São Paulo, sábado, 11 de dezembro de 2004

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BASTIDOR

Presidente avalia que insatisfeitos devem se transferir para a oposição

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Ao encerrar ontem o primeiro dia da reunião ministerial que acaba hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou um duro recado a ministros e aliados, inclusive do PT, que criticam os rumos do seu governo. Segundo relato obtido pela Folha, o presidente disse que quem quiser ser oposição que procure outro lugar.
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), último a falar antes de Lula, previu um cenário externo mais adverso para a economia brasileira em 2005 em relação a 2004. Segundo a Folha apurou, ele disse que o crescimento econômico do país dependerá mais dos nossos esforços, ao reconhecer que o aumento do PIB neste ano acima do esperado contou com o apoio de fatores externos.
Palocci disse que o Brasil poderia "até dispensar" um novo acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Mas ressaltou que será uma decisão "política" a ser tomada em fevereiro ou março, o que aumenta a chance de entendimento com o Fundo.
A palavra de ordem nas intervenções da reunião ministerial foi "desenvolvimento" para gerar emprego e renda. Não faltaram também elogios à política econômica, mas com a ressalva de que a vulnerabilidade externa, como apontou o próprio Palocci, não está totalmente superada.
Discretamente, alguns ministros pediram mais verbas. Nos discursos, houve várias referências ao "déficit social".
O recado de Lula cobrando "unidade" entre os membros do governo teve endereços certos: ministros petistas que reclamaram recentemente da política econômica, parlamentares do PT que batem em Palocci e os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Coordenação Política).
Insatisfeito com seu enfraquecimento no governo, Dirceu tenta retomar a articulação política com aval da cúpula petista, ou dá-la a um aliado, como o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). Nessa guerra, Dirceu e Aldo trocam farpas.
Na parte política, Lula defendeu a importância do diálogo e pediu que os ministros se esforcem para abrir e melhorar canais com o Congresso e com os partidos. Na quarta, o governo sofreu um revés no PMDB, que faz convenção amanhã na qual tende a pedir que seus ministros entreguem os cargos. A decisão deverá ser desrespeitada, mas trará desgaste.
O coordenador da reunião foi Dirceu, que controlava o tempo dos quatro ministros escolhidos como relatores de blocos de temas. Após cada fala, os ministros comentavam o teor do relatório.
Tanto Celso Amorim (Relações Exteriores) como Márcio Thomaz Bastos (Justiça), que tiveram seus desempenhos elogiados, reclamaram de orçamentos apertados. Bastos, inclusive, lembrou que vários governos anteriores haviam prometido construir penitenciárias federais, mas só agora elas estão sendo feitas -a duras penas.
O próprio Lula fez intervenções pontuais. Numa delas, defendeu investimentos na infra-estrutura do país e especificou que ser preciso melhorar os aeroportos.
O tom, em geral, foi de otimismo na oitava reunião ministerial do governo, a terceira deste ano. Começou ontem e continua hoje. Depois, haverá um churrasco com Lula na Granja do Torto. Na sessão de hoje, Dirceu deve detalhar os projetos prioritários para 2005 em debate pela manhã.


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