São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Presidente dos EUA quer ajuda do Brasil na luta contra o terrorismo

Bush pede o apoio de Lula para luta contra o Iraque

DO ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
DE WASHINGTON

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, pediu o apoio do presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para a luta que trava para tentar tirar do poder o presidente do Iraque, Saddam Husseim.
Segundo a embaixadora dos EUA no Brasil e principal articuladora do encontro entre Lula e Bush, Donna Hrinak, o presidente norte-americano "falou da necessidade de fazer Saddam Husseim cumprir as resoluções das Nações Unidas". A embaixadora declarou que Lula também falou sobre o assunto. "Eles concordaram nisso", afirmou Hrinak.
Na prática, a posição de Lula ajuda Bush a planejar sua ofensiva contra o Iraque. As autoridades petistas avaliam que os Estados Unidos vão iniciar uma guerra contra o Iraque independentemente do sucesso ou fracasso da atual missão da ONU (Organização das Nações Unidas) que inspeciona o arsenal iraquiano em busca de armas químicas e armas de destruição em massa.
Segundo Hrinak, Bush não pediu diretamente apoio à guerra: "O presidente Bush falou da importância de todas as nações democráticas, como o Brasil, lutarem contra o terrorismo".

Combate ao terror
A presença do secretário de Estado, o general Colin Powell, e da conselheira para Segurança Nacional, Condoleezza Rice, tiveram por objetivo, segundo a Folha apurou, mostrar a Lula a importância do apoio dele ao combate ao terrorismo, tema número da 1 agenda de política externa norte-americana. Os dois estão envolvidos diretamente no assunto.
O tema Iraque era considerado pela cúpula petista um dos mais delicados do encontro entre Bush e Lula. Ao PT interessa inaugurar uma nova linha de pragmatismo nas relações com os EUA. O partido sempre foi um crítico histórico do que chamava de belicismo norte-americano e, pressionado pelas dificuldades econômicas que enfrentará no futuro governo, aliviou sua retórica antiamericana em busca de vantagens comerciais e políticas.
Se o Bush der início a uma guerra para tirar Saddam do poder, a tendência do futuro governo Lula será apoiá-lo desde que o presidente dos EUA consiga a chancela oficial da ONU para o ataque. Por enquanto, o PT se limita a dizer que não existe posição sobre esse eventual pedido de apoio.

Cadeira na ONU
O reforço dos organismos internacionais foi um dos pontos abordados por Lula no discurso de Lula no National Press Club (Clube Nacional de Imprensa). Ele pediu uma remodelação do Conselho de Segurança da ONU, com a criação de cadeiras permanentes para um país da América do Sul e outro da África.
No Clube Nacional de Imprensa, o petista pediu apoio dos Estados Unidos para o (TPI) Tribunal Penal Internacional. Os EUA resistem ao TPI porque não querem abrir a possibilidade de ver seus próprios militares julgados por uma corte internacional.
Essa foi uma das poucas partes críticas de Lula em relação à atual política externa norte-americana. Noutro momento, o petista se disse "solidário às vitimas do terror de 11 de setembro" e se mostrou disposto a ajudar no combate ao terrorismo.
O presidente eleito declarou ainda que, no Brasil, o "povo sofre intensamente com o crime organizado, a lavagem de dinheiro e o contrabando de armas e drogas" e que esperava ajuda dos Estados Unidos e dos países ricos no combate a esses problemas.
Ontem à noite, o representante comercial dos EUA, Robert Zoellick, depois de se reunir com Lula, disse que virá ao Brasil no início de 2003 para discutir a implantação Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e o comércio entre os dois países.
(KENNEDY ALENCAR E MARCIO AITH)


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