamento do perfil dos doadores por bancada foi feito pela Folha a partir da base de dados brutos e parciais do Tribunal Superior Eleitoral. Como o tribunal não exige que a prestação de contas informe a natureza do ramo empresarial, só foi possível analisar aquelas em que a atividade está explícita. Daí a explicação para os doadores da maior parte dos recursos não terem sido rastreados. Na maioria dos casos, a contabilidade informa apenas se tratar de pessoa jurídica, mas não diz a natureza da ocupação.
Na Câmara, dos 513 eleitos, 18 não prestaram contas ao tribunal. No Senado, todos os 27 senadores entregaram os relatórios. Segundo o TSE, entretanto, qualquer dado ainda pode ser corrigido ou somado.
De acordo com os dados fornecidos pelo TSE, os 495 deputados eleitos que prestaram contas informaram terem arrecadado um total de R$ 249 milhões. No Senado, os 27 que assumem mandato no ano que vem disseram ter recolhido R$ 37,4 milhões.

Outros doadores
A análise mostra que outros doadores majoritários foram mineradoras, metalúrgicas, siderúrgicas, bancos, petroquímicas, usinas de álcool e açúcar, empresas ligadas ao agronegócio e pecuária, além da Bolsa de Valores de São Paulo.
As mineradoras investiram ao menos R$ 8 milhões, com destaque para subsidiárias da Vale do Rio Doce -Caemi, Urucum e Mineradoras Brasileiras Reunidas- que, juntas, financiaram parte das campanhas de 51 deputados e três senadores, com investimento de R$ 6,8 milhões. A Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração doou R$ 1,1 milhão para 12 deputados e dois senadores. A CSN doou R$ 500 mil ao ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE).
As siderúrgicas identificadas desembolsaram R$ 10,4 milhões na eleição de parlamentares. Os maiores financiadores nessa área foram o grupo Gerdau, com R$ 2,4 milhões, e a Belgo, com R$ 1,1 milhão.
Uma das maiores contribuições individuais foi a da empresa Centroalcool para o deputado Roberto Balestra (PP-GO). Ele recebeu R$ 1,1 milhão. Balestra é agropecuarista e até fevereiro deste ano foi secretário de Agricultura de Goiás.
O levantamento da Folha identificou um total de R$ 33,5 milhões repassados para os congressistas eleitos por meio de comitês financeiros ou diretórios partidários. Esses dados não são abertos na contabilidade dos parlamentares e constam apenas da prestação isolada de cada comitê.


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