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RETÓRICA OFICIAL
Presidente nega que seu governo seja a continuação da gestão FHC
Lula ataca antecessores e diz que chegou a hora da colheita
Evaristo Sá/France Presse
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (centro) discursa na abertura da 8ª reunião ministerial de seu governo, na Granja do Torto |
EDUARDO SCOLESE
JULIA DUAILIBI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na abertura da oitava reunião
ministerial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou seus antecessores, elogiou suas políticas
econômica e externa e, em tom
triunfalista, disse que "a hora do
Brasil chegou": "Temos mais dois
anos pela frente. Hora da colheita
do muito que plantamos; hora de
afirmar com mais ênfase as nossas disposições de continuar persistindo criativamente em nossas
políticas econômica e social".
O presidente não citou os antecessores nominalmente, mas falou em décadas de "marasmo":
"Este país necessita, depois de décadas de marasmo e desencanto,
de desenvolvimento. Essa palavra, por tantos anos esquecida,
ocupa hoje e ocupará sempre o
centro de nossas preocupações".
Para uma platéia de 35 ministros e líderes da base aliada no
Congresso, Lula, que falou por 20
minutos, mandou um recado para os críticos: disse que a política
econômica de seu governo colocou o país num rumo certo e pediu que não haja ilusões diante de
suas prioridades de governo:
"Que não se confunda paciência e
cordialidade com passividade".
"Que ninguém se iluda sobre as
prioridades deste governo. Elas
vão na direção de uma grande
transformação econômica e social do país. Que ninguém se iluda
sobre a minha fidelidade a minhas origens", declarou. A reunião prossegue hoje, quando o
presidente e os ministros definirão formas de remanejar verbas
para os programas apontados ontem como prioritários em 2005.
Lula fez breve improviso no início: cumprimentou os ministros,
agradeceu o "sacrifício" da primeira-dama Marisa Letícia nestes
dois anos "árduos", convidou os
críticos para o "diálogo" e elogiou
o Congresso, o Judiciário e as Forças Armadas. "Disse que iríamos,
primeiro, fazer o necessário; faríamos, depois, o possível, para enfrentar, mais tarde, o impossível.
Penso que fizemos o necessário,
parte do possível e, talvez, mesmo
algo do impossível", afirmou.
Mudanças
Lula disse que, ao contrário do
que pregam seus opositores e até
setores da base aliada, seu governo não é uma "continuidade" da
administração de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002): "Não
demos continuidade às políticas
do governo anterior, fizemos o
que deixou de ser feito".
"Nestes 24 meses, vivemos intensamente a dramática situação
do país, principalmente o desaparelhamento do Estado. Herdamos
uma máquina administrativa ineficiente, desprovida, em boa parte, do sentido republicano, sem
vocação para realizar políticas em
proveito da maioria." Sua gestão,
disse, impediu uma "catástrofe
anunciada": "Revertemos um
processo que nos conduzia ao
abismo. A catástrofe anunciada
por alguns, aqui e lá fora, não se
produziu. Fomos capazes, governo e sociedade, de impedi-la".
Lula justificou a política econômica. "Em lugar de vultosos déficits nas contas externas, hoje exibimos significativos superávits."
E prosseguiu: "As medidas de política econômica adotadas, algumas amargas, outras incompreendidas ou criticadas, permitiram pôr o país no rumo certo".
Diante do anúncio do avanço de
5,3% do PIB entre janeiro e setembro deste ano, Lula rebateu os
críticos: "Não se trata de uma bolha, de um espasmo. Anuncia-se
um processo consistente e duradouro, posto que o investimento
cresce e a inflação vai sendo controlada". Na reunião, discutiu-se
ainda a tensão social e o reconhecimento de que alguns programas
terão de ser priorizados em razão
da insuficiência de recursos.
Lula classificou a área social de
"obsessão" de seu governo e criticou os antecessores. "Recessões
ou crescimentos medíocres aprofundaram, sobretudo, a enorme
brecha social que marca nosso
país." Disse que o Fome Zero tem
papel fundamental para atenuar a
crise social que vivemos: "Elas
[políticas sociais] contribuem para a aceleração do crescimento
econômico com distribuição de
renda. Não podem ser assim confundidas com medidas compensatórias ou apenas filantrópicas".
Reconheceu falhas na fiscalização do Bolsa-Família. "O governo
está zelando para que os problemas que o Bolsa Família teve em
sua implementação sejam corrigidos de forma exemplar." Encerrou o discurso enaltecendo sua
equipe e dizendo que a hora do
Brasil chegou. "Este é um governo
de homens e mulheres probos, capazes e dedicados. Todos estamos
imbuídos do sentimento de que a
hora do Brasil chegou. Esta hora é
a hora do desenvolvimento, do
crescimento econômico com geração de empregos, distribuição
de renda e inclusão social."
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