São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

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Com Fox, Lula vai discutir ação contra o subsídio agrícola

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em sua visita de pouco mais de duas horas ao México, hoje, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, irá discutir com o presidente Vicente Fox uma ação coordenada contra os subsídios agrícolas mantidos pelos países desenvolvidos, principalmente os EUA.
A informação é da embaixadora do México no Brasil, Cecilia Soto. Formada em física, ex-deputada e ex-candidata do Partido do Trabalho à Presidência da República, em 1994, ela não vê divergências ideológicas entre o liberal Fox, que foi representante da Coca-Cola no seu país, e o petista e esquerdista Lula. Os dois, segundo ela, não são ortodoxos.
Soto também não vê nada demais na possibilidade de Lula se encontrar com o líder da oposição de esquerda, Cuahutemoc Cárdenas, que, como ele, perdeu três eleições presidenciais.
"Ao contrário. Eu até acrescentaria que [o encontro" faria muito bem aos partidos mexicanos, que têm muito a aprender com a tradição de alianças do Brasil", disse.
(ELIANE CANTANHÊDE)
 

Folha - Qual a expectativa em relação à viagem do presidente eleito, Lula, ao México?
Cecilia Soto -
A expectativa é estreitar ainda mais as relações entre os nossos países, porque os presidentes Fox e Lula se conhecem e conversam desde 1996. Há uma simpatia mútua. Acho importante o presidente Fox transmitir ao presidente Lula a experiência da transição mexicana.

Folha - O que o Lula tem a aprender dessa transição?
Soto -
Uma coisa muito interessante é a estabilidade econômica que conquistamos, mas o Brasil também tem muitas coisas a ensinar ao México. A cultura política brasileira é acostumada às alianças, e nós não estamos acostumados a isso. Nisso, podemos aprender muito do presidente Lula.

Folha - O que há de comum e de divergente no presidente Fox, que é um liberal, e no presidente Lula, que é de esquerda?
Soto -
Eles têm uma agenda muito grande. Primeiro, uma característica que eles compartilham é que nenhum dos dois tem um esquema ideológico muito fixo, rígido. O presidente Lula vem da esquerda, mas não foi doutrinado no marxismo. No caso do presidente Fox, ele tampouco tem um doutrinamento de direita.
É um empresário católico, mas, por exemplo, acompanhou o [atual chanceler" Jorge Castañeda nas reuniões de esquerda da América do Sul. Foi aí que ele conheceu Lula. Então, ele não tem uma ideologia ortodoxa liberal.

Folha - Lula critica muito o modelo neoliberal da América Latina e diz que o continente está à busca de alternativas. Qual a posição do presidente Fox?
Soto -
O presidente Fox vem da oposição. Tanto ele quanto Castañeda fizeram críticas muito importantes a certas modalidades do Nafta [bloco de EUA, México e Canadá] e de outros governos. Ele, portanto, compartilha a idéia da disciplina fiscal, do equilíbrio macroeconômico, mas tem introduzido algumas medidas importantes, por exemplo, de política industrial para doze áreas estratégicas, inclusive na agrícola.
O presidente Fox acha que México e Brasil podem ser aliados muito próximos e bem coordenados na luta contra os subsídios dentro da OMC, por exemplo.

Folha - Esse vai ser um dos pontos fortes da conversa Fox-Lula?
Soto -
Com certeza. Ao desembarcar no México, o presidente Lula já vai notar um ambiente muito parecido com o que há no Brasil em relação aos subsídios.

Folha - E, na negociação da Alca, o que aproxima México e Brasil? A aliança do México com os EUA não fortalece excessivamente os países do Norte nessa negociação?
Soto -
O México não está negociando junto com o Nafta, com os EUA, está negociando como país independente. O Mercosul está negociando como bloco, mas o México, não. O acordo tem que ser benéfico para a maioria.

Folha - Quais os outros pontos?
Soto -
Há muitas coincidências nas mudanças que queremos fazer na arquitetura financeira internacional. Os dois países têm coincidido, por exemplo, na proposta de reforma do FMI, que tem uma contabilidade para os países desenvolvidos e outra para os emergentes.

Folha - Existe, ou existia, a possibilidade de Lula visitar também o adversário de Fox, Cárdenas, líder de esquerda. Isso criaria constrangimentos durante a viagem?
Soto -
Ao contrário. Isso foi exatamente o que o presidente Fox fez quando veio ao Brasil como presidente eleito. Ele visitou Fernando Henrique e o Lula.


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