São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 2001

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AMAZONAS

Raul Jungmann diz que há esquema de lavagem de dinheiro embutido em transações de terras da União griladas

Para ministro, tráfico e grilagem têm elo

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, afirmou ontem que há um esquema de lavagem de dinheiro do narcotráfico embutido nas grandes transações de terras da União griladas na Amazônia.
O ministro esteve em Manaus, durante uma passagem por diversos órgãos responsáveis pelo combate à grilagem.
"O narcotráfico apóia a grilagem de terras porque efetivamente temos nos nossos cadastros empresas fantasmas que vão bater em narcotraficantes. A partir de provas apresentadas pela Polícia Federal, temos absoluta clareza de que a compra e venda de áreas gigantescas está relacionada à lavagem de dinheiro do narcotráfico", disse Jungmann.
Ele citou o comerciante Falb Saraiva de Farias, apontado pelo Incra como proprietário de 10 milhões de hectares na região amazônica, como participante do esquema. "Falb Saraiva de Farias é um golpista qualquer. É preciso investigar quem está por trás. Ele (Farias) é, em grande medida, um laranja", afirmou.
Procurado pela Agência Folha, Falb Farias afirmou que não iria comentar as acusações. "Só falo na Justiça. Ele vai ter que provar."
Durante sua ""blitz" em Manaus, Jungmann não poupou críticas ao ex-corregedor de Justiça do Amazonas e atual vice-presidente do Tribunal de Justiça, Daniel Ferreira da Silva. Ele é investigado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) por suposto envolvimento num esquema de venda de sentenças a narcotraficantes.
Segundo o Incra, Ferreira autorizou, no ano passado, a manutenção de escrituras em nome de Falb Farias e outro acusado de grilagem, Mustafa Said.
Jungmann disse que Ferreira sabia da grilagem e do envolvimento com o narcotráfico quando o Incra solicitou a anulação de registros de escrituras de terras. Em uma das áreas, em Pauini, oeste do Amazonas, a Polícia Federal detectou há cinco anos uma pista usada por traficantes.
"Está provado que ele (Ferreira) sabia dos fatos e não tomou as providências necessárias", disse Jungmann, que mostrou a cópia de um ato administrativo assinado pelo desembargador em 27 de janeiro de 2000 autorizando o cartório de Pauini a registrar escritura em nome de Said.
Um dos filhos de Said, que preferiu não se identificar, disse que o local onde foi encontrada a pista clandestina não pertencia à sua família. "São terras do Incra", disse, afirmando que seu pai não estava em Manaus ontem.
Em entrevista, o desembargador negou a existência do documento (leia texto nesta página).
Acompanhado do ministro-chefe do Gabinete da Segurança Institucional, Alberto Cardoso, do diretor-geral interino da PF, Wilson Salles Damázio, e do presidente da CPI da Grilagem de Terras da Câmara, deputado Luciano Castro (PFL-RR), Jungmann anunciou que pode reaver 6.895.223 hectares dos 10.861.784 hectares das terras registradas em nome de Falb Farias.
O comerciante afirma que comprou as terras do espólio da viúva Maria Luiza Hidalgo Lima Barros, em 1979. Ele foi o procurador dela na venda de outras áreas para empresas do próprio comerciante (veja mapa nesta página).
Ontem, o deputado Castro apresentou uma cópia da procuração, na qual a assinatura de Maria teria sido falsificada, e disse que a CPI será transferida para Manaus em fevereiro.
Jungmann, que voltou ontem a Brasília, disse que o próximo passo é conseguir as terras de volta e a prisão de Farias.
"Não importa se ele (Farias) tem 6 ou 10 milhões. Ele vai parar na cadeia", afirmou o ministro.


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