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BASTIDOR
Presidente avalia que insatisfeitos devem se transferir para a oposição
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Ao encerrar ontem o primeiro
dia da reunião ministerial que
acaba hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou um duro recado a ministros e aliados, inclusive do PT, que criticam os rumos do seu governo. Segundo relato obtido pela Folha, o presidente disse que quem quiser ser
oposição que procure outro lugar.
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), último a falar antes
de Lula, previu um cenário externo mais adverso para a economia
brasileira em 2005 em relação a
2004. Segundo a Folha apurou,
ele disse que o crescimento econômico do país dependerá mais
dos nossos esforços, ao reconhecer que o aumento do PIB neste
ano acima do esperado contou
com o apoio de fatores externos.
Palocci disse que o Brasil poderia "até dispensar" um novo acordo com o FMI (Fundo Monetário
Internacional). Mas ressaltou que
será uma decisão "política" a ser
tomada em fevereiro ou março, o
que aumenta a chance de entendimento com o Fundo.
A palavra de ordem nas intervenções da reunião ministerial foi
"desenvolvimento" para gerar
emprego e renda. Não faltaram
também elogios à política econômica, mas com a ressalva de que a
vulnerabilidade externa, como
apontou o próprio Palocci, não
está totalmente superada.
Discretamente, alguns ministros pediram mais verbas. Nos
discursos, houve várias referências ao "déficit social".
O recado de Lula cobrando
"unidade" entre os membros do
governo teve endereços certos:
ministros petistas que reclamaram recentemente da política econômica, parlamentares do PT que
batem em Palocci e os ministros
José Dirceu (Casa Civil) e Aldo
Rebelo (Coordenação Política).
Insatisfeito com seu enfraquecimento no governo, Dirceu tenta
retomar a articulação política
com aval da cúpula petista, ou dá-la a um aliado, como o presidente
da Câmara, João Paulo Cunha
(PT-SP). Nessa guerra, Dirceu e
Aldo trocam farpas.
Na parte política, Lula defendeu
a importância do diálogo e pediu
que os ministros se esforcem para
abrir e melhorar canais com o
Congresso e com os partidos. Na
quarta, o governo sofreu um revés
no PMDB, que faz convenção
amanhã na qual tende a pedir que
seus ministros entreguem os cargos. A decisão deverá ser desrespeitada, mas trará desgaste.
O coordenador da reunião foi
Dirceu, que controlava o tempo
dos quatro ministros escolhidos
como relatores de blocos de temas. Após cada fala, os ministros
comentavam o teor do relatório.
Tanto Celso Amorim (Relações
Exteriores) como Márcio Thomaz
Bastos (Justiça), que tiveram seus
desempenhos elogiados, reclamaram de orçamentos apertados.
Bastos, inclusive, lembrou que vários governos anteriores haviam
prometido construir penitenciárias federais, mas só agora elas estão sendo feitas -a duras penas.
O próprio Lula fez intervenções
pontuais. Numa delas, defendeu
investimentos na infra-estrutura
do país e especificou que ser preciso melhorar os aeroportos.
O tom, em geral, foi de otimismo na oitava reunião ministerial
do governo, a terceira deste ano.
Começou ontem e continua hoje.
Depois, haverá um churrasco
com Lula na Granja do Torto. Na
sessão de hoje, Dirceu deve detalhar os projetos prioritários para
2005 em debate pela manhã.
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