São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

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NO AR

Nos jardins

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

É a "photo-op", a oportunidade de foto, mais gasta do planeta, há décadas. De primeiros-ministros a ditadores, os protagonistas da história estão sempre lá.
E era Lula quem cumprimentava George W. Bush, ambos sentados, sorrindo, na Casa Branca.
Havia algo de irreal na imagem, um estranhamento que vinha talvez de Lula ser um personagem que jamais se poderia imaginar tão próximo do máximo poder.
Outra cena de causar estranhamento: a da coletiva nos jardins da Casa Branca, com Antonio Palocci e Aloizio Mercadante logo atrás, Marta Suplicy ao lado, os homens de casacos pesados no frio da capital do império.
Nem de longe aquela figura tão formal, de olhar concentrado, lembrava Lula, o metalúrgico, ou Lula, o eterno presidenciável. Nem nas palavras ele lembrava.
Fazia as declarações mais contidas, "foi além das expectativas", "a partir de janeiro podemos fazer uma reunião de cúpula" etc. Depois, no discurso no clube de imprensa, parecia FHC:
- Estou otimista. O Brasil tem meios de superar as dificuldades e retomar o caminho do crescimento sustentado... Meu governo vai se pautar pela responsabilidade fiscal, pelo combate à inflação e pelo respeito aos contratos.
E por aí foi. Só aqui e ali se pôde vislumbrar algo do Lula que ele já foi. Ao dizer que falou com Bush do Fome Zero. Ou ao comentar, falando de seu passado uma última vez:
- Minha história tem sido de luta contra o preconceito. Um diálogo direto entre presidentes, como o que tivemos, pode pavimentar o desenvolvimento das relações...
Pavimentar desenvolvimento das relações... Não é "o" Lula. Trocaram.
 
Semanas atrás, a charge animada do Jornal Nacional trazia Lula às voltas com problemas -e FHC tentando entrar na imagem, chamar atenção, num canto, depois outro.
É o que segue fazendo, ao que parece. Anteontem e ontem, lá estava ele nos EUA, posando ao lado do secretário-geral da ONU, em "photo-op" de menor impacto, mas bastante para os telejornais. E sempre elogiando, questionando, falando de Lula sem parar.
Ontem, poucos cuidaram dele. A Jovem Pan deu que tinha "agenda livre", sem "compromissos para o dia, nem mesmo encontros reservados com autoridades". Talvez um musical na Broadway.


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