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Com Fox, Lula vai
discutir ação contra
o subsídio agrícola
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em sua visita de pouco mais de
duas horas ao México, hoje, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da
Silva, irá discutir com o presidente Vicente Fox uma ação coordenada contra os subsídios agrícolas
mantidos pelos países desenvolvidos, principalmente os EUA.
A informação é da embaixadora
do México no Brasil, Cecilia Soto.
Formada em física, ex-deputada e
ex-candidata do Partido do Trabalho à Presidência da República,
em 1994, ela não vê divergências
ideológicas entre o liberal Fox,
que foi representante da Coca-Cola no seu país, e o petista e esquerdista Lula. Os dois, segundo
ela, não são ortodoxos.
Soto também não vê nada demais na possibilidade de Lula se
encontrar com o líder da oposição
de esquerda, Cuahutemoc Cárdenas, que, como ele, perdeu três
eleições presidenciais.
"Ao contrário. Eu até acrescentaria que [o encontro" faria muito
bem aos partidos mexicanos, que
têm muito a aprender com a tradição de alianças do Brasil", disse.
(ELIANE CANTANHÊDE)
Folha - Qual a expectativa em relação à viagem do presidente eleito, Lula, ao México?
Cecilia Soto - A expectativa é estreitar ainda mais as relações entre os nossos países, porque os
presidentes Fox e Lula se conhecem e conversam desde 1996. Há
uma simpatia mútua. Acho importante o presidente Fox transmitir ao presidente Lula a experiência da transição mexicana.
Folha - O que o Lula tem a aprender dessa transição?
Soto - Uma coisa muito interessante é a estabilidade econômica
que conquistamos, mas o Brasil
também tem muitas coisas a ensinar ao México. A cultura política
brasileira é acostumada às alianças, e nós não estamos acostumados a isso. Nisso, podemos aprender muito do presidente Lula.
Folha - O que há de comum e de
divergente no presidente Fox, que
é um liberal, e no presidente Lula,
que é de esquerda?
Soto - Eles têm uma agenda
muito grande. Primeiro, uma característica que eles compartilham é que nenhum dos dois tem
um esquema ideológico muito fixo, rígido. O presidente Lula vem
da esquerda, mas não foi doutrinado no marxismo. No caso do
presidente Fox, ele tampouco tem
um doutrinamento de direita.
É um empresário católico, mas,
por exemplo, acompanhou o
[atual chanceler" Jorge Castañeda
nas reuniões de esquerda da
América do Sul. Foi aí que ele conheceu Lula. Então, ele não tem
uma ideologia ortodoxa liberal.
Folha - Lula critica muito o modelo neoliberal da América Latina e
diz que o continente está à busca
de alternativas. Qual a posição do
presidente Fox?
Soto - O presidente Fox vem da
oposição. Tanto ele quanto Castañeda fizeram críticas muito importantes a certas modalidades
do Nafta [bloco de EUA, México e
Canadá] e de outros governos.
Ele, portanto, compartilha a idéia
da disciplina fiscal, do equilíbrio
macroeconômico, mas tem introduzido algumas medidas importantes, por exemplo, de política
industrial para doze áreas estratégicas, inclusive na agrícola.
O presidente Fox acha que México e Brasil podem ser aliados
muito próximos e bem coordenados na luta contra os subsídios
dentro da OMC, por exemplo.
Folha - Esse vai ser um dos pontos
fortes da conversa Fox-Lula?
Soto - Com certeza. Ao desembarcar no México, o presidente
Lula já vai notar um ambiente
muito parecido com o que há no
Brasil em relação aos subsídios.
Folha - E, na negociação da Alca,
o que aproxima México e Brasil? A
aliança do México com os EUA não
fortalece excessivamente os países
do Norte nessa negociação?
Soto - O México não está negociando junto com o Nafta, com os
EUA, está negociando como país
independente. O Mercosul está
negociando como bloco, mas o
México, não. O acordo tem que
ser benéfico para a maioria.
Folha - Quais os outros pontos?
Soto - Há muitas coincidências
nas mudanças que queremos fazer na arquitetura financeira internacional. Os dois países têm
coincidido, por exemplo, na proposta de reforma do FMI, que tem
uma contabilidade para os países
desenvolvidos e outra para os
emergentes.
Folha - Existe, ou existia, a possibilidade de Lula visitar também o
adversário de Fox, Cárdenas, líder
de esquerda. Isso criaria constrangimentos durante a viagem?
Soto - Ao contrário. Isso foi exatamente o que o presidente Fox
fez quando veio ao Brasil como
presidente eleito. Ele visitou Fernando Henrique e o Lula.
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