São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 2001

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REELEIÇÃO

Nova investigação vai apurar se ex-deputados cometeram crimes de corrupção e de improbidade administrativa

PF faz nova apuração sobre compra de voto

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

A Polícia Federal no Acre abriu ontem inquérito policial para apurar a participação de ex-deputados federais em um suposto esquema de suborno para aprovar, em 1997, a emenda constitucional que permite a reeleição.
Além dos ex-deputados Ronivon Santiago, Osmir Lima, João Maia e Chicão Brígido, será intimado a depor o empresário Narciso Mendes -apontado pelo procurador da República Marcus Vinícius Aguiar Macedo como o "único suspeito" de ter gravado os diálogos nos quais ex-parlamentares afirmam ter recebido R$ 200 mil, em dinheiro, para votar a favor da emenda.
As conversas entre os ex-deputados Santiago e Maia foram gravadas por uma pessoa que conversou com eles, mas não quis se identificar. A Folha publicou com exclusividade, em 1997, os diálogos. O interlocutor foi identificado então como ""Senhor X".
"Narciso Mendes é por enquanto o único suspeito de ser o "Senhor X". Mas isso só será provado com o trabalho de investigação da Polícia Federal", disse o procurador.
O ex-governador do Acre Orleir Cameli e seu irmão Eládio, citados no despacho do Ministério Público Federal entregue anteontem à PF, também serão interrogados.
A Folha divulgou gravação na qual Santiago dizia ter votado a favor da emenda da reeleição em troca de dinheiro. Na gravação, ele afirmou ainda que mais quatro então deputados do Acre (João Maia, Zila Bezerra e Osmir Lima, à época do PFL, e Chicão Brígido, do PMDB) também venderam o voto. A deputada Zila Bezerra não foi citada no despacho.
A divulgação das fitas provocou a abertura de investigação na Câmara dos Deputados. Ronivon e Maia foram expulsos do PFL e renunciaram para evitar a cassação.
Os outros foram inocentados pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara em outubro de 1998. Em junho do ano passado, a Justiça determinou a quebra do sigilo bancário dos acusados.
De acordo com o superintendente da PF no Acre, Ney Ferreira de Souza, todos as pessoas citadas no despacho serão intimadas a depor em até 30 dias.
A PF vai investigar se houve, por parte dos ex-deputados, corrupção e improbidade administrativa. Não há prazo para o trabalho.
Antes disso, a Polícia Federal irá pedir as fitas originais à Folha. "Caso o jornal alegue sigilo de fonte e não queira entregar as fitas, teremos de acionar a Justiça Federal para conseguir o material", afirmou Souza.
Em 1997, a Folha não divulgou para Câmara as fitas na íntegra para preservar o sigilo da fonte, um direito constitucional.
A Agência Folha tentou localizar ontem as pessoas citadas no despacho do procurador, mas não obteve sucesso.
O empresário Narciso Mendes, dono do grupo Rio Branco de Comunicações, está em férias com a família em Miami (EUA) e só retorna ao Brasil no próximo dia 20, segundo assessores.


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