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DF
Soldados só poderão ser convocados a depor sobre Novacap pela Justiça Militar; presidente de IPM é destituído
Juiz proíbe Polícia Civil de ouvir PMs
ANDRÉ SOLIANI
da Sucursal de Brasília
O juiz da Auditoria Militar de
Brasília, Sebastião Coelho da Silva, tomou ontem uma decisão
que dificultou as investigações da
Polícia Civil na apuração dos responsáveis pela ação dos PMs de
Brasília na empresa Novacap, na
semana passada. A decisão provocou críticas do ministro da Justiça, José Carlos Dias.
Coelho da Silva proibiu a convocação de policiais militares para depor no inquérito da Polícia
Civil, presidido por um delegado.
Os PMs deverão apenas prestar
depoimento no Inquérito Policial
Militar, dirigido por um coronel.
O ministro José Carlos Dias criticou a decisão do juiz. "Não vou
polemizar com o juiz que decidiu
emitir esse esdrúxulo despacho."
Na quinta-feira da semana passada, os policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais),
mandados para desobstruir o
portão da Novacap, trancado pelos grevistas, mataram o jardineiro José Ferreira da Silva, cegaram
duas pessoas e feriram mais de 30.
Foram abertos dois inquéritos
para apurar os responsáveis, um
na Polícia Civil, para averiguar os
crimes comuns, e outro na PM,
para os crimes militares. Os policiais envolvidos eram chamados
para depor nas duas investigações
até ontem. Agora, só poderão ser
convocados pelo IPM.
A Polícia Civil poderá apenas
arguir as autoridades civis envolvidas no caso: o governador Joaquim Roriz, o então secretário da
Segurança, Paulo Castello Branco, o secretário de Obras, Tadeu
Filippelli, e o coordenador da Comissão de Planejamento de Operações, Jair Tedeschi.
O juiz afirmou que seu despacho não prejudica a investigação
civil, pois os depoimentos dos soldados ao IPM poderão ser requisitados pela Polícia Civil.
Segundo o ministro, a liminar
do juiz de Brasília é uma prova de
que a Justiça Militar deve ser extinta no Brasil, posição que já defendeu no passado. "Falta imparcialidade para a Justiça Militar julgar os crimes da PM", afirmou.
O depoimento dos soldados é
crucial para elucidar qual foi a ordem dada aos policiais na hora de
entrar em ação. As principais autoridades negaram ter dado a ordem para desobstruir, com violência, os portões da Novacap.
O tenente-coronel Mário Vieira,
que estava à frente da tropa de
choque, afirmou em duas oportunidades que teve "ordens superioríssimas" para entrar em ação.
Não revelou o nome.
A liminar também destituiu da
presidência do IPM o coronel da
reserva José Fernandes Silva Nascimento, chefe de gabinete do Detran do DF e ex-assessor na campanha eleitoral de Roriz para assuntos de segurança pública.
A decisão foi baseada no Código
Penal Militar, que estabelece que a
presidência de um inquérito deve
ser de um militar na ativa. Segundo o juiz, só é possível escolher
um militar da reserva se na ativa
não houver um militar de maior
patente ou igual, mas com mais
tempo de cargo, para conduzir as
investigações. Os sindicalistas
consideraram que a decisão dá
mais transparência às investigações, pois Nascimento era ligado
a Roriz. O novo presidente do
IPM é o coronel Rui Sampaio.
Armas
As investigações da PM mostram que as armas de calibre 12
(uma das quais disparou o tiro fatal) foram trocadas entre os soldados na hora da ação.
Documento da PM ao qual a
Folha teve acesso indica que pelo
menos três escopetas não foram
usadas pelos policiais que retiraram as armas do quartel. Uma delas chegou a trocar de companhia.
Um soldado da Companhia de
Patrulhamento Móvel saiu com a
espingarda, que foi usada por um
oficial da Companhia de Cães.
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